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“O Ártico e a Antártida são o ar condicionado do planeta”

Se o planeta deixasse de emitir gases com efeitos de estufa a partir de amanhã, seriam necessários entre 20 a 40 anos para que o sistema climático se adaptasse.

19 de Novembro de 2024 às 14:30
A jornalista Ângela Gonçalves Marques entrevista João Canário, professor associado e investigador do IST.
Pedro Ferreira
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A jornalista Ângela Gonçalves Marques entrevista João Canário, professor associado e investigador do IST.

João Canário doutorou-se em Ciências do Ambiente na FCT da Nova com uma tese sobre o mercúrio em Portugal, um poluidor legado pela indústria. Como não havia investigação em Portugal em dispersão atmosférica deste metal foi fazer o pós-doc para Montreal no Canadá. "O meu orientador na altura convidou-me a ir ao Ártico. Fui e fiquei apaixonado. Costumo dizer que é a minha terapia anual é ir ao Ártico", disse João Canário, professor associado do Instituto Superior Técnico, durante a conversa com Ângela Gonçalves Marques, jornalista CMTV, sobre "Mudanças Climáticas e Sustentabilidade: Uma Jornada Científica".

Durante as suas viagens ao Ártico, à Gronelândia e à Antártica, João Canário apercebeu-se da intensidade das alterações climáticas. "A minha inspiração foi tentar perceber o que se passava, enveredei por um ramo do estudo do Ártico, que tem a ver com a degradação do solo gelado, a chamamos permafrost", explica João Canário.

Enquanto o solo esteve congelado, a situação era estável. Com o aumento gradual da temperatura, à medida que o solo gelado derrete, "proliferam os micróbios, as bactérias, que processam a matéria orgânica", refere João Canário. Este processamento resulta na emissão de dióxido de carbono ou metano. "Em termos de efeitos estufa, o metano é 25 vezes mais poderoso do que o dióxido de carbono", salienta João Canário.

As emissões naturais

Segundo os dados apresentados pela WMO (World Meteorological Organization) na COP29, "tivemos um aumento de temperatura em relação aos níveis pré-industriais de 1,53 graus Celsius, sendo que a média de aquecimento no Ártico tem rondado os 4 graus". João Canário destacou que 20 a 25% da área do hemisfério norte é composta por solo gelado, cuja degradação provoca a libertação de gases com efeito de estufa, as chamadas emissões naturais, que ainda não estão contempladas nos modelos climáticos.

"O Ártico e a Antártida são o ar condicionado do planeta", sublinhou João Canário. Na sua perspetiva científica, estas regiões começam a funcionar mal porque estão a perder gelo, o que resulta na perda do efeito albedo - a capacidade das superfícies brancas de refletir a radiação solar de volta para o espaço. "Quando a superfície branca desaparece, a radiação é absorvida e, no caso do oceano Ártico, este aquece, acelerando o degelo e iniciando um novo ciclo", explicou.

Sem esta capacidade de atuar como o ar condicionado do planeta, a temperatura do oceano aumenta, intensificando a evaporação e alterando os níveis das correntes atmosféricas. Estas mudanças dão origem a eventos extremos, como tempestades intensas em algumas zonas e secas prolongadas noutras, sendo a África um exemplo desta última situação".

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