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A inovação da tradição

A Corticeira Amorim e o sector da cortiça tiveram de reinventar o negócio para poderem sobreviver. A grande arma foi a inovação

12 de Julho de 2013 às 13:22
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Em finais dos anos 90 a rolha de cortiça entrou em declínio atacada tanto pelos novos tipos de vedantes artificiais plásticos e metálicos, como a screw cap, como pelo que era apresentado como epidemia da cortiça, o problema do TCA (tricloroanisole) que dá aos vinhos um sabor de cartão húmido e mofo. Parecia que um novo paradigma de negócio se desenhava no horizonte e em que a Corticeira Amorim iria ter muitas dificuldades em participar.


Estas dificuldades exigiram um esforço redobrado ao grupo e ao sector da cortiça com investimentos avultados em I&D, inovação de produtos, de processos e de certificação, e, sobretudo, a solução dos problemas sensoriais ligados aos vinhos. Nesta área a Corticeira Amorim investe cerca de 5 milhões de euros por ano e nos últimos 5 anos submeteu a registo mais de 20 patentes. Além disso, a Corticeira Amorim adoptou um modelo de inovação aberto tendo parcerias tanto com empresas como com universidades e centros de investigação nacionais e internacionais. O exemplo mais recente de cooperação, que até surgiu em vários media internacionais, é o sistema Helix, que resulta da parceria da Corticeira Amorim com o líder mundial de packaging de vinho, a norte-americana O-I. Após 4 anos de pesquisa, testes numa dezena de caves e estudos de mercado chegou-se a uma rolha de cortiça de abertura fácil devido à configuração do gargalo da garrafa de vidro.


A nova idade da rolha de cortiça pode ser exemplificada pelo facto de, como refere Carlos Jesus, Director de Comunicação e Marketing da Corticeira Amorim, "nos EUA, e segundo a consultora AC Nielsen, os consumidores estão mesmo dispostos a pagar até 1,10 dólares mais por um vinho com rolha de cortiça". Este é um sintoma desta ressurreição e, desde 2012, assiste-se a uma tendência, que se estende aos países do "novo mundo vinícola" - até aqui os principais promotores destes vedantes artificiais - de regresso à rolha de cortiça natural, como são os exemplos da Rusden Wines, da Haselgrove e da Klein Constantia.


Máquina fabril e comercial
Liderada desde 2001 por António Rios de Amorim, sobrinho de Américo Amorim, o grupo tem como principal negócio as rolhas que em 2012 tiveram vendas de 323,6 milhões de euros, o que representa 59,4%, seguindo-se os revestimentos com 126,6 milhões e 23% do total de vendas. Apesar destes novos segmentos de negócio, a verdade é que as virtualidades das rolhas permitem augurar o futuro estável do negócio até porque "o crescimento da quota de mercado da rolha de cortiça tem sido maior do que a própria evolução da indústria do vinho".


A Corticeira Amorim é uma máquina industrial e comercial de grande dimensão constituída por 30 fábricas espalhadas por Portugal (17), Espanha (8), Argélia, Tunísia, Marrocos, EUA e Argentina, e por uma rede de distribuição que toca em mais de 100 países através da presença directa com 84 empresas ou pela capilaridade de 296 agentes. Como resume Carlos de Jesus, "empresa tem no seu DNA a procura constante de novos mercados geográficos, alguns deles pouco "convencionais" e esta é parte integrante do sucesso da empresa". Portugal representa apenas 5% dos negócios do grupo sendo os principais mercados a União Europeia, com destaque para França, Espanha e Itália, que absorve 54,5% das vendas, seguindo os Estados Unidos com 18,3%. Segundo Carlos Jesus a estratégia continua a ser "dedicar muita atenção ao mercado europeu" não só pela sua dimensão mas pelo facto de continuar "a evidenciar preferência por produtos de cortiça, uma preferência alicerçada em performance técnica, valor premium percebido e sustentabilidade". Acrescenta que "o entanto, mercados como o dos EUA - que é actualmente o principal consumidor de vinho mundial e o maior mercado país de vendas para a empresa -, ou o da China - ávido por soluções premium como a cortiça continuarão a ser também alvo de grande atenção".


Em 2012 pela primeira vez na sua história as vendas consolidadas da Corticeira Amorim ultrapassaram a barreira dos 500 milhões, ao registar vendas de 534 milhões de euros. Este novo esplendor da cortiça leva a que a meta das exportações do sector passe dos actuais 850 milhões de euros e chegue aos 1000 milhões em 2015.

 

 
A cortiça entre o design e a arquitectura

Uma das estratégias seguidas pela Corticeira Amorim e por outras empresas do sector foi associar a cortiça à contemporaneidade através da associação com o design e a arte. Um dos sucessos mais interessantes foi a selecção de cortiça como elemento preponderante do Serpentine Gallery Pavilion 2012, dos arquitectos Herzog & e de Meuron e do artista plástico chinês, Ai Weiwei. Outros exemplos são a utilização de cortiça no Trafaria Praia, o "Pavilhão" de Joana Vasconcelos que representa Portugal na Bienal de Veneza e a incorporação de cortiça na Quiet Motion, uma estrutura da BMW concebida pelos designers Ronan & Erwan Bouroullec para a apresentação de um novo conceito de mobilidade sustentável. Para 2013 está prevista uma instalação de cortiça, num projecto artístico do gabinete de arquitectura FAT (Fashion Architecture Taste), que será exposta no Victoria & Albert Museum no âmbito do London Design Festival, de que a Corticeira Amorim é parceira.


Por sua vez no Mosteiro dos Jerónimos Amanda Levete, Alejandro Aravena, Álvaro Siza, Eduardo Souto Moura, Manuel Aires Mateus, Jacques Herzog, Naotu Fukusawa, James Irvine (estúdio), Jasper Morrison e João Luís Carrilho da Graça propõem utilizações da cortiça no âmbito do projecto Metamorphosis, integrado na Bienal EXD'13.

 

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