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Como a EDP Inovação transforma ideias em valor

Portugal tem talento, tem ideias e tem vontade. Mas falta-lhe ambição à escala certa. António Coutinho, CEO da EDP Inovação, fala sobre os projetos em curso, os programas desenvolvidos e desafia empresas e decisores a quebrar o “status quo”, explicando por que razão inovar é mais do que aplicar tecnologia, é resolver problemas concretos com impacto.

11 de Abril de 2025 às 12:27
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      Para António Coutinho, a inovação não é um exercício teórico, nem um deslumbramento tecnológico. É prática. É intenção. E, acima de tudo, é capacidade de responder a problemas reais com soluções que criam valor. "A boa forma é olhar para a inovação como resolver problemas, e depois, para os quais se utiliza a tecnologia", afirma no Inovcast, o podcast do Prémio Nacional de Inovação, sublinhando que o erro comum das empresas é confundir inovação com invenção. Esta perspetiva ajuda a separar o que é promissor do que é irrelevante. Segundo este responsável, "há muitas tecnologias que depois não vingam porque não resolvem um problema concreto e premente que a sociedade tem". O foco, diz, deve estar nos ganhos reais de competitividade e sustentabilidade, e não apenas na novidade técnica.

      O CEO da EDP Inovação partilha um exemplo concreto de como a inovação se aplica a problemas operacionais com engenho. Na duplicação de linhas de energia, por exemplo, a EDP está a substituir os tradicionais postes de betão por postes de fibra, usando drones para a instalação dos cabos e explorando alternativas ao betão nas fundações. "Não olhamos para a tecnologia com a lógica da eletrónica, mas sim para resolver um problema concreto com intencionalidade", declara António Coutinho.

      Este tipo de abordagem evidencia como a inovação pode nascer da vontade de fazer diferente e melhor, mesmo em setores tradicionalmente conservadores. O desafio, diz, é as empresas assumirem essa mudança como desígnio estratégico, "vou competir porque vou fazer as coisas de maneira diferente".
      Nesta conversa, antecipa soluções, desafia empresas e decisores a quebrar o "status quo" e explica por que razão inovação é mais do que tecnologia, é resolver problemas concretos com impacto.

      Investimos pouco, e o retorno é ainda mais baixo

      Portugal tem um problema estrutural com a inovação. E não se trata apenas do volume de investimento. O retrato que António Coutinho traça é o de um país com talento, mas onde a inovação ainda não é assumida como motor estratégico da economia. "As nossas empresas, infelizmente, não pensam muito na sua longevidade, na sua sustentabilidade", refere.

      Para mudar isso, é preciso mais do que ideias. É preciso intenção, ação e ambição. Portugal pode não estar mal, mas não está ainda onde podia estar. E isso faz toda a diferença. "O nosso nível de investimento, do ponto de vista do PIB, podia ser melhor. Não é mau de todo, mas também não é extraordinário", resume António Coutinho. O verdadeiro problema está noutro ponto da equação, a produtividade da inovação que se faz no nosso país, e que, na sua opinião, é "relativamente baixa".

      Ou seja, face ao que se investe, o número de patentes produzidas e, mais relevante ainda, o seu valor comercial é preocupantemente baixo. "Se olharmos para o número de patentes e o valor comercial dessas patentes, o valor ainda é pior", reconhece o CEO da EDP Inovação. O desafio é claro. Investir mais, sim, mas, sobretudo, transformar melhor esse investimento em resultados económicos concretos. 

      Investimento com retorno

      A EDP leva essa intenção a sério. Desde 2021, o grupo já investiu mais de 600 milhões de euros em projetos de inovação. Uma parte significativa foi aplicada em inovação incremental, ou seja, orientada para resolver problemas identificados pelas áreas de negócio. Noutras situações, recorre-se ao mercado global de startups. Mas também há espaço para a inovação não incremental, pensada para superar desafios estruturais, como é o caso da falta de recursos.

      A cultura de inovação da EDP baseia-se numa forte aposta em open innovation. A criação da área de Inovação em 2007 deu origem a programas de sourcing externo como o Free Electrons e o EDP Starter, ambos com impacto internacional. "O Free Electrons é um programa que fazemos em parceria com outras seis utilities à volta do mundo. Recebemos candidaturas de cerca de mil startups por ano no setor da energia. Tentamos fazer pilotos com essas startups que, testados junto das áreas de negócio, permitem identificar possíveis soluções para rollouts comerciais", explica. O processo de construção e de trazer essas soluções às empresas é similar. António Coutinho diz que é "uma forma de sourcing de soluções tecnológicas no mercado".

