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O último Innovation Scoreboard classificou Portugal como inovador moderado mas, como refere Carlos Moedas, 48 anos, comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, "ainda que estejamos abaixo da média europeia, apresentamos valores superiores aos de Itália ou Espanha". O responsável lembra que a União Europeia investe anualmente menos 150 mil milhões de euros na investigação do que os Estados Unidos .
A partir do seu ponto de observação, como é que olha para a investigação que se faz em Portugal, sobretudo com especial atenção para a inovação empresarial?
Como responsável do programa Horizonte 2020 tenho obviamente acompanhado de perto o desempenho das empresas portuguesas em termos de investigação e inovação. Tenho também visitado empresas, desde pequenas startups ainda em fase de incubação, até PME e grandes empresas.
O programa Horizonte 2020 tem tido um nível de participação de empresas sem precedentes, o que cria uma grande concorrência entre os participantes. Como instrumento aberto a todos, apenas beneficia as melhores das melhores, a excelência, sem quotas nacionais ou sectoriais.
No geral, a participação de Portugal tem sido positiva sobretudo em termos de investigação fundamental. Já em termos de participação das empresas, penso que Portugal tem ainda uma grande margem para melhorar o desempenho, tanto a nível das grandes empresas como das PME, mesmo se já se verificam resultados animadores a nível das startups.
Está-se na "terceira fase da revolução digital", a da inteligência artificial, em que seria fundamental a Europa liderar. Mas seria necessário aumentar o financiamento. É possível aumentar ainda mais o financiamento público?
Se olharmos para as três ondas da Internet de Steve Case, a Europa teve claramente desempenhos diferentes. A primeira onda foi sobre a construção da infraestrutura e foi liderada por nós: Tim Bernard-Lee, Nokia, Ericsson, e outros. A segunda onda focou-se na construção sobre a infraestrutura, foi o surgimento das aplicações. Foi o digital a ser melhor que o físico. Foi sobre o Google, o Facebook, Uber e outras ferramentas digitais importantes.
A terceira onda será totalmente diferente e acredito que é uma óptima oportunidade para a Europa e para os Portugueses. Será, na minha opinião, sobre três coisas: o retorno da inovação às suas raízes científicas e tecnológicas (Inteligência Artificial, Omics, and Blockchain); maior custo de capital e necessidade de perseverança no investimento; e maior complexidade regulatória, uma vez que o digital irá finalmente progredir para áreas essenciais e altamente reguladas da nossa economia, como a saúde e a energia.
Actualmente, o Horizonte 2020 apenas consegue financiar ¼ dos projectos que avaliamos como excelentes. Seria preciso juntar mais 60 mil milhões de euros aos 77 mil milhões de euros existentes para financiar todos os projectos de excelência. O Parlamento Europeu, tal como os representantes universitários e empresariais, já pediu para duplicar o orçamento do sucessor do Horizonte 2020. Os 28 ministros da ciência são unânimes em pedir um aumento do orçamento. O comissário europeu para o orçamento foi sensível aos meus argumentos e também defende um aumento do orçamento. Cabe agora ao Conselho Europeu ser consequente e transformar os discursos em decisões.
Como é que se atrai mais financiamento privado?
A Comissão Juncker tem estado muito empenhada em atrair investimentos para a UE. Dou-lhe dois exemplos. Primeiro, o Fundo Europeu para os Investimentos Estratégicos, conhecido como Plano Juncker, tem estimulado o investimento, emprego e crescimento no nosso país. Por um lado, através de apoio num total de 800 milhões de euros que já beneficiou mais de 2.000 PME portuguesas. Por outro lado, através de investimentos em 17 projectos de infraestruturas que ascendem a 1,1 mil milhões de euros. Portugal é de momento o quarto maior beneficiário deste fundo entre os seus parceiros europeus.
Segundo, através da criação de um "fundo de fundos" de capital de risco, no qual estamos a trabalhar para atrair o financiamento privado. E o capital paciente. O capital de risco mobilizou 5 vezes menos na Europa do que nos Estados Unidos. O fundo médio na Europa é cerca de metade do fundo médio nos EUA. E o capital de risco era 14% público em 2008 e 35% hoje.
Decidimos avançar com um Fundo europeu que congregue fundos de investimentos privados, que tenha dimensão em pelo menos 5 países. Por cada euro que a UE ponha neste fundo, os gestores do Fundo europeu devem ir buscar 3 euros a fundos de investimentos privados. Conseguimos libertar 400 milhões de euros de verbas europeias, o que significa na prática que o Fundo de Fundos terá até 1,6 mil milhões de euros.
Região Centro e Inovação
• No total das 220 regiões europeias localiza-se na 121ª posição.
Bom desempenho
• Despesa das empresas em inovação (excepto I&D).
Fonte: Regional Innovation Scoreboard-2017
O que é a Plataforma Empresarial
Numa altura em que a economia nacional está a dar sinais de forte recuperação, estamos a percorrer o país com vários fóruns de debate para discutir e analisar diversas vertentes económicas, numa perspectiva local e nacional, com a participação de destacados oradores. A Plataforma Empresarial é uma iniciativa do Bankinter em parceria com o Jornal de Negócios.
Entrada livre
"Inovação - A Alavanca da Economia" é o tema da próxima conferência da Plataforma Empresarial, uma iniciativa do Bankinter e o Negócios, que se realiza a 5 de Abril, a partir das 16H30 no Montebelo Vista Alegre Ílhavo Hotel em Ílhavo.
Conta com a presença, entre outras personalidades, de Carlos Moedas, Comissário Europeu para a Investigação, Ciência e Inovação. A entrada e a participação no debate é livre, sujeita a inscrição no site www.plataformaempresarial.negocios.pt.
