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Agricultura perde 655 mil empregos

Em pouco mais de três décadas, a actividade agrícola viu desaparecer sete em cada dez pessoas que constituíam a sua mão-de-obra, a maior parte da qual era não assalariada.

28 de Maio de 2015 às 11:28
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Em 35 anos, a agricultura em Portugal perdeu 70% da sua mão-de-obra. Isto é, há menos 655 mil trabalhadores do que em 1980. Esta quebra concentrou-se na mão-de-obra "não-assalariada", resultando numa agricultura menos relevante para a economia nacional, mas mais profissionalizada.

Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal tem 277 mil pessoas a trabalhar neste ramo de actividade. Muito longe dos 932 mil do início dos anos 80. O que não mudou foi o seu carácter informal, com 77% da mão-de-obra a ser classificada como não-assalariada. Em 1980, essa percentagem era 81%.

A diminuição mais significativa do emprego ocorreu durante a década de 80. Em apenas 11 anos, 427 mil pessoas deixaram de trabalhar na agricultura (quase todas não-assalariadas).

A perda de mão-de-obra é apenas um dos sintomas da diminuição do peso deste sector. Se olharmos para a evolução do seu valor acrescentado bruto (VAB) durante esse período observa-se uma contracção de 31%. Se o ponto de partida for o melhor ano (1987), a queda é ainda maior (46%).

Neste caso, grande parte da perda de valor ocorreu entre o final da década de 80 e 1998, tendo-se assistido a uma estagnação desde essa altura (excluindo o impacto da inflação). Numa análise que também agrega as pescas e a silvicultura, o peso da agricultura caiu de 5,4% da produção nacional em 1995 para 2,3% em 2014.

A produtividade agrícola portuguesa é equivalente a metade da média dos 28 países da União Europeia. 

De uma perspectiva mais geral, a agricultura - tal como a indústria num período mais recente - perdeu terreno face aos serviços. Mas tornou-se também mais profissional. Por exemplo, olhando apenas para o passado recente, é verdade que houve perda de mão-de-obra, mas também um aumento de produtividade desde 2009.

Além disso, regista-se também um crescimento das sociedades agrícolas por oposição a produtores singulares, uma transformação que se traduz em mais eficiência e na adopção de uma gestão mais profissional.

O INE nota que "apesar desta evolução positiva, a agricultura portuguesa continua a apresentar indicadores laborais pouco competitivos quando comparados com a média da UE 28", com uma produtividade equivalente a metade da média comunitária.

Metade do território português é utilizado para explorações agrícolas, mas com uma prevalência ainda muito elevada de explorações de pequena dimensão económica, pelo menos quando comparada com a Europa. O valor de produção padrão em Portugal são 17,1 mil euros por exploração agrícola, em comparação com os 25 mil euros na média da UE.


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Maioria não vive da agricultura

Embora sejam cada vez menos os portugueses que trabalham na agricultura, o sector continua a não ser a principal actividade para a esmagadora maioria da mão-de-obra. "Apenas 6,2% dos produtores agrícolas vivem exclusivamente da actividade da exploração agrícola", escreve o INE. Na realidade, em mais de oito em cada dez famílias de produtores agrícolas a principal fonte de rendimento é exterior à agricultura, com destaque para as pensões e reformas (65,3%). Isso é visível também na informalidade da mão-de-obra, 77% da qual é não-assalariada. O típico agricultor português é homem (68%), tem mais de 65 anos (52%), tem qualificações abaixo de ensino superior (94%) e trabalha 21,3 horas por semana. Ainda assim, é de notar que poucos pensam em deixar esta actividade. Mais de 95% pretende continuar nos próximos dois anos, devido ao valor afectivo (48%) e por ser um complemento ao rendimento familiar (31%).

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