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Agricultura precisa de investimento estrangeiro

Um grupo de responsáveis da agricultura juntou-se para debater o sector, que vive um momento único mas com riscos. Eis o resultado de uma reflexão que alerta para os desafios a vencer.

28 de Maio de 2015 às 11:36
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Numa reunião à porta fechada, a proposta foi falar livremente do sector agrícola com uma regra: tudo pode ser escrito, nada pode ser atribuído.


A agricultura vive um momento único. A banca sabe disso e também se junta a esse momento. Os fundos comunitários que vão começar a chegar ajudam. Mas os alertas são deixados. A agricultura não é um sector no qual se ganhe dinheiro rapidamente, não é um sector de especulação. Exige sofrimento, tem margens apertadas e tem um elevado risco.

Conselho: quem pensa no curto prazo não pense na agricultura. Alerta: "há muita gente jovem que está a investir e não está suficientemente elucidado sobre as condições que deve reunir para poder vir para o sector, por isso, há que ter um pouco de moderação no entusiasmo que se vive". Por isso, ainda é cedo para concluir se "o regresso à terra está a ser feito da forma mais adequada".

Nos últimos tempos terá havido um rejuvenescimento do sector, mas há muita mortandade de jovens agricultores. É preciso perceber quantos vão conseguir permanecer.

"Hoje em dia fazem-se projectos de investimentos para justificar a instalação de jovens agricultores com base em planos que não vão acontecer". Fala-se dos casos dos mirtilos, pequenos frutos, hortícolas forçadas em estufas, etc. "São uma construção financeira e uma folha de excel, não sustentáveis".

O sector está a viver um bom momento, mas depara-se com custos de produção elevados - energia, a água - e com preços de venda baixos. Acresce a dificuldade de chegar aos mercados. O interno altamente concentrado na distribuição. O externo difícil de alcançar e com grau de exigência de tempo e capital grandes. As exportações são hoje relevantes também para este sector. Mas falta capacidade comercial e de aumentar produções.

"Neste momento é nítido que precisamos de investimento estrangeiro", havendo necessidade de se facilitar a vida a quem investe. Investimento estrangeiro para a agro-indústria, mas não só. Sem capital em Portugal, os investidores estrangeiros podem ser a opção para capitalizar os empresários agrícolas, que procuram dimensão e valor acrescentado. "É muito importante para aportar capital, conhecimento e desenvolvimento". Também podem aportar mercados externos.

"Há muitos sectores em que podíamos estar a fazer coisas novas, por exemplo no Alqueva, e não estamos por falta de empresários com escala". O investimento do Alqueva passou muito por Espanha. "O problema do país é de investimento e não vejo que possa ser outro que não estrangeiro".

É que escala requer capacidade financeira. E essa nunca foi conseguida pelo empresariado nacional. Pondo a questão de outra forma: Nunca houve um Alfredo da Silva [criador da CUF] da agricultura. Ainda assim os agricultores investiram mais de sete mil milhões de euros nos últimos cinco anos. "Mais do que custaria o TGV".


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Floresta quer melhores acordos

Ainda que estejam integrados no grande sector Agricultura, Silvicultura e Pesca, as duas últimas foram deixadas de fora da discussão neste grupo. As florestas, e também as pescas, dariam para debates autónomos. A floresta está hoje no topo deste grande sector, mas tem contribuído para agravar a balança comercial. Isto porque não há produção silvícola suficiente para a capacidade industrial instalada. E é à indústria que os recados são deixados neste grupo de discussão: é preciso melhor comunicação entre a produção e a indústria. "Os acordos podiam ser melhores". Há mesmo quem, no grupo, aponte o dedo: "A ideia que os produtores têm menor tonelagem por hectare do que as celuloses em parte é verdade, mas também porque a indústria não quer dar nem 'know how' nem melhores plantas". Ou seja, não conseguem mais tonelagens por hectare por falta de tecnologia que não é transmitida aos produtores.

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