- Partilhar artigo
- ...

O setor financeiro enfrenta uma pressão crescente da concorrência, não só dos neobancos - bancos digitais que oferecem serviços financeiros através de uma aplicação móvel ou de um site -, mas também das big techs, que começam a oferecer serviços financeiros. "A única hipótese de resposta é a inovação", afirma Teresa Silva e Sousa, diretora de Organização, Qualidade e Inovação do BPI, no Inovcast, o podcast do Prémio Nacional de Inovação. A criação da Direção de Inovação no BPI permitiu uma abordagem mais estruturada e ágil, substituindo a inovação descentralizada e incremental que antes caracterizava o banco. Nos primeiros anos, o foco esteve em tecnologias emergentes como blockchain, realidade virtual e metaverso. "Fomos pioneiros na criação de um marketplace de NFTs, uma aplicação em realidade virtual e um jogo de literacia financeira na plataforma Roblox", recorda. Embora algumas destas tendências tenham perdido fôlego, o BPI manteve-se atento à evolução do mercado e soube adaptar-se às novas exigências.
Se há alguns anos a inovação passava por realidades imersivas e ativos digitais, hoje a grande tendência é a Inteligência Artificial. "Não há uma conversa em que não se fale de IA", refere a diretora de Inovação. Para acompanhar esta mudança, o BPI criou, em paralelo com a Direção de Inovação, um Centro de Excelência para a Inteligência Artificial, focado na eficiência interna e na melhoria do serviço ao cliente. Esta aposta na IA já se reflete em soluções concretas, desde assistentes virtuais ao desenvolvimento de ferramentas para os comerciais do banco. "O nosso foco tem sido mais interno, tornando os processos mais eficientes e preparando-nos para o futuro", explica Teresa Silva e Sousa.
Desafios não se limitam à regulação
A regulação é frequentemente vista como um entrave à inovação no setor financeiro, mas Teresa Silva e Sousa rejeita essa ideia. "Nunca sentimos que a regulação nos impedisse de inovar", garante. Para a diretora, o verdadeiro desafio está na mudança de mentalidade dentro das organizações. "A primeira reação a qualquer ideia nova é dizer que não dá, que é impossível. O nosso papel é desmistificar e encontrar soluções", sublinha.
Uma das principais lições aprendidas no percurso da inovação no BPI é a importância de identificar problemas reais antes de procurar soluções. "Muitas startups abordam-nos com propostas para problemas que não temos", observa a responsável. O sucesso da inovação passa por um diagnóstico rigoroso das necessidades antes do desenvolvimento de novas soluções.
Este processo levou a Direção de Inovação a evoluir de projetos altamente disruptivos para soluções mais incrementais e de impacto direto no cliente interno e externo. "Hoje, as próprias áreas do banco procuram-nos para os ajudar a resolver desafios específicos", revela. No BPI, o trabalho com projetos de inovação é intenso e diversificado. Teresa Silva e Sousa explica que, todos os anos, a equipa da instituição está envolvida em cerca de 10 projetos de inovação.
A variedade dos projetos é notável, com iniciativas mais curtas, de dois a três meses, e outras mais longas, como o Pulsoo e o Quatru, que exigem não só a entrega do produto, mas também a confirmação de valor antes da implementação final. Ou seja, a inovação no BPI é vista como um produto a ser entregue, e como um processo contínuo de adaptação e validação. "Temos de provar o valor para depois entregar a uma área específica que possa tratar o produto no seu dia a dia", insiste Teresa Silva e Sousa.
Ecossistema nacional facilita a inovação
Para a diretora de Inovação do BPI, o ecossistema de inovação em Portugal tem demonstrado um crescimento notável nos últimos anos e, à medida que o país se afirma no mapa mundial de fintechs e startups, o cenário tem-se tornado cada vez mais dinâmico. Teresa Silva e Sousa destaca que Portugal tem uma ótima qualidade de vida, o que atrai estrangeiros, e também excelente talento, apesar do desafio da retenção.
"Temos feito um bom trabalho em colocar o país no mapa, tanto em termos de soluções como em termos de startups", reconhece a responsável, destacando ainda a colaboração mútua entre empresas e hubs tecnológicos, essencial para o fortalecimento do ecossistema. A diretora de Inovação do BPI não tem dúvidas em afirmar que este espírito cooperativo é uma característica fundamental que facilita a inovação no país.
O BPI mantém parcerias estratégicas com hubs de inovação, como a Fintech House e o programa de scaling-up da Fábrica de Unicórnios, além de parcerias diretas com empresas tecnológicas. Um exemplo concreto desta abordagem colaborativa é a aplicação Pulsoo, desenvolvida em parceria com a NOS. "Identificámos uma necessidade no segmento das pequenas empresas e desenvolvemos uma solução em apenas sete meses", explica Teresa Silva e Sousa.
O Pulsoo combina open banking com funcionalidades que simplificam a relação dos empresários com o sistema financeiro e a administração pública, respondendo a desafios concretos do dia a dia.
Inovar de dentro para fora
A inovação no setor bancário não se limita a novos produtos ou serviços; passa também pela otimização de processos internos e pelo reforço da proximidade com o cliente. "Estamos a construir uma cultura na qual a inovação não é vista como algo isolado, mas como parte do ADN do banco", conclui Teresa Silva e Sousa.
Olhando para o futuro, o BPI continuará a apostar na Inteligência Artificial e em soluções que aumentem a eficiência e personalização dos serviços. A inovação deixou de ser um extra e tornou-se uma necessidade para garantir a competitividade e sustentabilidade do banco num setor em constante transformação.
Para aqueles que começam a sua jornada no mundo da inovação, Teresa Silva e Sousa deixa um conselho: não desistir. Em grandes empresas, onde existe abertura ao risco e vontade de inovar, o processo pode ser mais facilitado, mas, nas startups, a dificuldade, muitas vezes, está em convencer o primeiro cliente. Para isso, a solução tem de ser bem focada e demonstrar uma resposta clara a um problema específico do mercado. "Os bancos, por exemplo, procuram soluções que resolvam problemas reais. Para uma startup, é importante saber como apresentar uma solução testada e com provas dadas, sabendo que a competição é forte. Acredito que a chave está em não desistir e continuar a acreditar na sua solução", conclui a diretora de Inovação.