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Ricardo Reis, 34 anos, é professor no departamento de economia da Columbia Univeristy e investigador associado do National Bureau of Economic Research e do Centre for Economic Policy Research. Fez a sua formação na London School of Economics (Inglaterra), e o doutoramento na Harvard University (EUA). A sua principal área de investigação é a macroeconomia, com interesse especial na conduta da política monetária, e a política fiscal. Considera que, apesar de tudo, as várias revisões de metas não foram tão agressivas como poderiam ter sido tendo em "conta a enorme dívida pública e o tamanho do défice inicial". Diz que "a pergunta certa não é se devia haver mais política económica, mas antes propor medidas concretas e discutir os seus méritos".
Quais são os maiores obstáculos à competitividade das empresas portuguesas?
Hoje, são as taxas de juro elevadas que pagam nos seus empréstimos, e a produtividade baixa de muitos trabalhadores em relação ao seu salario. Por fim, e apesar de muito progresso nesta área, as empresas portuguesas continuam a ter de enfrentar muitas regulações, ter de pedir muitas licenças, e ter de despender muita energia e recursos só' a lidar com o Estado.
Portugal está na fase em que precisa fazer inovação, criar grandes marcas, criar grandes empresas para atingir o crescimento e está no meio de uma espiral de dívida, taxas de juro, efeito China, falta de liquidez, falta de capital humano... Há alguma porta de saída?
Nos últimos dois anos, há muitos exemplos de empresas, umas maiores outras mais pequenas, que fizeram enorme progresso e cresceram de forma lucrativa e sustentável. Há muitas circunstâncias adversas, mas também existem muitas oportunidades para quem tem o engenho, a determinação, e a sorte do seu lado para se implantar. Uma quase-certeza é que o crescimento em Portugal passa pelas exportações e pelo mercado externo, onde uma empresa não se pode acomodar na protecção do Estado mas tem de acrescentar valor e competir num palco global.
Considera que o registo das exportações permite alguma esperança?
Sim. A entrada da Europa em recessão vai prejudicar o crescimento das exportações, mas continua a ser este o caminho para sair da crise.
Que avaliação que faz da qualidade de gestão das empresas portuguesas?
Existem alguns estudos internacionais neste tópico. Mostram que a qualidade de gestão nas melhores empresas portuguesas, incluindo as multinacionais, é bastante boa e isto reflecte-se na sua elevada produtividade. No entanto, existe uma enorme cauda de empresas portuguesas que são muito mal geridas e improdutivas. Sobretudo no que diz respeito as gestões dos recursos humanos, há demasiados gestores que não capazes de potenciar as capacidades dos seus colaboradores.
Considera que há austeridade a mais na gestão da crise em Portugal, que tem havido pouca política económicana gestão da crise em Portugal?
É uma pergunta difícil: Por um lado, a austeridade que tivemos foi a necessária, pois aquela que pôs as nossas finanças publicas a caminho de estarem equilibradas. Os alvos, após as várias revisões, até não foram excessivamente agressivos, tendo em conta a enorme dívida pública e o tamanho do défice inicial. Por outro lado, com certeza que a prioridade de um governo deve ser sempre potenciar o crescimento económico no país. Mas a pergunta certa não é se devia haver mais política económica, mas antes propor medidas concretas e discutir os seus méritos. Há muitas "políticas económicas" que são discutidas superficialmente mas implementadas frequentemente, e que provavelmente tem um efeito neutro, ou negativo, no crescimento presente ou futuro do país.