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Sampaio da Nóvoa: "O Presidente pode puxar por Portugal. Eu serei o saca-rolhas"

Sampaio da Nóvoa foi o segundo candidato a estar na Redacção Aberta. Acredita que pode ir à segunda volta das eleições presidenciais.

Negócios 23 de Novembro de 2015 às 00:01
Miguel Baltazar
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Sampaio da Nóvoa pega na metáfora de um vice-reitor da Universidade Nova,  fã da Fórmula 1, para descrever o país que somos e o Portugal que deseja. Esse vice-reitor, a assistir a uma corrida, "dizia que o carro tinha uma grande potência mas que havia ali qualquer coisa que não lhe permitia ‘pôr os cavalos no asfalto’. Acho que Portugal já tem muitos cavalos mas falta-nos, às vezes, a capacidade de equilíbrio. Eu estou totalmente virado para construir um país que tenha os jovens lá dentro".

"Os cavalos" que Sampaio da Nóvoa quer colocar no "asfalto" para que se construa um Portugal diferente  são o conhecimento e a inovação. "O país que eu quero é muito virado para o futuro. Muito virado para promover a livre iniciativa das pessoas, das instituições, das empresas". E se os "problemas financeiros são importantíssimos", aqueles que mais mobilizam são "os problemas económicos, do ponto de vista da produtividade e da competitividade".

O que eu espero ser capaz também nesta candidatura é conseguir que muita gente diferente acredite na mesma coisa. E esse acreditar na mesma coisa é acreditar num Portugal diferente.
António Sampaio da Nóvoa
Qual o papel reservado a Sampaio da Nóvoa, caso chegue a Belém? O candidato recorre a outra imagem, captada no Minho, onde encontrou um "outdoor" a promover o vinho verde com o slogan "ainda há quem puxe por este país",  para responder. "A metáfora do puxar. Eu acho que o Presidente pode puxar por Portugal e elevar estas dinâmicas".

Para Sampaio da Nóvoa, a par do presente, o Presidente da República "tem que ter na cabeça o mapa do futuro e tem de ser capaz de promover, em cada momento, esse futuro que queremos ter. Se há uma coisa que me traz a este combate das presidenciais é isso: é  eu sentir que poderei ser capaz de tentar puxar por essa visão do país, seja nas instituições ou nas empresas".

"Eu serei o saca-rolhas" dessas dinâmicas, promete Sampaio da Nóvoa, retomando a metáfora do vinho verde e animado pelas pessoas que na rua lhe dizem: "há muitos anos que não vou votar, mas desta vez vou votar com gosto, sinto vontade de votar, apetece-me votar em si".

Melhores soluções para pagamento da dívida

"É preciso encontrar soluções melhores para o pagamento da dívida. Não tenho dúvidas nenhumas sobre essa matéria", defende Sampaio da Nóvoa. O candidato a Belém lembra que foi um dos subscritores do Manifesto dos 74. Este documento, lançado para o debate público em Março de 2014, tinha como lema "reestruturar a dívida insustentável e promover o crescimento, recusando a austeridade".

Admitindo que reestruturação "é uma palavra que está saturada do ponto de vista dos seus sentidos" e que, por estas circunstâncias, "é difícil de utilizar na medida em que se deduz dela um conjunto de coisas que eu não quero deduzir", diz que há um caminho a ser feito. Aliás, recorda, "alguma coisa ou muito já tem sido feito nos últimos meses, graças também há intervenção do Banco Central Europeu, como é evidente".

Felizmente na minha candidatura tenho gente diversa como o Ramalho Eanes, o Mário Soares, o Jorge Sampaio e o Jorge Miranda. Gente com maneiras de pensar diferente mas que se estão
a encontrar num projecto.
António Sampaio da Nóvoa
Para o candidato presidencial, a abordagem à reestruturação da dívida pública não é linear. "Há muitas maneiras de o fazer para poder suavizar, alterar, ter uma outra lógica no pagamento dessa dívida e julgo que todos os sinais na Europa estão aí. Sobre a relação dos diversos países com o próprio Tratado Orçamental e algumas das suas metas, estão todas em cima da mesa e vão-se tornar muito nítidas ao longo de 2016".

Sampaio da Nóvoa acredita nesta viragem, visto que actualmente existe uma "percepção das consequências negativas das políticas de austeridade. É hoje reconhecido, mais ou menos por toda a gente, a necessidade de um novo ciclo político no espaço europeu".

"Sou europeu, tenho enormes discordâncias"

Uma das críticas a um Governo do PS, com apoio do BE e do PCP, é a de que não está claro que António Costa respeitará os compromissos assumidos com o Tratado Orçamental.

Sampaio da Nóvoa discorda. "Ouvi em todos os lados e li em todos os lugares que assume esse compromisso dentro do quadro europeu. E isso é muito importante para todos nós. Portugal, eu pelo menos não estou disponível, para me transformar outra vez numa jangada que se solta para o meio de coisa qualquer coisa".

Esse ambiente europeu em que Portugal se deve posicionar, não está em risco, considera o candidato presidencial. "De tudo o que li até agora não vi ninguém a pôr em causa isso. Independentemente das opiniões que a título programático partidos como PCP e o BE possam ter em relação a isso, não é isso que está em causa, dito pela boca dos próprios".

É preciso mais liberdade das instituições. É preciso dizer às pessoas: mobilizem-se em função
de determinados objectivos.
António Sampaio da Nóvoa
Questionado sobre se admite uma violação do Tratado Orçamental, a resposta é não. Mas um não com nuances. "Todos concordaremos  que o Tratado Orçamental tem uma dimensão económica e financeira e tem uma dimensão política também. E essa dimensão política vai estar em jogo nos próximos anos. Nenhum de nós tem dúvidas sobre essa matéria".

É precisamente nesta dimensão política que Sampaio da Nóvoa centra atenções, porque "o Sul perdeu voz dentro da Europa". Por isso, acrescenta, "é preciso recolocar a voz do Sul europeu na Europa. E acabou a história de sermos bons alunos. Nós temos que saber o que queremos na Europa".

O candidato a Belém ilustra a sua opinião com aquilo que se passa nas áreas da ciência e da tecnologia, consideradas vitais para o futuro de Portugal. "Todos os documentos europeus dizem que foi isto que fizeram os países desenvolvidos. Ora, Portugal ainda hoje é um contribuinte líquido para o orçamento da ciência e da inovação na Europa. Nós damos mais dinheiro para esse orçamento do que aquele que recebemos. Não faz sentido nenhum".
CV
António manuel seixas sampaio da nóvoa nasceu a 12 de Dezembro de 1954 em Valença. Doutorado em Ciências da Educação e em História Moderna e Contemporânea, é professor catedrático do Instituto de Educação da Universidade Nova de Lisboa e reitor honorário desta instituição. Tem um longo percurso académico com passagens por universidades como as de Genebra, Paris V, Wisconsin, Oxford e Columbia. De 1996 a 1999 foi consultor para os Assuntos da Educação da Casa Civil de Jorge Sampaio, então Presidente da República. Entre Maio de 2006 e Julho de 2013 foi reitor da Universidade de Lisboa, tendo promovido a fusão desta com a Universidade Técnica de Lisboa, a qual foi concretizada em 2012. Em 2005 foi agraciado com a grã-cruz da Ordem da Instrução Pública.
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