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Fábricas de papel como biorefinarias

A inovação permitiu à Navigator destruir o mito de que o eucalipto não estaria indicado para produzir embalagens ou papéis para fins higiénicos. A médio e longo prazo, a empresa pretende olhar para as fábricas como biorefinarias, de serão produzidos bioprodutos, bioquímicos e biocombustíveis.

05 de Maio de 2023 às 14:00
Carlos de Pascoal Neto, diretor-geral do RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel The Navigator Company Duarte Roriz
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Há 70 anos que a The Navigator Company, empresa que fabrica e comercializa papel, faz inovação. Com algumas especificidades, enquadrou Carlos de Pascoal Neto, diretor-geral do RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel The Navigator Company. Recorrendo a uma matéria-prima única e nacional, como o Eucalyptus globulus, "que permite criar produtos diferenciadores e altamente competitivos". Para uma receita de sucesso, Carlos de Pascoal Neto enfatizou o talento, centrado nas pessoas, e a cooperação com outras entidades envolvidas nestes processos de geração de conhecimento e de inovação, na segunda Talk do Prémio Nacional de Inovação, uma iniciativa que junta o Negócios, o BPI e a Claranet, em parceria com a Nova SBE e a COTEC Portugal. A Navigator apresenta-se como "líder europeu na produção de papéis finos de impressão e escrita não revestidos". Tem um volume de negócios de 1,6 mil milhões de euros, com 91% da sua produção a destinar-se a mercados externos, para mais de 130 países. Hoje, é o terceiro maior exportador nacional, representando 1% do PIB português e 2,4% das exportações. "A marca Navigator é um global ‘best seller’ neste segmento de papel de impressão escrita premium", salientou o responsável.



Versão integrada da cadeia de valor

Parte deste sucesso, segundo Carlos de Pascoal Neto, deve-se a uma perspetiva integrada na cadeia de valor, desde a produção de floresta à produção de pasta - a matéria-prima base para a produção de papéis para impressão escrita e ‘tissue’ -, mas também de energia elétrica a partir de biomassa. Na sua intervenção, o diretor-geral realçou o papel da inovação e desenvolvimento em toda esta perspetiva integrada, nomeadamente através do RAIZ, o centro de I&D e transferência de conhecimento da Navigator, criado em 1996, promotor do desenvolvimento sustentável e da bioeconomia baseada na floresta do eucalipto.

A partir de CO2 biogénico, que resulta da combustão dos produtos do nosso processo, combinado com hidrogénio verde, há toda uma panóplia de biocombustíveis nos quais a Navigator está a apostar, em particular para a aviação e para o transporte marítimo. Carlos de Pascoal Neto
Diretor-geral do RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel The Navigator Company
A personagem principal de todo este enredo é o Eucalyptus globulus, espécie naturalizada em Portugal há cerca de 200 anos, "que permitiu que nos anos 50 se produzisse de forma inovadora, à escala mundial, fibras de celulose, que mais tarde deu origem ao negócio da Navigator". Até à data, havia a ideia de que as fibras desta espécie, denominadas fibras curtas, não serviriam para produzir papéis de impressão "e muito menos para a área da embalagem". Volvidos 70 anos, "e após esses ensaios pioneiros, a Navigator é líder europeu na produção de papéis de impressão escrita, com 100% de fibra de eucalipto". Carlos de Pascoal Neto diz mesmo que "quebrou-se um mito e uma barreira".

Na área dos papéis para fins higiénicos, havia igualmente a ideia de que não seria possível a sua produção através do Eucalyptus globulus. "Mais uma vez, o mito caiu. Neste momento, somos o segundo player ibérico nesta área".

Já na área da embalagem, em que são necessários papéis resistentes, onde a fibra longa é normalmente quem impera, a Navigator voltou a quebrar barreiras e a provar que também aqui o eucalipto pode marcar pontos.

Embalagens são oportunidade e desafio

A curto e médio prazo, para além de consolidar a aposta em inovação, a área da embalagem é uma oportunidade e um desafio, sobretudo na perspetiva da substituição de plásticos de uso único. "É o que estamos a fazer. Alguns exemplos já são comercializados, outros estão em fase de desenvolvimento ou pré-industrialização, como embalagens de takeaway ou de frescos. Estamos num processo acelerado de desenvolvimento de produto e com início de fabricação em Aveiro no primeiro trimestre do próximo ano".

Outro desafio é a área dos biocombustíveis e bioprodutos. A partir de CO2 biogénico, "que resulta da combustão dos produtos do nosso processo, combinado com hidrogénio verde, há toda uma panóplia de biocombustíveis nos quais a Navigator está a apostar, em particular para a aviação e para o transporte marítimo".
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