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"A nova diretiva da distribuição vem no sentido de cuidarmos da forma como as coisas são apresentadas e posteriormente assumidas pelos clientes, querendo garantir que efetivamente a informação é adequadamente dada, que em produtos financeiros a literacia existe e as pessoas sabem efetivamente o que estão a fazer", começou por referir Luís Ferraz, CEO da Prévoir-Vie. Não deixou, no entanto, de sublinhar que "nos últimos anos, nos inquéritos de satisfação dos clientes as seguradores aparecem à frente dos bancos".
A sua experiência seguradora permite-lhe detetar algumas mudanças. Por exemplo, a volatilidade nos seguros de vida "faz com que o seguro, pensado normalmente para uma dimensão de médio-longo prazo, tenha hoje uma relação de ano a ano". Por outro lado, "nos seguros de vida a customização ou o tailor-made ou a resposta para um conjunto de satisfações que tem que ver com aquela pessoa e com aquele agregado, não pode ser um tratamento standard, cego, universal e abstrato, mas tem de ir às verdadeiras e concretas necessidades das pessoas".
Presidente da Associação Portuguesa de Seguradoras
Rogério Dias, CEO da Generali, refere que, à medida que as seguradoras lançam as apps, novos serviços, convertem coberturas em fixers, em soluções, notificações, sms. Haverá um diálogo mais direto com a seguradora e o cliente poderá comprar os serviços. Mas, por enquanto, "cerca de 60% de um produto automóvel ou habitação é comprado no balcão de um agente. Isto porque mesmo o simples seguro automóvel não é uma commodity".
Mais ações judiciais
Nuno Luís Sapateiro, associado coordenador da área de Seguros de PLMJ, afirmou que "quando se percorrem as alíneas do processo de venda segundo a nova directiva, a pergunta que surge é até que ponto o consumidor quer toda a informação e se sabe quantas alíneas têm de ser referidas. Claro que é preciso garantir que os agentes cumprem os requisitos da diretiva". Chamou ainda à atenção que "quanto mais se regula e mais se detalha, mais risco há no futuro de haver ações judiciais".
Criou-se um potencial de responsabilização no agente e na seguradora que pode ter efeitos perniciosos, porque o consumidor, ao mesmo tempo que está mais protegido em termos de informação, também está mais protegido em termos de reclamação futura. Por isso, considerou que "a literacia é fundamental, mas se os agentes, as mediadoras e as seguradoras têm de prestar toda a informação, também os clientes têm de perceber a informação que lhes está a ser dada porque não se pode exigir que o agente seja uma espécie de professor".
Para Rogério Dias, "é um verdadeiro desafio porque, por um lado, queremos simplificar o processo, queremos produtos mais simples, mais smart, mais fast, mas depois existe a diretiva da distribuição, o RGPD".
Na parte digital o segurador vai garantir que, em nome da transparência consegue chegar ao consumidor final com o garante de toda a regulamentação e legislação em vigor. Salienta que o facto de não haver exclusividade nem limitação do número de seguradoras por agente implica "uma falta de controlo na distribuição de um mediador, que tem de dar o garante que consegue cumprir com toda esta legislação".
Considera "um grande desafio a implementação desta diretiva nas componentes da formação nos produtos que não são commodities, que vão desde soluções vida a não-vida".
"Há muitas formas de minimizar o risco da venda, é verdade que aumentou a complexidade, e quem distribui, como a Liberty, através de uma rede de mediação, tem desafios com essa distribuição, mas há muitas formas de minimizar o risco, de selecionar e de fazer com a mediação o que as seguradoras já fazem com as suas carteiras de riscos, que é olhar para onde está o verdadeiro risco e tentar minimizá-lo", concluiu Paula Neto.