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O doente está no centro do sistema. Mas é essencial termos profissionais de saúde felizes e realizados. Como se sentem os profissionais de saúde em Portugal?
Os sentimentos serão diferentes conforme as gerações. Os profissionais mais velhos sentem-se tristes e desalentados porque os sonhos e os ideais do SNS que tinham quando iniciaram a sua vida profissional foram correndo de forma muito positiva mas, a certa altura, deram lugar a uma enorme desorganização. Também os mais novos não se reveem na desorganização, na falta de garantias e na incapacidade de satisfazerem a sua vocação. Para as camadas mais jovens está a falhar muito a capacidade de sonhar e de prever. Ninguém sabe neste momento o que vai ser o SNS daqui a meia dúzia de anos e como vai evoluir.
Por falar em jovens, concorda com a abertura dos dois novos cursos de Medicina lecionados no ensino privado, na Universidade Católica e na Universidade Fernando Pessoa?
Só vejo vantagens na disponibilização de mais cursos de Medicina em Portugal. Em primeiro lugar, evita que os alunos ainda jovens tenham de ir para o estrangeiro e que depois aqui permaneçam. As experiências que conheço das universidades privadas dos países europeus são positivas e muitas delas tornaram-se também atração para alunos de outras nacionalidades. Por outro lado, não percebo os críticos do aumento de vagas. Problemático seria haver médicos a menos, agora haver médicos a mais, qual é o problema?
Como podemos melhorar o acesso aos cuidados de saúde em Portugal, e qual é o papel do setor privado nesse processo?
O setor privado tem atualmente capacidade de receber e tratar de forma competente as pessoas que precisam de cuidados de saúde. Por outro lado, também tem capacidade formativa pré-graduada e pós-graduada e capacidade de investigação. Por isso, neste momento, as instituições privadas de maior dimensão a nível nacional não têm qualquer inibição em assumir uma função semelhante às instituições do SNS. Por outro lado, recordo que a capacidade de resposta do SNS neste momento está muito próxima de estar esgotada. Existe ainda um senão, que é a dificuldade em aceder digitalmente aos dados dos utentes, pois os sistemas informáticos do serviço público e do privado não falam uns com os outros, o que leva a uma perda de continuidade, eventualmente repetição de exames ou de não compreensão imediata da situação. Mas espero que um dia esse constrangimento possa ser ultrapassado e que o cidadão tenha o seu caderno de saúde e de doença único, com acesso - reservado obviamente - aos profissionais de saúde estejam eles onde estiverem. Além disso, e após o drama recente que vivemos com a pandemia, deveria haver um esforço para organizar um plano de emergência transversal a todas estas instituições. Seria provavelmente, o início de um modelo novo da reestruturação da saúde a nível nacional. Penso mesmo que será um erro grande da atual geração responsável não prevenir e não preparar do ponto de vista teórico qualquer situação de catástrofe futura, como foi a pandemia. A sociedade merece essa preocupação por parte dos responsáveis atuais da saúde em Portugal.
A carreira única poderia ser um motor facilitador de todas essas mudanças?
Sim, a par da transversalidade na saúde, a carreira única e a mobilidade dos profissionais de saúde em geral e não apenas dos médicos - sem perda de graus de carreira e anos de trabalho - seriam um ato importante de atratividade para as várias instituições, sejam públicas ou privadas, permitindo um bom reconhecimento das capacidades profissionais e do seu tempo de trabalho.
Que modelo defende para a saúde em Portugal e para os portugueses?
Como não somos um país suficientemente rico para poder ter uma exclusiva prestação de saúde universal e gratuita, acho que deveríamos ter um modelo de saúde transversal e perfeitamente definido entre as várias instituições de saúde públicas, privadas e do setor social. A transversalidade que já existe na organização das equipas de profissionais de saúde seria também muito saudável que fosse transposta para a organização da sociedade, do ponto de vista político-organizacional e institucional. E, se não houvesse complexos ideológicos com a medicina privada, seria possível beber do seu modelo de gestão, que é muito mais rigoroso nas despesas com a mesma eficácia clínica.
