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Mas, entretanto, está a acontecer outra coisa grave na Europa, que é a guerra na Ucrânia...
Certo, e a Europa, que viveu nos últimos 50 anos de apostar no Estado social, na saúde e educação universal para todos, está agora a perceber que o dinheiro não chega para tudo porque não colocou dinheiro na defesa. Temos o "guarda-chuva" americano da NATO, mas não chega. Com isto não quero dizer que não devemos manter essa aliança, mas penso que a Europa tem de se armar e gastar muito dinheiro em defesa e Portugal também. E a verdade é que o dinheiro não chega para tudo, nem que se faça a melhor gestão do mundo. Vamos ter de gastar mais dinheiro em defesa, com o envelhecimento e mais dinheiro com a inovação terapêutica.
E qual será a solução?
Existe uma solução, que passa pela necessidade absolutamente obrigatória de duplicar o PIB rapidamente - a SEDES apresentou recentemente, pelos seus 50 anos, um livro sobre esse assunto. Isto é, precisamos de ter crescimento económico. Se não tivermos economia nada disto é possível. Com menos fundos, este "bolo" vai ser mais direcionado para a defesa e menos para a saúde e, se assim for, vai ser tudo pior. Por isso, e para termos o dinheiro que precisamos para o aumento da despesa para a saúde e para a defesa, precisamos de ter mais economia. Depois, em segundo lugar, é essencial melhorar a gestão do sistema de saúde.
E como se faz isso?
Primeiro, dentro do SNS é fundamental ter uma direção executiva e uma central de zcompras "à séria". O diretor executivo já temos (risos), falta agora uma central de compras que esteja na mão da direção executiva, à semelhança do que fazem os hospitais privados. Depois, é essencial dividir o país em 35-40 unidades integradas de saúde, com uma gestão conjunta de hospitais, cuidados de saúde primários (CSP), cuidados continuados, lares, IPSS e cuidados paliativos. Tudo tem de estar ligado em rede. Precisamos cada vez mais de ter o hospital ao domicílio, mais hospital no lar, nas IPSS, nas misericórdias e mais médicos e enfermeiros de família, com os CSP e os hospitais em constante ligação, algo que atualmente só acontece nas Unidades Locais de Saúde (ULS). Há uma parte do país governada assim e outra não, mas no futuro, esse modelo ULS tem de ser uniformizado. Aliás, acredito que o país vai ficar todo em ULS, pois as Administrações Regionais de Saúde já não fazem sentido. Penso que este é o caminho certo, que defendo há 10 anos, e que trata de aproximar o topo da base.
Acha que a nova direção do SNS vai conseguir pôr esse plano em prática?
Sim. Aliás, este plano já está em andamento e penso que até ao final deste ano o mapa de ULS no país estará completo, com exceção dos centros urbanos. Esta é, para mim, a reforma primária dentro do SNS. Depois, há outra que é o financiamento, que, além de ter em conta os resultados em saúde (algo que as ULS têm), tem de seguir o doente. É preciso entender que para ter financiamento é fundamental tratar bem os doentes e que a concorrência é positiva. É, aliás, assim que funciona no sistema privado. E são estes aspetos que considero que vão gerar melhorias substanciais e imediatas na gestão. E, depois, existe ainda uma questão, que é mais difícil de resolver, a da articulação entre o sistema público, privado e social.
E o que tem acontecido é uma duplicação de exames, consultas, pagamentos…
Sim, as pessoas pagam várias vezes. Pagam impostos para ter SNS, metade paga seguros de saúde ou ADSE para ter privado e depois Portugal é ainda campeão nos pagamentos out of pocket. Não podemos pagar três vezes pela saúde. E só há uma maneira de resolver isso que é através da digitalização do processo. Por exemplo, criar um cartão de cidadão com todas as informações, que permita, quando a pessoa se dirige a um hospital ou centro de saúde, a disponibilização imediata do seu relatório clínico e todos os exames que fez, seja no privado ou no público, o que vai certamente poupar imenso tempo e procedimentos. Mas, infelizmente, não há comunicação entre os sistemas dentro do público, muito menos entre o público e o privado.
