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As empresas portuguesas estão mais capitalizadas

Para aumentar as exportações, sugeriram-se entre outros incentivos financeiros e fiscais para as empresas exportadoras, a formação e consultadoria, a desburocratização, incentivos à inovação e a redução dos custos das empresas associados às remunerações do trabalho.

Filipe S. Fernandes 13 de Novembro de 2023 às 14:00
O debate ‘O Desígnio das Empresas Portuguesas’, foi moderado por Diana Ramos e contou com a presença de Andrés Baltar, Gonçalo lobo Xavier, Mário Simões. Duarte Roriz
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"Temos uma encomenda pronta a carregar que tinha sido definida na quinta-feira antes do ataque do Hamas e que está em Penela à espera de luz verde e, na minha cabeça, já não faz parte dos números para este ano. A Ucrânia também era um dos nossos mercados, e, por ironia do destino, tínhamos também um contentor para enviar para Odessa, que também está em Penela", ilustrou Mário Simões, CEO da SIRL, sobre os efeitos das guerras que grassam na Ucrânia e no Médio Oriente nos negócios e na economia.

No debate "O Desígnio das Empresas Portuguesas", que teve lugar durante a cerimónia de entrega da 13ª edição dos Prémios Exportação e Internacionalização, uma iniciativa do Jornal de Negócios e do Novo Banco, com o apoio da Iberinform, foi passado em revista o contexto económico nacional e internacional, com os conflitos militares e geostratégicos mundiais, que estão a criar um clima recessivo internacional, a escalada das taxas de juro para o controlo da inflação, os picos energéticos, a queda das exportações portuguesas nos últimos seis meses de 2024 e uma antevisão de 2024 e a crise política nacional.

O país não vai parar. As empresas estão a crescer e a exportar mais, apesar dos governos que temos tido. Gonçalo Lobo Xavier
Director Geral da APED
"As empresas estão mais capitalizadas do que na crise de 2011-2013, mas estamos a acompanhar muito de perto as empresas, sobretudo a Norte, onde há mais industrialização", disse Andrés Baltar, administrador do Novo Banco, que sublinhou que as empresas necessitam de apoio institucional através de instrumentos propiciados pelo Aicep e pela Cosec, como "garantias e seguros de crédito que se tornam fundamentais para as exportações do país". Salientou o papel da banca no apoio às empresas tanto na procura de outros mercados, como na gestão de riscos cambiais, creditícios, e na canalização dos financiamentos privados ou públicos.

Os sinais de alarme

O ambiente recessivo que ameaça Portugal e a Europa levou Gonçalo Lobo Xavier, diretor geral da APED e membro do júri dos Prémios Exportação e Internacionalização, a dizer que "as campainhas estão a tocar há muito tempo mas há quem não as queira ouvir, e as empresas sabem disso. As empresas estão a viver dificuldades e a ler o mercado nacional como um mercado que está a decrescer e a perder poder de compra". O futuro que se adivinha "deve-nos deixar preocupados, atentos, e deve motivar as empresas a fazer dos mercados externos o seu desígnio, algo inevitável para a sua sobrevivência", aconselhou.

Preocupa-nos a evolução da economia portuguesa, porque, se esta estiver bem, podemos internacionalizar-nos mais rapidamente. Nuno Rangel
CEO da Rangel-Distribuição e Logística
Nuno Rangel, CEO da Rangel-Distribuição e Logística, relatou os sinais de abrandamento económico. "Tivemos um primeiro semestre muito bom, mas, a partir de julho, sentimos a inversão de ciclo com a redução da procura e muitos dos nossos clientes a preverem um decréscimo nas vendas. Com o ritmo atual haverá menos trocas comerciais e uma retração nas vendas das empresas. Na Rangel, a estimativa de crescimento para este ano é de 6 a 7%, mas não é o que está a acontecer ao mercado".

Antes de o Ronaldo chegar à Arábia Saudita já lá estavam as nossas betoneiras e esperemos que ajudem fazer os estádios para o Mundial de Futebol de 2034. Mário Simões
CEO da SIRL
Referiu que 80% do negócio do grupo é em Portugal, e o processo de internacionalização é feito com pequenas estruturas nos países em que se instalam e crescem de forma orgânica.

Marca Portugal

A SIRL está em 93 mercados, e, como disse Mário Simões, "antes de o Ronaldo chegar à Arábia Saudita já lá estavam as nossas betoneiras e esperemos que ajudem fazer os estádios para o Mundial de Futebol de 2034". A sua empresa já sentiu os efeitos na quebra de atividade, nomeadamente em França, que é um dos seus mercados bandeira, na Alemanha, em Portugal, e no Médio Oriente. Mas, Mário Simões sublinhou que a estratégia da empresa de internacionalização, muitas vezes, se faz ao contrário: "quando está em queda é que nos investimos, preparamos o futuro quando está em baixo, porque se colocamos a cabeça na areia o problema amanhã é muito maior".

Uma das coisas que mais me preocupa na potencial crise é que os programas de Portugal 2030 e o PRR fiquem parados. Andrés Baltar
Administrador do Novo Banco
Andrés Baltar disse que "a Marca Portugal é fundamental mas não está suficientemente trabalhada. Aborrece-me que as empresas do vinho e do azeite que vendem a granel em Itália para depois eles venderem com marca". O administrador do Novo Banco também se referiu aos efeitos da crise política provocada pela demissão do primeiro-ministro, António Costa, na economia. "Uma das coisas que mais me preocupa na potencial crise é que os programas de Portugal 2030 e o PRR fiquem parados. Há grandes investimentos que se podem fazer e que se tornam fundamentais para a inovação das empresas para poderem ser mais competitivas e partirem em busca de novos mercados", afirmou Andrés Baltar.

Do caderno de encargos para aumentar as exportações, foram sugeridos incentivos financeiros e fiscais para as empresas exportadoras, a formação e consultadoria em comércio internacional, a desburocratização, apoio institucional para facilitar o crédito às empresas, incentivos à inovação e ao crescimento de dimensão das empresas e a redução dos custos das empresas associados às remunerações do trabalho.
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