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O fruto proibido está mais apetecido

A Ferreira da Silva é, aos 30 anos, a quinta empresa do concelho que mais vende para fora. Mais de 10 mil toneladas de pêras e maçãs do Oeste chegaram ao exterior no ano passado.

28 de Agosto de 2018 às 15:33
A Ferreira da Silva começou por ser uma empresa importadora, mas passou a ter produção própria e agora assumiu um carácter mais exportador. David C. Santos
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"Felizmente, parece que o sol está a chegar" ao Oeste, congratula-se Silvana Chande, técnica oficial de contas da Ferreira da Silva. O Verão tardio não só atrasa a colheita como interfere na doçura, no sabor e na cor das maçãs Royal Gala e das pêras-rocha, os produtos centrais do negócio da empresa, que há quatro anos investiu numa primeira quinta para produção própria, no Carvalhal.

Nos terrenos ondulados da Casa Agrícola da Gafa, a Ferreira da Silva concentra-se nos frutos que vão ajudar a conduzir a nova missão: afirmar o produto nacional, expandindo a comercialização para novos destinos. Mas nos negócios da terra, já se sabe, nada é certo. Este ano, por exemplo, foi complicado: além das surpresas do clima - a Associação Nacional dos Produtores de Pêra -Rocha estima uma quebra entre 15% e 25% na produção deste ano -, uma floração escalonada baralhou os tempos da fruticultura. Ainda assim, se tudo correr bem, as pêras e maçãs hão-de chegar aos pavilhões do Vale da Murta, em A-dos-Cunhados, antes do final de Agosto, prontas para serem seleccionadas, calibradas, embaladas e comercializadas em Portugal e além-fronteiras.

Brasil e Marrocos são dos principais mercados de exportação. Estamos a crescer muito na América Latina, mas também a apostar no Médio Oriente e na Ásia. O foco é  diversificar. Susana Marques
Sócia-gerente da Ferreira da Silva

A Ferreira da Silva era, em 2016, a terceira maior distribuidora de fruta da região Oeste, segundo os dados da Informa D&B. Nessa altura, ainda não tinham dado fruto as pereiras e macieiras da propriedade acompanhada por André Baltazar, que recebe o Negócios no final de um longo dia de monda, ou seja, da limpeza das árvores de ramos e frutos em excesso. A colheita é um dos períodos mais difíceis, até porque a falta de mão-de-obra no sector primário faz-se sentir de forma aguda na região. "Temos muitos tailandeses e nepaleses", constata André. Neste segundo ano de produção, as pequenas árvores estão carregadas ao longo de 70 hectares: 40 são destinados à maçã, 20 à pêra-rocha e sete ao novo elemento da quinta, a pêra Williams, que daqui a dois anos já deverá estar a ser colhida dos ramos.

Até ao ano passado, a empresa comprava exclusivamente a produtores da zona, mas, pesando os prós e contras, considerou que o risco de uma produção própria compensaria. "Se o temporal que aconteceu ainda há pouco tempo no Norte tivesse sido aqui, seria catastrófico. Mas esse é um risco que iremos sempre correr", constata Susana Marques, sócia-gerente. Mesmo estando "sempre dependentes do São Pedro", como diz Silvana Chande, é possível, ainda assim, adoptar tácticas de prevenção. "Imaginemos que há uma previsão de queda de granizo. Os nossos técnicos de campo preparam as plantas para essa eventualidade, para minorar o impacto".

A máquina no lugar do homem

A Ferreira da Silva começou por ser uma empresa importadora (ler "da manga tropical à pêra do Oeste"), mas hoje essa vertente está estabilizada contra uma exportação em crescimento. "Optámos por nos concentrar mais no nosso produto, nacional, com enfoque na pêra e na maçã", afirma Silvana Chande.


33,5
Negócios
Foi a facturação da Ferreira da Silva em 2016, segundo dados da Informa D&B.

30%
De exportações
30 a 35% do volume de negócios da empresa deve-se a exportações.

54,4%
Fora da UE
A maioria das vendas no exterior ocorreu no mercado extra-comunitário em 2016.

30
Idade
Foi em 1988 que a empresa arrancou. Em 1993 foi adquirida pelos actuais sócios.


A nova quinta, onde a empresa investiu 4,5 milhões de euros, foi a maior aposta dos últimos anos, juntamente com a compra de uma nova calibradora (de 3,5 milhões de euros) e a construção (em curso) de um novo pavilhão de 8000 metros quadrados, co-financiado pelo Programa de Desenvolvimento Rural. A calibradora, que é a nova coqueluche, "vai permitir ter menos pessoal", uma realidade com que a Ferreira da Silva se congratula, porque também no sector do embalamento "recrutar mão-de-obra é uma das grandes dificuldades", reconhece Silvana.

No novo pavilhão, que deverá estar pronto durante o mês de Agosto, o cenário será de azáfama entre câmaras frigoríficas e funcionários às voltas com empilhadoras, tapetes rolantes, sacos e caixas, pêras portuguesas mas também abacaxis americanos, batata-doce, romãs, limas, toranjas, melancias. A importação e o embalamento não param durante o ano. Da nova quinta, uma grande parte dos frutos seguirá para a América Latina, mas também para o Médio Oriente e alguns países asiáticos. Até à Primavera, camiões carregados com o nome Ferreira da Silva vão andar na estrada.


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