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"Existe em 2021 uma recuperação expectável do setor exportador em relação a 2020, por causa das dificuldades naturais provocadas pela covid-19", considerou António Ramalho, CEO do Novo Banco. Não deixou de referir ainda "algumas dificuldades conjunturais do comércio internacional, quer pela recuperação da procura global que existe em todas as economias de forma assimétrica, quer pelas distorções provocadas pela covid-19 com alterações profundas nas cadeias de valor e na capacidade de manter e preservar alguns dos elementos normais com a subida recente das matérias-primas, a contentorização e o aumento significativo dos custos de transporte com as alterações substanciais do que é o modelo de distribuição que existia ao nível da escala internacional.
Na sua opinião, além destes efeitos mais conjunturais e cujo valor estruturante é mais difícil de antecipar, há alguns em que se percebe que têm efeito estruturante como o consumo e investimento mais seletivos, as cadeias de valor que vão ter mais localização ou mais regionalização, mais macrorregional e menos de caráter globalizante, o aumento profundo das perspetivas do consumo digital com maior peso da economia digital, o maior investimento em TI e de mudanças de modelo de automação, a melhor e mais cautelosa gestão de risco e de sistemas de seguros bem diferentes dos que existiam na pré-pandemia. "Tudo isto representam alterações de caráter mais profundo que nos devem levar a ter uma atenção particular do ponto de vista de avaliação dos riscos subjacentes ao que é a evolução expectável do nosso tecido empresarial", concluiu António Ramalho.
Queda abrupta
Depois de um olhar mais global, António Ramalho focou-se em Portugal em termos de exportações, que "foi um dos países mais afetados pelo equilíbrio e a distribuição que tinha existido entre o que era a capacidade de exportação e o equilíbrio entre bens e serviços no quadro do modelo de exportação que implementamos a seguir a 2012". Acrescentou que se verificou "uma queda abrupta em 2020 sobre o que era a percentagem de contribuição das exportações para o PIB, que se reduziram de 44 para 37%, e que recuperando em 2023, ainda assim representará um delay adicional no sentido do resultado esperado de 50% que desejávamos".
Em 2021, do lado das exportações de bens, todos os sintomas são positivos e tudo aponta que 2021 supere 2019. Numa análise de mercados, António Ramalho sublinha os crescimentos nos mercados espanhol e francês contribuindo assim decisivamente para um equilíbrio regular entre os mercados fora da Europa e os mercados europeus. No caso dos serviços na recuperação económica nota-se a perda de importância de exportações baseadas em turismo e transporte que chegou a representar em 2019 mais de 51% e caiu para 35% em 2020. "Foi uma queda muito abrupta e difícil de recuperar", sublinhou António Ramalho.
Banco de empresas
Na área dos bens as empresas exportadoras tiveram um comportamento positivo, mantiveram as características existentes e na maior parte dos setores mantiveram uma estrutura diversificada. "A percentagem de empresas exportadoras não subiu, continuamos a ter uma enorme concentração exportadora para um único destino, cerca de 69,7%, o que representa um grande desafio para o alargamento da capacidade de exportação e a diversificação do risco. Na maioria dos casos, o maior destino é o destino natural e que é Espanha, o que lhe dá um caráter muito ibérico", analisou António Ramalho.
Estes prémios cruzam-se com o objetivo estrutural do Novo Banco. "Somos um banco que comparando com os nossos peers temos esta responsabilidade assumida de apoiar as empresas", considerou António Ramalho. Acrescentado que é "um banco cujo volume de ativos é sobretudo centrado em empresas e não em particulares. Não que isso seja bom ou mau, é diferente de outros bancos portugueses que estão mais centrados em retalho do que em empresas. Esta especialização é para nós natural, faz parte da nossa narrativa e do nosso compromisso com a sociedade".
O Novo Banco tem uma taxa de penetração nas grandes empresas de 70%, 58% a norte e a sul no segmento de médias empresas. "Traz-nos uma responsabilidade especial na atividade de exportações quer na quota global de empresas que é de 13,6%, mas sobretudo na quota de trade finance que é superior a 20%", afirmou António Ramalho.