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Negócios Iniciativas | É fundamental reformar o SNS e valorizar as carreiras

O setor da saúde em Portugal enfrenta desafios estruturais significativos, exigindo reformas urgentes para garantir a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS). No painel “O Futuro do Trabalho na Saúde: Dar a Volta a Uma Crise Anunciada”, especialistas das diferentes Ordens Profissionais discutiram soluções.

18 de Março de 2025 às 19:00
Sérgio Lemos
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Foto em cima: Os oradores foram unânimes ao dizer que é urgente reformar o SNS, valorizar carreiras e melhorar condições de trabalho para evitar o agravamento da crise.

Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos, destacou que "a falta de recursos humanos no SNS é um problema que se tem agravado ao longo dos anos". O envelhecimento da população e o aumento das doenças crónicas têm criado uma pressão adicional sobre os profissionais de saúde. "O mercado diversificou-se, e hoje os jovens médicos têm mais opções, seja no setor privado, social ou mesmo fora do país", explicou.

Para reverter esta tendência, é necessário tornar o SNS mais atrativo. "Temos de oferecer projetos aos médicos para o seu desenvolvimento, atualizar a remuneração para valores competitivos e valorizar a carreira médica, que é praticamente inexistente", afirmou. Alertou ainda para o impacto da falta de médicos nas regiões periféricas e zonas de fronteira, onde "alguns hospitais correm o risco de encerrar se nada for feito".

Além disso, Carlos Cortes apontou a necessidade de melhores condições de trabalho, nomeadamente a modernização de infraestruturas hospitalares e o investimento em tecnologia. "Não podemos continuar a trabalhar com sistemas obsoletos e sobrecarregar os médicos com burocracia que os afasta daquilo que realmente importa: cuidar dos doentes", reforçou.

Melhorar a situação dos enfermeiros

Ricardo Correia de Matos, do conselho diretivo da Ordem dos Enfermeiros, sublinhou que "a situação salarial dos enfermeiros em Portugal é ainda pior, comparativamente com os congéneres europeus". Apesar do aumento do financiamento no sistema de saúde, "isso não se traduziu em melhores condições de trabalho ou numa melhoria dos resultados assistenciais".

Para o enfermeiro, é fundamental "otimizar as competências dos diferentes profissionais de saúde, reduzindo desperdícios e melhorando a eficiência do sistema". Isso exige "coragem política" e uma "gestão estratégica dos profissionais de saúde".

O responsável destacou ainda a importância de definir uma carreira de enfermagem mais atrativa, que incentive os profissionais a permanecerem no SNS. "É impensável continuarmos a formar enfermeiros que depois partem para outros países porque não encontram condições dignas para exercer cá", lamentou.

Fuga de talentos para a indústria farmacêutica

Hélder Mota Filipe, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, referiu que "a escassez de farmacêuticos no SNS é relativa", mas destacou a fuga de talentos para a indústria farmacêutica. "Os farmacêuticos são frequentemente desviados para a indústria, que oferece melhores condições de progressão na carreira e remuneração", explicou.

"Um exemplo gritante é que os farmacêuticos do SNS não tiveram qualquer alteração salarial desde 1999. Foram precisos 25 anos para que houvesse um pequeno passo na direção certa", denunciou.

O bastonário dos Farmacêuticos alertou ainda para a necessidade de "rever a forma como o SNS gasta os seus recursos". "Estamos a aumentar exponencialmente a despesa com medicamentos, mas sem garantir que temos os profissionais certos para otimizar essa utilização", afirmou.

Temos de envolver todas as profissões de saúde num diálogo construtivoHelena Canhão
Diretora da NOVA Medical School

Sublinhou ainda que os farmacêuticos podem desempenhar um papel mais ativo na gestão dos medicamentos e na promoção da adesão terapêutica, aliviando a carga dos médicos e enfermeiros. "Temos de apostar numa maior integração dos farmacêuticos na estratégia global do SNS", concluiu.

"Plano concreto e decisões corajosas"

A representante da academia, Helena Canhão, diretora da NOVA Medical School, reforçou que "o diagnóstico está feito, agora temos de implementar soluções". Na sua opinião, é necessário um "plano concreto, com um cronograma definido e decisões corajosas".

Criticou também a politização das decisões na saúde. "As agendas pessoais e partidárias não se podem sobrepor ao bem comum", afirmou. "Temos de envolver todas as profissões de saúde num diálogo construtivo, para criar soluções que realmente beneficiem os utentes."

Além disso, defendeu um maior investimento na formação contínua dos profissionais de saúde. "Não basta formá-los e depois deixá-los à sua sorte. Precisamos de um modelo de formação ao longo da vida, que acompanhe a evolução da ciência e das necessidades do sistema", destacou.

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