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Gestão: Vida e lições de multinacional

São cada vez mais os gestores portugueses que optam por carreiras em empresas multinacionais. O seu regresso pode vir a transmitir às organizações e ao mercado novos níveis de qualidade e exigência na gestão.

24 de Junho de 2015 às 11:00
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Quando se fala de portugueses em multinacionais alguém puxa logo do bolso os nomes de António Horta Osório, que lidera o Loyds Bank, António Simões no HSBC, Carlos Tavares na Peugeot-Citroën, Victor Luís, CEO da Coach, Paulo Pereira, partner da Perella ou António Esteves, partner da Goldman Sachs.

Numa conferência, Isabel Vaz, CEO da Luz Saúde, contava que, durante o IPO (oferta pública inicial) e a OPA (oferta pública de aquisição) da antiga empresa do Grupo Espírito Santo para a saúde sempre que contactava com uma instituição internacional encontrava um português na equipa. Isto mostra que as carreiras de gestores portugueses em empresas multinacionais não se esgotam em nomes mais mediáticos.

José Bancaleiro, managing partner da Stanton Chase, faz recrutamento de quadros de topo e assegura que "existe uma enorme quantidade de portugueses talentosos e altamente qualificados a fazer carreira internacional em diversos países e nos mais diversos sectores".


Ana Neves é desde Setembro de 2014 "head marketing excellence" da Bayer HealthCare e vive em Berlim depois de ter passado por Singapura e pela Malásia. A sua carreira profissional tem sido feita em multinacionais. Depois se ter licenciado em farmácia, estagiado numa farmácia e num hospital, fez um estágio remunerado na SmithKline Beecham (hoje Glaxo SmithKline). "Dessas experiências deduzi que queria trabalhar num ambiente multinacional", conta Ana Neves. Seguiu-se a Schering, que mais tarde foi comprada pela Bayer. "Como me foi dada a oportunidade de assumir funções muito diferentes em variadas partes do mundo, com desafios muito interessantes, não senti a necessidade de mudar de empresa. E assim sempre trabalhei até hoje em ambiente multinacional, em Portugal e no estrangeiro", reflecte.


Luís Pais Correia é engenheiro pelo Instituto Superior Técnico, tem um MBA pela Universidade Católica e um doutoramento pela École Polytechnique Fédérale de Lausanne e leccionou em universidades públicas e privadas em Portugal e na Suíça. Desde 1998 foi líder de várias subsidiárias e gestor de topo da Dalkia do Grupo Veolia. Desde Junho de 2014, que é partner e fundador da Thesis Energy, empresa sediada em Londres que se dedica à gestão de investimentos na energia.

Este gestor não acredita que a gestão portuguesa tenha alguma característica especial. Considera que "as pessoas são iguais em todo o lado, logo a qualidade média da gestão portuguesa é igual à dos outros países". Por isso, diz que "os portugueses que trabalham no estrangeiro são tão bem ou mal sucedidos como os outros. Em Portugal, porventura, têm menos oportunidades de poderem ser bem sucedidos porque os constrangimentos são reais". No entanto, a distância permite-lhe observar aspectos estruturais que influenciam a qualidade de gestão em Portugal e que são a "pequena dimensão (do país e das empresas) e falta de capital".


José Bancaleiro tem uma opinião diferente. Considera que a aliança entre o que se aprende nas multinacionais e a prática nas empresas nacionais pode fundir o melhor dos dois mundos: "o planeamento, os processos, a focalização em resultados e o rigor das multinacionais conjugados com o pragmatismo, a rapidez, a flexibilidade e a criatividade das empresas nacionais".


Ana Neves que está há cerca de 10 anos a trabalhar fora de Portugal só conhece gestores portugueses em empresas estrangeiras. No entanto, com base neste conhecimento aventura-se a traçar um perfil do gestor português. Podem diferenciar-se "ao aliarem a competência e a capacidade de trabalho com uma certa criatividade, flexibilidade, abertura e entusiasmo que outras culturas não têm tão evidente. O que falta muito em Portugal é a capacidade de planeamento, organização e visão a longo prazo e numa perspectiva mais ampla". 

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