A partir do seu ponto de observação, como é que olha para a investigação que se faz em Portugal, sobretudo com especial atenção para a inovação empresarial?
Como responsável do programa Horizonte 2020 tenho obviamente acompanhado de perto o desempenho das empresas portuguesas em termos de investigação e inovação. Tenho também visitado empresas, desde pequenas startups ainda em fase de incubação, até PME e grandes empresas.
O programa Horizonte 2020 tem tido um nível de participação de empresas sem precedentes, o que cria uma grande concorrência entre os participantes. Como instrumento aberto a todos, apenas beneficia as melhores das melhores, a excelência, sem quotas nacionais ou sectoriais.
No geral, a participação de Portugal tem sido positiva sobretudo em termos de investigação fundamental. Já em termos de participação das empresas, penso que Portugal tem ainda uma grande margem para melhorar o desempenho, tanto a nível das grandes empresas como das PME, mesmo se já se verificam resultados animadores a nível das startups.
Está-se na "terceira fase da revolução digital", a da inteligência artificial, em que seria fundamental a Europa liderar. Mas seria necessário aumentar o financiamento. É possível aumentar ainda mais o financiamento público?
Se olharmos para as três ondas da Internet de Steve Case, a Europa teve claramente desempenhos diferentes. A primeira onda foi sobre a construção da infraestrutura e foi liderada por nós: Tim Bernard-Lee, Nokia, Ericsson, e outros. A segunda onda focou-se na construção sobre a infraestrutura, foi o surgimento das aplicações. Foi o digital a ser melhor que o físico. Foi sobre o Google, o Facebook, Uber e outras ferramentas digitais importantes.
Ainda que estejamos abaixo da média europeia, apresentamos valores superiores aos de Itália ou Espanha. Carlos Moedas
comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação
comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação
A terceira onda será totalmente diferente e acredito que é uma óptima oportunidade para a Europa e para os Portugueses. Será, na minha opinião, sobre três coisas: o retorno da inovação às suas raízes científicas e tecnológicas (Inteligência Artificial, Omics, and Blockchain); maior custo de capital e necessidade de perseverança no investimento; e maior complexidade regulatória, uma vez que o digital irá finalmente progredir para áreas essenciais e altamente reguladas da nossa economia, como a saúde e a energia.
Actualmente, o Horizonte 2020 apenas consegue financiar ¼ dos projectos que avaliamos como excelentes. Seria preciso juntar mais 60 mil milhões de euros aos 77 mil milhões de euros existentes para financiar todos os projectos de excelência. O Parlamento Europeu, tal como os representantes universitários e empresariais, já pediu para duplicar o orçamento do sucessor do Horizonte 2020. Os 28 ministros da ciência são unânimes em pedir um aumento do orçamento. O comissário europeu para o orçamento foi sensível aos meus argumentos e também defende um aumento do orçamento. Cabe agora ao Conselho Europeu ser consequente e transformar os discursos em decisões.
Como é que se atrai mais financiamento privado?
A Comissão Juncker tem estado muito empenhada em atrair investimentos para a UE. Dou-lhe dois exemplos. Primeiro, o Fundo Europeu para os Investimentos Estratégicos, conhecido como Plano Juncker, tem estimulado o investimento, emprego e crescimento no nosso país. Por um lado, através de apoio num total de 800 milhões de euros que já beneficiou mais de 2.000 PME portuguesas. Por outro lado, através de investimentos em 17 projectos de infraestruturas que ascendem a 1,1 mil milhões de euros. Portugal é de momento o quarto maior beneficiário deste fundo entre os seus parceiros europeus.
Segundo, através da criação de um "fundo de fundos" de capital de risco, no qual estamos a trabalhar para atrair o financiamento privado. E o capital paciente. O capital de risco mobilizou 5 vezes menos na Europa do que nos Estados Unidos. O fundo médio na Europa é cerca de metade do fundo médio nos EUA. E o capital de risco era 14% público em 2008 e 35% hoje.
Decidimos avançar com um Fundo europeu que congregue fundos de investimentos privados, que tenha dimensão em pelo menos 5 países. Por cada euro que a UE ponha neste fundo, os gestores do Fundo europeu devem ir buscar 3 euros a fundos de investimentos privados. Conseguimos libertar 400 milhões de euros de verbas europeias, o que significa na prática que o Fundo de Fundos terá até 1,6 mil milhões de euros.
Região Centro e Inovação
• No total das 220 regiões europeias localiza-se na 121ª posição.
• No grupo das 85 regiões inovadoras moderadas encontra-se na 8ª posição.
Bom desempenho
• Despesa das empresas em inovação (excepto I&D).
• Proporção de PME com inovação intramuros.
• Proporção de PME com inovação de produto/processo ou de marketing/organizacional.
Fonte: Regional Innovation Scoreboard-2017
O que é a Plataforma Empresarial
Numa altura em que a economia nacional está a dar sinais de forte recuperação, estamos a percorrer o país com vários fóruns de debate para discutir e analisar diversas vertentes económicas, numa perspectiva local e nacional, com a participação de destacados oradores. A Plataforma Empresarial é uma iniciativa do Bankinter em parceria com o Jornal de Negócios.
Entrada livre
"Inovação - A Alavanca da Economia" é o tema da próxima conferência da Plataforma Empresarial, uma iniciativa do Bankinter e o Negócios, que se realiza a 5 de Abril, a partir das 16H30 no Montebelo Vista Alegre Ílhavo Hotel em Ílhavo.
Conta com a presença, entre outras personalidades, de Carlos Moedas, Comissário Europeu para a Investigação, Ciência e Inovação. A entrada e a participação no debate é livre, sujeita a inscrição no site www.plataformaempresarial.negocios.pt.