Outros sites Medialivre
Notícia

Inteligência Artificial: um grande passo rumo à medicina personalizada

A machine learning researcher Miriam Seoane Santos garantiu que o acesso aos dados permite um grande avanço em direção à medicina personalizada, algo que “não só é mais eficaz, como é muito mais humano”.

Teresa Alves Mendes 16 de Janeiro de 2024 às 15:00
“É na área da medicina que vamos ter um maior impacto da IA centrada nos dados”, destacou Miriam Seoane Santos, machine learning researcher.
“É na área da medicina que vamos ter um maior impacto da IA centrada nos dados”, destacou Miriam Seoane Santos, machine learning researcher. Duarte Roriz
  • Partilhar artigo
  • ...
Miriam Seoane Santos, data science advocater e machine learning researcher, foi à conferência a saber que a plateia queria a resposta à pergunta: Os dados salvam vidas? A sua intervenção deixou a resposta ao critério dos presentes, com apenas uma certeza absoluta : "A Inteligência Artificial representa um grande passo em direção à medicina personalizada, permitindo tratar cada doente consoante as suas características específicas, o que não só é mais eficaz, como é muito mais humano".

Antes dessa conclusão, que pode surpreender muitos, a investigadora do CISUC - Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra, fez a plateia imergir na realidade e complexidade da Inteligência Artificial (IA).

"Tem sido muito óbvio para nós, na última década, que a IA tem revolucionado as várias vertentes da medicina, desde o diagnóstico ao prognóstico, com a utilização da IA generativa e processamento de linguagem natural para analisar notas, relatórios, literatura clínica, fazer a monitorização contínua da máquina humana ou ajudar-nos a prever o risco na saúde. No entanto, estes algoritmos de IA acabam por assumir um protagonismo tão grande que nos esquecemos de que são baseados em dados", contextualizou Miriam.

É por isso que não se pode garantir que esta tecnologia venha a salvar mais vidas: "Se estes forem dados representativos e de qualidade, vamos ter previsões e soluções de IA confiáveis e precisas, mas, por outro lado, se forem imperfeitos, vamos ter sistemas enviesados, com um desempenho parco, o que no caso da medicina pode ter consequências muito nefastas, porque estamos a falar da vida de alguém".

"Os dados biomédicos são precisamente uma tempestade perfeita para acontecer este tipo de problemas - uma vez que são geridos por várias pessoas dentro da instituição, estão guardados em diversos formatos, podem estar desatualizadas, descentralizados, dando azo à existência de várias versões dos mesmos registos, incoerências… -, mas também é verdade que é na área da medicina que vamos ter um maior impacto da IA centrada nos dados, um paradigma que estamos a descobrir desde 2021 até agora", destacou a machine learning researcher.

No futuro, "a evolução da Inteligência Artificial estará profundamente vinculada à gestão eficaz da confiança, risco e segurança dos dados, com o desenvolvimento da IA TRISM (Trust, Risk and Security Management) e também da IA Responsável, que englobam questões críticas como equidade, transparência, auditoria e proteção de dados".

Miriam Seoane Santos realçou igualmente a "tendência emergente" da geração de dados sintéticos, criados artificialmente por computadores para simular dados reais, considerando que "oferece benefícios significativos, permitindo um desenvolvimento mais responsável da IA, reduzindo custos e esforços na aquisição de novos dados, promovendo a sua democratização e acelerando projetos de IA com ambientes de teste flexíveis".

Adicionalmente, "os dados sintéticos também abordam questões sobre a qualidade dos dados originais, alinhando-se com os princípios da IA Responsável, ao mitigar riscos e identificação de informações pessoais, constituindo um avanço que promete ser uma ferramenta flexível e poderosa para impulsionar o desempenho dos algoritmos de IA".

A especialista deixou ainda um exemplo das potencialidades da Inteligência Artifical num trabalho em que esteve envolvida. Em concreto, no processo de desenvolvimento de uma plataforma de sistema de apoio à decisão para doentes com carcinoma hepatocelular, a IA conseguir descobrir "uma subdivisão no estádio C, que mapeava dois grupos de doentes para um resultado muito diferente em termos de sobrevida e em termos de características", que só foi possível graças a "heterogeneidades que a IA consegue captar".

No final, Miriam Seoane Santos garantiu que há apenas uma certeza: com o acesso a estes dados "surge uma possibilidade muito maior de colaboração, de todos podermos contribuir para o desenvolvimento de novo conhecimento, atualização das guidelines clínicas, partilha de dados, a facilitação da aprovação de ensaios clínicos e protocolos de colaboração com universidades e outras entidades - e até o próprio desenho especializado de determinados "cohorts" com dados sintéticos poderá ser uma possibilidade se nos quisermos focar em determinados detalhes ou determinadas condições".
Mais notícias