Certo, e a Europa, que viveu nos últimos 50 anos de apostar no Estado social, na saúde e educação universal para todos, está agora a perceber que o dinheiro não chega para tudo porque não colocou dinheiro na defesa. Temos o "guarda-chuva" americano da NATO, mas não chega. Com isto não quero dizer que não devemos manter essa aliança, mas penso que a Europa tem de se armar e gastar muito dinheiro em defesa e Portugal também. E a verdade é que o dinheiro não chega para tudo, nem que se faça a melhor gestão do mundo. Vamos ter de gastar mais dinheiro em defesa, com o envelhecimento e mais dinheiro com a inovação terapêutica.
E qual será a solução?
Existe uma solução, que passa pela necessidade absolutamente obrigatória de duplicar o PIB rapidamente - a SEDES apresentou recentemente, pelos seus 50 anos, um livro sobre esse assunto. Isto é, precisamos de ter crescimento económico. Se não tivermos economia nada disto é possível. Com menos fundos, este "bolo" vai ser mais direcionado para a defesa e menos para a saúde e, se assim for, vai ser tudo pior. Por isso, e para termos o dinheiro que precisamos para o aumento da despesa para a saúde e para a defesa, precisamos de ter mais economia. Depois, em segundo lugar, é essencial melhorar a gestão do sistema de saúde.
E como se faz isso?
Primeiro, dentro do SNS é fundamental ter uma direção executiva e uma central de zcompras "à séria". O diretor executivo já temos (risos), falta agora uma central de compras que esteja na mão da direção executiva, à semelhança do que fazem os hospitais privados. Depois, é essencial dividir o país em 35-40 unidades integradas de saúde, com uma gestão conjunta de hospitais, cuidados de saúde primários (CSP), cuidados continuados, lares, IPSS e cuidados paliativos. Tudo tem de estar ligado em rede. Precisamos cada vez mais de ter o hospital ao domicílio, mais hospital no lar, nas IPSS, nas misericórdias e mais médicos e enfermeiros de família, com os CSP e os hospitais em constante ligação, algo que atualmente só acontece nas Unidades Locais de Saúde (ULS). Há uma parte do país governada assim e outra não, mas no futuro, esse modelo ULS tem de ser uniformizado. Aliás, acredito que o país vai ficar todo em ULS, pois as Administrações Regionais de Saúde já não fazem sentido. Penso que este é o caminho certo, que defendo há 10 anos, e que trata de aproximar o topo da base.
Acha que a nova direção do SNS vai conseguir pôr esse plano em prática?
Sim. Aliás, este plano já está em andamento e penso que até ao final deste ano o mapa de ULS no país estará completo, com exceção dos centros urbanos. Esta é, para mim, a reforma primária dentro do SNS. Depois, há outra que é o financiamento, que, além de ter em conta os resultados em saúde (algo que as ULS têm), tem de seguir o doente. É preciso entender que para ter financiamento é fundamental tratar bem os doentes e que a concorrência é positiva. É, aliás, assim que funciona no sistema privado. E são estes aspetos que considero que vão gerar melhorias substanciais e imediatas na gestão. E, depois, existe ainda uma questão, que é mais difícil de resolver, a da articulação entre o sistema público, privado e social.
E o que tem acontecido é uma duplicação de exames, consultas, pagamentos…
Sim, as pessoas pagam várias vezes. Pagam impostos para ter SNS, metade paga seguros de saúde ou ADSE para ter privado e depois Portugal é ainda campeão nos pagamentos out of pocket. Não podemos pagar três vezes pela saúde. E só há uma maneira de resolver isso que é através da digitalização do processo. Por exemplo, criar um cartão de cidadão com todas as informações, que permita, quando a pessoa se dirige a um hospital ou centro de saúde, a disponibilização imediata do seu relatório clínico e todos os exames que fez, seja no privado ou no público, o que vai certamente poupar imenso tempo e procedimentos. Mas, infelizmente, não há comunicação entre os sistemas dentro do público, muito menos entre o público e o privado.