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Sampaio da Nóvoa: O candidato por "conta própria"

Apesar de recordar que nenhum Presidente foi eleito sem máquina partidária, Sampaio da Nóvoa acredita que chegou o momento de haver um chefe de Estado sem essas filiações.

Negócios 22 de Novembro de 2015 às 18:30
Miguel Baltazar
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Não é uma candidatura contra os partidos. Mas é um candidato sem apoio partidário. "Acredito que chegou a altura de ter um Presidente que não tenha essa extracção partidária", começou por dizer António Sampaio da Nóvoa, na Redacção Aberta do Negócios, salientando que "há um momento em que há uma dimensão da intervenção pública, política, que pode ir além dos partidos. Estou convencido que chegou essa fase. Muitos episódios recentes mostram a necessidade de haver alguém que não venha de uma determinada família, que não tenha essa pertença a determina família, que cria sempre laços e ligações, que em determinados momentos podem influenciar a isenção, independência, a imparcialidade". Imparcialidade é, pois, uma promessa que faz desde já. Faz, ainda assim, a ressalva que "não há democracia sem partidos e, portanto, nunca me ouvirão fazer nenhum tipo de discurso populista, semi-populista, demagógico sobre isso". A independência partidária pode trazer vantagens, mas como Sampaio da Nóvoa faz questão de lembrar: "nenhum Presidente da República foi eleito sem uma máquina partidária".

Houve toda uma estratégia muito cuidadosa, muito montada para que houvesse só um candidato à direita. Preferia que houvesse mais e que as pessoas tivessem mais escolhas.
António Sampaio da Nóvoa
Assume-se, ainda assim, "político", mas sem amarras. Como ouviu alguém dizer: é "aquele que quer ser Presidente por conta própria". Não se dirigiu a partidos a pedir apoio. "Mas sempre disse que todos os apoios são bem-vindos. Se quero o apoio do PS? Quero. Se quero o apoio do PSD? Também quero. Se quero o apoio do BE? Também quero. Eu quero todos os apoios que me possam dar. E não negarei nenhum apoio".

Preservar a estabilidade das instituições

Decidir manter um Governo em gestão é, até, inconstitucional, assume António Sampaio da Nóvoa para quem não é, pois, uma decisão possível. Pedindo celeridade ao Presidente - já que não se ganha nada "em criar um clima de maior instabilidade - o candidato a ocupar a cadeira de Cavaco Silva lembra que o Governo de Passos Coelho e da coligação de direita foi chumbado na Assembleia da República. Dada a dupla impossibilidade de convocar eleições - Parlamento foi recentemente eleito e Presidente está em fim de mandato - "é evidente que tem de prevalecer a lógica da maioria parlamentar, não vejo outra lógica que possa prevalecer a não ser o entendimento em sede parlamentar". 

É por isso que não tem dúvidas em afirmar que "daria posse a um Governo com maioria parlamentar fosse ele qual fosse. Fosse uma maioria parlamentar à esquerda, como aquela que se desenha hoje, fosse uma maioria parlamentar à direita, fosse uma maioria parlamentar ao centro". Volta a assumir a sua imparcialidade, acreditando que os acordos existentes entre os partidos de esquerda serão "suficientes para podermos iniciar essa viagem". Assumindo-se europeísta, Sampaio da Nóvoa assume que "tudo o que li até agora, não vi ninguém a pôr em causa isso.

Independentemente das opiniões que a título programático partidos como o PCP ou BE possam ter. O meu ponto de partida tem de ser um ponto de partida de boa-fé negocial". Deixa, além disso, uma promessa: "terão em mim sempre um Presidente que procurará levar até ao limite a estabilidade das instituições, quer a instituição seja a Assembleia da República, quer seja a instituição Governo". E por isso não tem dúvidas em afirmar que se a 9 de Março, quando o Presidente tiver plenas funções, "houver um Governo em funções com uma maioria parlamentar a apoiá-lo e a funcionar normalmente não há razão para convocar eleições".

O que tem a fusão das universidades parecido com a candidatura?

A fusão da Universidade de Lisboa com a Universidade Técnica de Lisboa é a sua grande obra. Da qual fala sempre que pode, para assumir, no entanto, que "encontrarão em mim sempre uma pessoa insatisfeita". Admite que gostaria de ter ido mais longe e, por isso, até entende algumas das críticas que foi uma fusão mais formal do que efectiva. Um outro candidato à Presidência, Henrique Neto, tinha atirado a crítica na Redacção Aberta do Negócios. Sampaio da Nóvoa não se deixa ficar. "É um processo que começou da melhor maneira possível. É difícil imaginar um processo com toda a gente a dizer que era impossível e que, em dois anos, se transformou num processo em que toda a gente está a favor e quem tem resistências é porque não se foi longe o suficiente". Por isso acrescenta: "óptimo! Então vamos mais longe". Mas lembra que a Universidade de Lisboa é uma referência em Portugal e "muito bem situada" a nível internacional. "Acho um projecto fantástico".

A fusão, conta, foi um processo pensado. "Pensei muito, li muito, reflecti muito. Li textos de há 100 anos, de há 80 anos, conversei com muita gente", mas "no momento em que eu entendi que era preciso fazer, era para fazer. Podia estar sozinho, mas no momento em que decidi que ia ser feito, iria ser feito. E foi. Nesta candidatura aconteceu a mesma coisa. Eu hesitei muito, ouvi muita gente, conversei com muita gente. Percebi que no dia em que decidi, estava decidido e não  volto atrás". É um traço da sua personalidade: "sou de uma determinação inquebrantável".

Parece-me muito improvável que não haja uma segunda volta nestas presidenciais. As pessoas vão perceber a necessidade dessa segunda volta e eu acredito que vou estar nessa segunda volta. E que vai acontecer o mesmo que em 1986 [Mário Soares ganhou na segunda volta]. Julgo que Portugal precisa que isso aconteça.
António Sampaio da Nóvoa
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