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Tem vários projectos em mãos, como a requalificação de uma parte da cidade, o Centro de Artes e Criatividade, o Museu do Brinquedo… Em que fase se situa a cidade de Torres Vedras?
A cidade está em franco crescimento. O Portugal 2020 veio dar um contributo essencial nos modelos de regeneração urbana e, neste momento, no âmbito do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU), estamos com um investimento aprovado de cerca de 12 milhões de euros. Até 2021-2022, teremos um conjunto de acções significativo e o Centro de Artes e Criatividade é o projecto-âncora. Em termos de fundos comunitários, além destes 12 milhões de euros, temos também aprovados oito milhões de euros para as áreas da saúde, educação e protecção costeira na adaptação às alterações climáticas.
Mas também recorreram à banca…
Isso é uma outra dimensão, que tem a ver com a nossa rede de equipamentos educativos. O concelho tem 407 km2 de área e 13 freguesias, sendo que 20 mil pessoas vivem na cidade e 60 mil fora dela. Na última década construímos cerca de dez centros educativos e ainda nos faltam outros dez. Queremos construí-los até ao final deste mandato e, para isso, temos de investir 32 milhões de euros, aí recorrendo à banca. Mas também podemos vir a ter financiamento [comunitário] para isso…
Quais considera serem os sectores económicos prioritários no concelho?
O sector primário é o que alavanca o território. Foi na vinha e no vinho que os povos que aqui viveram começaram a ter a sua actividade económica e essa matriz mantém-se. Hoje, Torres Vedras está na primeira linha da produção agroalimentar. Mas o território afirma-se pela sua diversidade. Temos desde nano-empresas até organizações com 1.200 colaboradores. Acabou de inaugurar, em Santa Cruz, uma unidade de hotelaria, um sector importante, porque a capacidade actual não chega para a procura. Depois, há outra questão de relevo, que é termos atingido o pleno emprego. No sector primário, aliás, já temos de importar mão-de-obra. Temos, também, atraído o investimento de empresas, como aconteceu com a multinacional francesa Elis, e queremos continuar nesse caminho.
Foram recentemente à Irlanda, com o objectivo de atrair investidores. O que resultou dessa visita?
Estamos a trabalhar sobretudo para captar investimento na área da hotelaria e temos boas expectativas.
Mas há alguma negociação em curso?
Estamos a trabalhar para as Termas dos Cucos.
Quando se fala em turismo em Torres Vedras, o foco é o surf?
Temos quatro áreas nas quais nos estamos a focar: o turismo cultural, de natureza, de desportos e de mar e sol. O surf faz parte destas duas últimas áreas; na questão cultural, temos o activo diferenciador das Linhas de Torres; e no turismo de natureza tem especial relevo a zona costeira e o espaço integrado na rede Natura 2000. Estamos a trabalhar para a criação de uma área marinha protegida entre a praia Azul e a Assenta. Depois, um dos projectos que queremos desenvolver é um centro de investigação e inovação na área da gastronomia e dos vinhos.
Torres Vedras entra nos Vinhos de Lisboa mas pertence ao Turismo do Centro. Isso não prejudica a promoção do concelho?
É o velho problema da organização administrativa. Com a descentralização estamos a dar um passo, mas temos de fazer algo mais. Sou um adepto incondicional da regionalização e, enquanto o nosso país não estiver ao nível dos nossos congéneres europeus no plano da autonomia, dificilmente conseguimos alcançar determinados objectivos. Torres Vedras tudo tem a ganhar com este projecto dos Vinhos de Lisboa, mas no enquadramento do Turismo do Centro, que vai de Torres Vedras à Guarda, é impossível vender o território de uma forma integrada.
Onde aplicaria o orçamento se tivesse maior autonomia?
Foi criado o mito de que não havia necessidade de mais rodovia no nosso país e agora Portugal está com dificuldade de negociar com a Comissão Europeia. Para nós há uma via fundamental para as exportações, que o Estado, só com o seu orçamento, dificilmente conseguirá fazer. Falo do IC11, entre Peniche, Lourinhã, Torres Vedras, Sobral de Monte Agraço e Arruda. Por dia, saem de Torres Vedras 200 a 250 camiões de semi-reboque de legumes que abastecem o mercado nacional e europeu. Portanto, a dinâmica do tecido empresarial não está a ser acompanhada de infra-estruturas.
O homem do turismo
Carlos Bernardes está à frente da Câmara de Torres Vedras desde 2015, altura em que, como vice-presidente, foi chamado a substituir Carlos Miguel, escolhido por António Costa para integrar o Governo como secretário de Estado das Autarquias Locais.
Licenciado em Gestão de Empresas Turísticas e Hoteleiras e doutorado na área de turismo, no ano passado, viu-se envolvido num caso de alegado plágio relacionado com a sua tese de doutoramento. O Ministério Público abriu um inquérito para investigar o trabalho sobre "As linhas de Torres, um destino turístico estratégico para Portugal", da autoria do autarca do PS.