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Grupos económicos? Portugal precisa é de boas empresas

É preciso capital e investimento estrangeiro e grupos e empresas que cresçam com base na suas competências e com capacidade de gestão.

30 de Março de 2016 às 10:09
Sérgio Lemos/Correio da Manhã
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A espanholização da banca portuguesa é o receio que assola os meios económicos e políticos portugueses. Na banca o Santander, La Caixa dominam dois (Santander Totta e BPI) dos cinco grandes bancos em Portugal. Há quem tema que um deles, o Novo Banco, que está à venda, venha a ter dono espanhol e que o BCP, que juntamente com o BPI, foi fundado por uma frente nacional de empresários portugueses passe a ser dominado por capital estrangeiro, pois já tem como accionista de referência a angolana Sonangol. Na área financeira a chinesa Fosun e o fundo Apollo, de origem norte-americana, dominam mais de 40% do mercado segurador.

Mas só se chegou a esta situação porque "destruição de valor", como refere Rui Vilar. Por outro lado, como diz Alberto Castro, "ser nacional em si não é bom nem mau".

Num recente livro sobre a implosão do Grupo Espírito Santo, o historiador económico Luciano Amaral contesta, tomando por exemplo a política de apoio aos grupos económicos portugueses nos anos 1980 e 1990, "a própria ideia de grupo económico como a melhor forma de reforçar a capacidade empresarial não era inevitável". Acrescenta que então se restringiu a entrada de capital estrangeiro e que "num país em que o capital não abundava, essas restrições corresponderam a uma espécie de racionamento de capital. Caso não tivessem existido, é provável que muito mais investimento estrangeiro tivesse chegado ao país, contribuindo para uma mais forte capitalização empresarial". Hoje subsistem poucos grupos portugueses com dimensão, até porque a escala passou do mercado nacional para o global, e a escassez de capital acentuou-se.

Luciano Amaral aponta também o fracasso da internacionalização dos grupos portugueses, que com algumas excepções, como a Sovena, a Logoplaste, a Jerónimo Martins, a Portucel (como exportadora) e a Corticeira Amorim, Grupo RAR, "continuam com uma capacidade de projecção internacional modesta". Estes grupos ilustram a tese de Alberto Castro: "os números e a experiência, dizem-nos que, em regra, o desempenho dos conglomerados pouco ou nada acrescenta à soma das partes. Já os grupos que diversificam com base num núcleo de competências (sejam produtivas, sejam comerciais) parecem ter mais sucesso".

Muitos dos grupos económicos foram afectados, primeiro, pela Grande Recessão e com o programa de reajustamento de Portugal, o que lhes diminui a capacidade de investimento internacional, e mais recentemente, pela queda de preços de matérias-primas, sobretudo o petróleo, que afectou mercados como o africano. Estas foram algumas das causas para a contenção do Grupo Sonae, Teixeira Duarte e para a reestruturação de grupos como Mota-Engil ou Grupo SGC.

O economista Ricardo Paes Mamede recorreu recentemente à comparação entre Portugal e a Dinamarca na lista das 2000 maiores empresas do mundo da Forbes. Em 2015 estavam as empresas portuguesas EDP, Galp Energia, Jerónimo Martins, BCP, BPI e Montepio. Com excepção da Jerónimo Martins, que faz grande parte das suas vendas e dos seus lucros na Polónia, todos os outros, apesar da terem alguma presença internacional, estão orientados para o mercado interno, em sectores com poucos concorrentes e em sectores regulados pelo Estado. Por sua vez, da Dinamarca vinham empresas dos produtos clínicos (Coloplast), Vestas (energia renovável), Novozymes (biotecnologia), Pandora (ourivesaria), Carlsberg (cerveja), Moller-Maersk (transportes) e três bancos.

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