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Negócios Iniciativas | Qual o futuro que queremos desenhar para a Saúde em Portugal?

O futuro do sistema de saúde esteve em debate num painel que reuniu decisores políticos e representantes dos setores público, privado e social. Sob o tema “O Sistema de Saúde Português: Qual o Futuro que Queremos Desenhar?”, contou com a moderação da ex-ministra da Saúde, Maria de Belém Roseira

18 de Março de 2025 às 22:00
Sérgio Lemos
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Foto em cima: O debate deixou clara a necessidade de reformulação do sistema de saúde para torná-lo mais eficiente e equitativo

André Peralta, subdiretor-geral da Saúde, destacou que o investimento na saúde em Portugal ronda os 2.500 euros por cidadão, representando 10% do PIB, com dois terços desse montante a serem provenientes do setor público. Apesar da falta de médicos ser uma preocupação recorrente, o dirigente sublinhou a evolução positiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS). "Há uma visão demasiado pessimista do SNS. Se olharmos para os últimos 20 anos, vemos um progresso significativo na saúde da população. Temos mais médicos, mais enfermeiros, mais produção hospitalar. O investimento que fazemos traduz-se num aumento da esperança média de vida", afirmou.

Já o presidente da União das Misericórdias, Manuel de Lemos, alertou para a dificuldade de integração das Misericórdias no sistema de saúde e criticou a falta de equidade territorial no acesso aos cuidados. "O setor social é como o fiambre na sanduíche: é a parte mais saborosa, mas também a mais fininha. Se não fosse o setor social, em algumas zonas do país não haveria nada", afirmou, apontando a falta de infraestruturas de saúde em regiões do interior.

O responsável recordou casos concretos de encerramento de serviços de saúde, obrigando populações envelhecidas a percorrer dezenas de quilómetros para acederem a cuidados básicos. "O cidadão pobre de Lisboa está a um documento de distância de um hospital, mas o cidadão pobre de Barrancos tem de percorrer 70 km para receber atendimento", lamentou.

Privados querem ser mais ativos em áreas como a oncologia ou vacinação

Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, defendeu que os hospitais privados não devem ser vistos como concorrentes do SNS, mas sim como complementares. "Os privados são responsáveis por 20% das urgências, 30% das cirurgias e 40% das consultas hospitalares. O que nos falta é uma melhor articulação entre setores, especialmente em áreas como a oncologia e a vacinação", destacou.

O responsável sublinhou ainda a necessidade de planeamento estratégico para os recursos humanos: "A OCDE já identificou que a Europa tem uma escassez de mais de um milhão de profissionais de saúde. Precisamos de formar mais médicos e criar condições para reter os que já temos. O problema não é apenas de falta de profissionais, mas também da sua distribuição e do ambiente de trabalho."

Óscar Gaspar propôs soluções concretas, como um maior envolvimento do setor privado na formação médica e uma melhor articulação na continuidade dos tratamentos: "Há doentes que iniciam tratamentos num hospital público e, por questões administrativas, acabam por mudar para um privado. Poderíamos garantir uma maior continuidade nos cuidados."

Rosa Valente de Matos, presidente da Unidade Local de Saúde de São José, apontou a ausência de planeamento estratégico como um dos principais desafios do sistema de saúde. Na sua opinião, "não podemos continuar a discutir os mesmos problemas há 20 ou 30 anos. Precisamos de um modelo de organização que trabalhe em equipa, que antecipe os problemas e que coloque os cidadãos no centro das decisões".

Além disso, "temos de aprofundar a complementaridade entre setores e evitar a competição, sobretudo em recursos humanos. Há hospitais privados que assumem um papel crucial, mas precisamos de uma estratégia concertada para definir o que cada setor pode e deve fazer", explicou, exemplificando de seguida com dois casos concretos. "Criámos a Clínica Nascer e Crescer, onde grávidas sem médico de família podem ser acompanhadas. Além disso, estabelecemos um sistema para que doentes que recorrem à urgência sem necessidade possam ser encaminhados para os centros de saúde."

O debate deixou clara a necessidade de reformulação do sistema de saúde para torná-lo mais eficiente e equitativo. A articulação entre setores, a formação de mais profissionais, a otimização dos recursos e o planeamento estratégico foram apontados como prioridades para garantir um futuro mais sustentável.

O encerramento da Conferência foi feito por Luís Drummond Borges, CCO da Lusíadas Saúde, que se congratulou pelo "debate produtivo", sublinhando ainda que "o foco deve ser sempre o doente, pois todos seja o setor publico, seja o setor social ou o setor privado". "Todos servimos a população portuguesa", reforçou.

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