Os sentimentos serão diferentes conforme as gerações. Os profissionais mais velhos sentem-se tristes e desalentados porque os sonhos e os ideais do SNS que tinham quando iniciaram a sua vida profissional foram correndo de forma muito positiva mas, a certa altura, deram lugar a uma enorme desorganização. Também os mais novos não se reveem na desorganização, na falta de garantias e na incapacidade de satisfazerem a sua vocação. Para as camadas mais jovens está a falhar muito a capacidade de sonhar e de prever. Ninguém sabe neste momento o que vai ser o SNS daqui a meia dúzia de anos e como vai evoluir.
Por falar em jovens, concorda com a abertura dos dois novos cursos de Medicina lecionados no ensino privado, na Universidade Católica e na Universidade Fernando Pessoa?
Só vejo vantagens na disponibilização de mais cursos de Medicina em Portugal. Em primeiro lugar, evita que os alunos ainda jovens tenham de ir para o estrangeiro e que depois aqui permaneçam. As experiências que conheço das universidades privadas dos países europeus são positivas e muitas delas tornaram-se também atração para alunos de outras nacionalidades. Por outro lado, não percebo os críticos do aumento de vagas. Problemático seria haver médicos a menos, agora haver médicos a mais, qual é o problema?
Como podemos melhorar o acesso aos cuidados de saúde em Portugal, e qual é o papel do setor privado nesse processo?
O setor privado tem atualmente capacidade de receber e tratar de forma competente as pessoas que precisam de cuidados de saúde. Por outro lado, também tem capacidade formativa pré-graduada e pós-graduada e capacidade de investigação. Por isso, neste momento, as instituições privadas de maior dimensão a nível nacional não têm qualquer inibição em assumir uma função semelhante às instituições do SNS. Por outro lado, recordo que a capacidade de resposta do SNS neste momento está muito próxima de estar esgotada. Existe ainda um senão, que é a dificuldade em aceder digitalmente aos dados dos utentes, pois os sistemas informáticos do serviço público e do privado não falam uns com os outros, o que leva a uma perda de continuidade, eventualmente repetição de exames ou de não compreensão imediata da situação. Mas espero que um dia esse constrangimento possa ser ultrapassado e que o cidadão tenha o seu caderno de saúde e de doença único, com acesso - reservado obviamente - aos profissionais de saúde estejam eles onde estiverem. Além disso, e após o drama recente que vivemos com a pandemia, deveria haver um esforço para organizar um plano de emergência transversal a todas estas instituições. Seria provavelmente, o início de um modelo novo da reestruturação da saúde a nível nacional. Penso mesmo que será um erro grande da atual geração responsável não prevenir e não preparar do ponto de vista teórico qualquer situação de catástrofe futura, como foi a pandemia. A sociedade merece essa preocupação por parte dos responsáveis atuais da saúde em Portugal.
A carreira única poderia ser um motor facilitador de todas essas mudanças?
Sim, a par da transversalidade na saúde, a carreira única e a mobilidade dos profissionais de saúde em geral e não apenas dos médicos - sem perda de graus de carreira e anos de trabalho - seriam um ato importante de atratividade para as várias instituições, sejam públicas ou privadas, permitindo um bom reconhecimento das capacidades profissionais e do seu tempo de trabalho.
Que modelo defende para a saúde em Portugal e para os portugueses?
Como não somos um país suficientemente rico para poder ter uma exclusiva prestação de saúde universal e gratuita, acho que deveríamos ter um modelo de saúde transversal e perfeitamente definido entre as várias instituições de saúde públicas, privadas e do setor social. A transversalidade que já existe na organização das equipas de profissionais de saúde seria também muito saudável que fosse transposta para a organização da sociedade, do ponto de vista político-organizacional e institucional. E, se não houvesse complexos ideológicos com a medicina privada, seria possível beber do seu modelo de gestão, que é muito mais rigoroso nas despesas com a mesma eficácia clínica.