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O seu coração esteve durante 33 anos no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Atualmente, abraça a experiência de trabalhar há 10 anos no Grupo Lusíadas Saúde, primeiro como diretor clínico do Hospital Lusíadas Lisboa e, mais recentemente, como presidente do Conselho Consultivo daquela instituição. Do alto da sua enorme experiência, Leopoldo Matos garante que o Serviço Nacional de Saúde, quase a fazer 44 anos, precisa ser reformulado.
Está numa posição privilegiada, de quem conhece bem as duas realidades - do setor público e do privado da saúde. O que há de melhor e de pior em cada uma delas?
No SNS, considero muito positiva a forte componente da aquisição e atualização de conhecimentos, além do trabalho em equipa, multidisciplinar, multifatorial e ainda de poder atender situações de sofrimento seja de quem for. Já o pior que tem o SNS é a imprevisibilidade das leis, das administrações, da capacidade de organização e ainda o espartilho permanente de indivíduos adultos, experientes profissionalmente, quer na gestão ou na direção dos serviços, que não têm praticamente autonomia. A atual gestão do SNS é, aliás, a grande imobilizadora do seu progresso, porque uma instituição que vai fazer 44 anos precisa de ser reformulada à luz da evolução da medicina, da ciência e da sociedade. Já no setor privado, numa instituição hospitalar grande - que é essa a minha experiência -, é possível uma maior agilidade e alguma autonomia, muito responsabilizada, para tomar decisões e uma capacidade de adaptação permanente, seja aos financiadores, à sociedade ou às pandemias, por exemplo. Por outro lado, destaco ainda o facto de numa instituição privada existir capacidade de investimento, de inovação, de aplicação de dinheiro quer na melhoria técnica, quer científica, e ainda na melhoria dos vencimentos dos profissionais de saúde, algo que no SNS é praticamente impossível devido ao subfinanciamento crónico.
Quais são as principais dificuldades e desafios que a saúde enfrenta em Portugal?
O principal desafio que enfrentamos é conseguir fazer uma campanha eficaz de literacia da população portuguesa, em relação à prevenção da doença e promoção da saúde. Aliás, penso que o excesso de casos na urgência - com um atendimento desorganizado, pouco eficiente e pouco compensador, quer para os profissionais, quer para quem o procura - está muito relacionado com a dificuldade que as pessoas sentem em avaliar se a sua situação é urgente ou não e se se devem dirigir por este ou por outro circuito que não o hospitalar.
Também seria muito bom que houvesse mais médicos de família, pois mais de 15% da população não tem um atribuído…
Sim, a verdade é que a eficácia dos hospitais também está comprometida pela ineficácia dos circuitos mais próximos, que não são da responsabilidade dos meus colegas da medicina geral e familiar ou de determinado centro de saúde, mas sim da má organização ou do tal imobilismo de que falávamos.
Depois, penso que outro dos grandes desafios a ultrapassar na saúde em Portugal é acabar com a inibição que existe, por razões ideológicas, na comunicação e colaboração franca e eficaz entre o SNS, o setor privado e o setor social. Esse complexo tem levado à falta de complementaridade, conduzido à desorganização total e ao não aproveitamento dos recursos que estão no terreno.
Está numa posição privilegiada, de quem conhece bem as duas realidades - do setor público e do privado da saúde. O que há de melhor e de pior em cada uma delas?
No SNS, considero muito positiva a forte componente da aquisição e atualização de conhecimentos, além do trabalho em equipa, multidisciplinar, multifatorial e ainda de poder atender situações de sofrimento seja de quem for. Já o pior que tem o SNS é a imprevisibilidade das leis, das administrações, da capacidade de organização e ainda o espartilho permanente de indivíduos adultos, experientes profissionalmente, quer na gestão ou na direção dos serviços, que não têm praticamente autonomia. A atual gestão do SNS é, aliás, a grande imobilizadora do seu progresso, porque uma instituição que vai fazer 44 anos precisa de ser reformulada à luz da evolução da medicina, da ciência e da sociedade. Já no setor privado, numa instituição hospitalar grande - que é essa a minha experiência -, é possível uma maior agilidade e alguma autonomia, muito responsabilizada, para tomar decisões e uma capacidade de adaptação permanente, seja aos financiadores, à sociedade ou às pandemias, por exemplo. Por outro lado, destaco ainda o facto de numa instituição privada existir capacidade de investimento, de inovação, de aplicação de dinheiro quer na melhoria técnica, quer científica, e ainda na melhoria dos vencimentos dos profissionais de saúde, algo que no SNS é praticamente impossível devido ao subfinanciamento crónico.
Quais são as principais dificuldades e desafios que a saúde enfrenta em Portugal?
O principal desafio que enfrentamos é conseguir fazer uma campanha eficaz de literacia da população portuguesa, em relação à prevenção da doença e promoção da saúde. Aliás, penso que o excesso de casos na urgência - com um atendimento desorganizado, pouco eficiente e pouco compensador, quer para os profissionais, quer para quem o procura - está muito relacionado com a dificuldade que as pessoas sentem em avaliar se a sua situação é urgente ou não e se se devem dirigir por este ou por outro circuito que não o hospitalar.
Também seria muito bom que houvesse mais médicos de família, pois mais de 15% da população não tem um atribuído…
Sim, a verdade é que a eficácia dos hospitais também está comprometida pela ineficácia dos circuitos mais próximos, que não são da responsabilidade dos meus colegas da medicina geral e familiar ou de determinado centro de saúde, mas sim da má organização ou do tal imobilismo de que falávamos.
Depois, penso que outro dos grandes desafios a ultrapassar na saúde em Portugal é acabar com a inibição que existe, por razões ideológicas, na comunicação e colaboração franca e eficaz entre o SNS, o setor privado e o setor social. Esse complexo tem levado à falta de complementaridade, conduzido à desorganização total e ao não aproveitamento dos recursos que estão no terreno.