      Além dos programas, a EDP investe em ideias inovadoras diretamente através da EDP Ventures, que já aplicou 74 milhões de euros em 40 empresas, com retorno direto de mais de 120 milhões de euros em contratos. "Estou-lhes a dar negócio, mas, ao dar-lhes o negócio, estou a aumentar o valor da empresa. E quando valorizo a empresa, na parte que tenho do capital da empresa, beneficio. É uma relação win-win", admite o CEO da EDP Inovação.

      Mais capital, mais risco, menos regulação asfixiante

      Do lado das políticas públicas, António Coutinho reconhece avanços, como o Unicorn Factory, que "é claramente um exemplo de que é possível puxar empresas, criar um ecossistema que depois se autoalimenta". Ainda assim, aponta fragilidades cruciais que continuam a travar o verdadeiro salto: a falta de capital e o medo do risco. "Temos, primeiro, uma necessidade de capital, mas também de mentalidade de alguma tomada de risco", admite. A comparação com os Estados Unidos é inevitável. "Nós cá vibramos quando colocamos 5 milhões de euros numa startup. Nos EUA, o número tem mais 10", afirma o responsável, sublinhando que esse salto cultural é indispensável para permitir às boas ideias ganharem escala.

      Também a regulação precisa de ser repensada. Um relatório recente do FMI, citado por António Coutinho, aponta que o impacto das regras impostas pode equivaler a um acréscimo de 45% nos custos de manufatura e de 100% nos serviços. Segundo o CEO da EDP Inovação, temos de perceber qual é o equilíbrio adequado para não se limitar a inovação, para que, desta forma, seja garantido o espaço que as ideias precisam para vingar e crescer.

      Curiosidade, equipa e visão comercial são o tripé do sucesso

      Para incentivar os empreendedores a trilharem o caminho da inovação, António Coutinho revela que, num mundo em constante aceleração, a curiosidade e o pensamento crítico são vantagens competitivas. Mas ser curioso não chega. É preciso saber vender. "Aos empreendedores portugueses, diria para olharem para a função comercial de uma forma francamente ativa", insiste. Em Portugal, a tecnologia sobrepõe-se muitas vezes à estratégia de mercado — e isso paga-se caro. Deixa um conselho que vale tanto para a vida como para os negócios, a importância das equipas. "80% do sucesso de uma operação de compra de uma startup tem a ver com a qualidade da gestão", afirma o responsável. Mesmo uma boa ideia falha com uma má equipa. E uma boa equipa pode transformar uma ideia fraca em algo viável. "Portanto, eu diria, vejam com quem é que se casam", diz António Coutinho.

      O "Shark Tank" da EDP: gerir risco e acelerar inovação

      Para lá do investimento financeiro e dos programas de open innovation, a EDP desenvolveu uma estrutura interna singular para testar e escalar ideias com potencial transformador. Trata-se da área de delivery, uma espécie de "Shark Tank" empresarial, onde se avaliam e maturam soluções para problemas concretos, com foco na gestão de risco e no impacto prático.

      "O que fazemos, na prática, é identificar um conjunto de ideias apresentadas ao nosso Shark Tank, composto por executivos das várias unidades de negócio da EDP. Eles deliberam se essa ideia merece ou não receber recursos financeiros, humanos e de tempo para evoluir para a fase seguinte", explica António Coutinho.

      A força deste modelo reside, desde logo, no princípio de não serem "juízes em causa própria", preservando a objetividade no processo de avaliação. Mas há também uma lógica de seleção natural. "Partimos com dez ideias e vamos eliminando. A inovação, de certa maneira, é um gestor de risco de ideias. A forma de gerirmos esse risco é tirarmos as ideias que afinal não são assim tão boas."

      Cada ideia é sujeita a uma fase de testes com investimento controlado. "Se for possível testar uma hipótese com 50 mil euros, muito bem. Se essas hipóteses se confirmarem, voltamos ao Shark Tank e pedimos 500 mil", exemplifica o responsável. Desta forma, evita-se apostar fortemente em soluções sem validação prévia, promovendo uma cultura de experimentação com racionalidade financeira.

      A origem das ideias também é parte do segredo. "Não é um concurso, temos uma abordagem de empreendedorismo, onde procuramos ideias dentro do próprio grupo EDP", refere. As propostas emergem de grupos de especialistas que trabalham em articulação com as unidades de negócio, cruzando conhecimento técnico com necessidades operacionais. "É dessa ‘salada’, vamos chamar-lhe assim, que surgem as ideias. E é onde a ideação com IA vai alimentar. A cada dois meses, apresentamos três ideias — e depois matamos metade."
      Com esta abordagem, a inovação na EDP deixa de ser um exercício abstrato e integra-se diretamente na resolução de desafios estruturais do grupo. Um modelo pragmático, seletivo e com ambição de escala.

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