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Nádia Miranda, diretora de TI da Worten Portugal, Paulo Martins, diretor de TI & Operações do Sport Lisboa e Benfica, e Pedro Garcia Silva, Chief Information Officer da Fundação Champalimaud.
A talk "A tecnologia ao serviço da inovação", promovida no âmbito do Prémio Nacional de Inovação, reuniu nas instalações da Claranet representantes da Worten, do Sport Lisboa e Benfica e da Fundação Champalimaud para partilhar como cada uma destas entidades está a aplicar a tecnologia de forma estratégica.
Na Worten, a inovação tem sido impulsionada por um processo de transformação digital que acompanha a evolução do próprio setor do retalho. "Somos uma empresa digital com lojas físicas e um toque humano", resumiu Nádia Miranda, diretora de TI, sublinhando que a Worten já não se limita à venda de produtos tecnológicos. "Hoje conseguimos montar cozinhas na plenitude, pintar a casa do cliente, disponibilizar serviços de maquilhagem ou limpeza".
Esta profunda transformação obrigou, segundo a diretora, a desenvolver soluções de software de raiz, para gerir de forma ágil as equipas e responder, em tempo útil, às solicitações dos clientes. "Somos uma equipa de alta competição. Trabalhamos em modelos de experiência constantes, quase como uma startup, para ver o que funciona e o que não funciona", realçou. Ao longo dos últimos anos, a Worten adquiriu novas competências e até outras empresas, alargando assim a sua capacidade de prestação de serviços. "O objetivo é pôr o cliente no centro e garantir que as equipas técnicas estão próximas do negócio".
Nádia Miranda referiu ainda que a metodologia Agile ajuda a encurtar ciclos de entrega: "Antigamente, estes projetos demoravam imenso tempo a vir à luz do dia. Agora, testamos rapidamente e se falharmos, mudamos de rumo". Essa atitude experimental, disse, faz parte da cultura de inovação e permite à Worten trazer, de forma relativamente célere, novos serviços e melhorias para o mercado.
Tecnologia à Benfica
Paulo Martins, diretor de TI & Operações no Sport Lisboa e Benfica, mostrou como a inovação também se aplica a um clube com mais de 120 anos de história. "O Benfica tem um ADN de inovação. Todos os anos procuramos encontrar novos desafios, novos modelos para proporcionar experiências únicas", afirmou.
Referiu o foco na "experiência de quem vai ao estádio", que pode durar várias horas. "A pessoa chega ao parque de estacionamento, pode comer qualquer coisa, encontra-se com amigos, assiste ao jogo ou a um evento e só sai depois. É tudo parte de um ciclo que nos cabe otimizar". Paulo Martins lembrou que o clube tem ainda outras áreas, como a BTV, as clínicas, o museu e as lojas, exigindo abordagens distintas mas coerentes entre si.
Uma das apostas mais recentes foi a criação de uma nova aplicação, pensada para eventos, que oferece funcionalidades em tempo real. Para quem está em casa, o Benfica criou a BTV Experience, onde o adepto pode escolher câmaras e ângulos diferentes de transmissão. Paulo Martins comentou ainda que estão a testar experiências imersivas, como cadeiras 360º, em casas do Benfica. Embora algumas ideias acabem por não ser práticas, outras despertam curiosidade e aproximam adeptos distantes.
Além disso, a tecnologia está presente na análise desportiva, desde os escalões de formação até à equipa principal. "Cruzamos muitos dados, desde a parte tática à bilhética, passando pela loja e a alimentação, para perceber padrões e ajustar modelos", reforçou. A automação também marca presença: "Os robôs de limpeza funcionam de madrugada, e já têm até nomes dados pelas equipas".
A estratégia da Fundação Champalimaud
No campo da saúde, coube a Pedro Garcia Silva, Chief Information Officer da Fundação Champalimaud, explicar como se conjuga inovação em duas frentes: a prestação de cuidados de saúde - altamente especializados - e a investigação científica. "Temos um hospital focado em áreas como a oncologia, mas também trabalhamos a investigação, que gera a descoberta contínua", indicou.
Destacou dois projetos em particular. O primeiro consiste em aproximar a Fundação da casa dos doentes, com um sistema de monitorização remota, videochamada direta para o balcão de enfermagem e até dispensação de medicação. "Queremos responder de forma mais célere e eficiente, sobretudo em cuidados paliativos ou domicílios com assistência limitada", sublinhou. Trata-se de uma evolução de um sistema anterior, já operado durante cerca de dez anos, que agora está a ser redesenhado para incorporar mecanismos de intervenção mais proativos.
O segundo projeto incide na sustentabilidade. "O setor da saúde emite 4% do total global, mais do que a aviação ou o ‘shipping’. Não é muito falado, mas é urgente", alertou. Em parceria com a Philips, a Fundação pretende reduzir em 50% a pegada carbónica da radiologia, num plano de quatro anos que envolve revisão de protocolos clínicos, infraestrutura e fornecimento de energia verde.
Ainda no âmbito tecnológico, Pedro Garcia Silva realçou o uso da inteligência artificial para analisar processos clínicos complexos - muitas vezes entregues em papel pelos próprios doentes. "Criámos um sistema que permite ao médico fazer perguntas e obter respostas estruturadas, o que liberta tempo e diminui erros de perceção". A IA também foi aplicada no call center, antecipando dúvidas e agregando informação dispersa. Por fim, mencionou a aposta em robótica, quer para o transporte interno de amostras e medicamentos, quer em drones para agilizar a circulação de material laboratorial dentro do perímetro da Fundação.
IA, mudança e diversidade
A inteligência artificial foi obviamente um dos pontos discutidos nesta talk do Negócios. Nádia Miranda explicou que a Worten utiliza esta tecnologia para apoiar o cliente, otimizar processos e prever comportamentos. Paulo Martins frisou que o Benfica tem aplicações em análise tática e na área corporativa, e que estão sempre a surgir "novas ideias" para tornar a experiência mais imersiva. Pedro Garcia Silva notou que, na Fundação, a IA não é usada para diagnóstico, mas sim para triagem de dados e otimização de recursos.
Outro tema relevante foi como cada organização prepara as suas estruturas para inovar. "A ideia pode ser boa, mas se não for executada a tempo, perde-se", sublinhou Paulo Martins. Na Worten, há equipas de desenvolvimento com proximidade ao negócio, no Benfica planeia-se uma "bolsa interna de ideias" para todos os colaboradores, e na Fundação existem equipas dedicadas que desenvolvem soluções de hardware e software em sintonia com as necessidades clínicas.
Mencionar a diversidade foi igualmente inevitável. Nádia Miranda, que participa ativamente em programas de mentoria, destacou a importância de atrair mais mulheres para a área de tecnologia, sublinhando que "a tecnologia é para todos, não apenas para quem programa". Lembrou ainda que há inúmeras funções diferentes e que a criatividade também conta para melhorar a experiência do utilizador.