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Lá em cima, a cerca de 30 metros do solo, José Teixeira comanda a grua que eleva os contentores do navio Anna Shepers e rapidamente os coloca nos camiões que, um a um, em fila indiana, se vão posicionando no cais sul do Terminal de Contentores de Leixões (TCL).
Dia 8 de Setembro de 2016. São 16h50 e há ainda muito trabalho pela frente. Em operação desde as 9h08, a descarga de 300 contentores deste navio alemão prossegue a bom ritmo. Já o pórtico que faz o movimento inverso, só há pouco é que começou a acelerar: "Falta carregar 306 de um total de 400", monitoriza Álvaro Sérgio Silva, director operacional do TCL, que prevê que "entre as 22h30 e as 23h tudo esteja concluído".
José Teixeira , o manobrador de serviço no pórtico de descarga, desceu entretanto à terra. "Tenho 58 anos, trabalho aqui no porto há 40 e há 20 nos pórticos", conta, com as mãos firmes à cintura e os olhos a pedir descanso. "É um trabalho desgastante, principalmente a nível visual – concentração permanente, sempre com os olhos bem abertos", realça.
A trabalhar desde as 10h, já subiu e desceu do pórtico uma série de vezes. "Trabalhamos duas horas, descansamos outras duas...", explica. Voltará ainda a subir à cabina para concluir o trabalho do TCL no Anna Shepers, navio de 1997 com 208 metros de comprimento e 30 de largura. Nos mares desde 1997, chegou de Algeciras e vai rumar a Luanda, de onde sairá para Walvis Bay, na Namíbia.
"É o nosso melhor grueiro", garante Álvaro Sérgio Silva, confidenciando que Teixeira tem quatro familiares que também labutam no porto de Leixões. O gestor do TCL irradia orgulho na sua equipa e na organização de trabalho do terminal, que é reconhecido pela sua eficiência e que compara bem com os melhores exemplos internacionais.
Chegar e zarpar
"Temos dos melhores indicadores de tempo a nível europeu – o atendimento médio por camião ronda os 11 minutos", afiança. Mais: com uma estrada exclusiva de acesso ao porto de Leixões e uma portaria única, a que acresce a desmaterialização de processos, o tempo médio de permanência no porto por camião é de 39 minutos.
É a jogar esta espécie de Tetris que o terminal faz negócio – a parquear os contentores, em terra e nos navios, de forma a que todos saibam perfeitamente onde pôr e tirar. No mais curto espaço de tempo, sendo que os contentores (a uma média de mil por dia) são parqueados e organizados por navio, destino e peso.
O terminal trabalha ininterruptamente, dia e noite, durante os sete dias da semana. Não entram camiões no porto durante a madrugada nem ao fim-de-semana, mas os pórticos (que elevam até 75 mil toneladas, ou seja, dois contentores ao mesmo tempo) estão sempre a carregar e a descarregar navios, a uma média de 35 contentores por hora.
O TCL tem seis pórticos (cada um custa cerca de 2,5 milhões de euros) de cais e 12 de parque nos terminais norte e sul em Leixões. E é precisamente para o terminal sul que existe o velho e urgente projecto de expansão, para aumentar a sua capacidade em 30%.
Sentado numa sólida performance económico-financeira (fechou 2015 com uma facturação de 54,9 milhões de euros e lucros de 7,2 milhões), o TCL vê-se, porém, aflito para jogar mais Tetris – há anos que vem ultrapassando a sua capacidade de 650 mil TEU (medida padrão de um contentor), quando as normas internacionais alertam para a necessidade de existir uma folga de 20%.
E culpa os sucessivos governos: "O poder político não conhece a actividade portuária. Só diz disparates. Temos um accionista [grupo turco Yildirim] pronto a investir e ninguém é capaz de dar resposta", lamenta Álvaro Sérgio Silva.
O presidente do Terminal de Contentores de Leixões (TCL), Lopo Feijó, critica severamente a postura dos sucessivos governos em relação à (urgente) expansão desta infra-estrutura portuária.
A expansão do TCL, que está a "rebentar pelas costuras", continua em ponto-morto. Há navios a serem desviados para outras paragens?
Há navios a serem desviados. A capacidade do terminal está calculada em 650 mil TEU (medida padrão de um contentor), que já ultrapassámos em dois anos sucessivos, quando as normas internacionais dizem que um terminal deve ter sempre uma folga de 20%.
Há um ano, a imprensa noticiou que o Governo tinha chegado finalmente a acordo com o TCL, que iria assumir todo o investimento na sua expansão em troca de mais cinco anos de concessão. O que é que falhou?
O Governo apresentou condições absolutamente inaceitáveis: dava-nos mais cinco anos de concessão em troca do nosso investimento de 43 milhões de euros, que teria de ser executado em dois anos, pois caso não o fizesse nesse prazo já só daria mais dois anos. Isto é de quem não percebe do negócio – duas senhoras, que só tinham à sua frente uma folha de Excel, a quem perguntei se já tinham visitado o porto de Leixões. "Não!" [responderam]. A culpa é do [então] secretário de Estado [Sérgio Monteiro], do [anterior] Governo. Cinco anos não chega.
Já foram contactados por este Governo?
Não houve contacto nenhum. É uma situação lamentável. E nós discordamos em absoluto da forma como a negociação foi anteriormente conduzida e como, pelos vistos, querem agora conduzir – feita em Lisboa, por uma comissão nomeada para o efeito, quando deveria ser feita pelo concedente, que é a autoridade portuária. Não entendemos porque é que tem de ser feita por pessoas sentadas em lisboa, à frente de um computador com uma folha de Excel e que só olham para os números...
Quantos anos adicionais da concessão querem para fazer a expansão do terminal?
Não lhe posso dar um número. Por mim, diria que é preciso mais 40 ou 50 anos. Olhem para Espanha, onde as concessões começam em 35 anos, com a possibilidade de serem alargadas até 75. Em Portugal, mantemos as palas nos olhos dizendo que "as concessões só podem ser de 25 anos + 5". O que aconteceu foi que Leixões parou no tempo. Há nove anos que andamos a dizer que precisamos de fazer isto tudo – acontece que, durante todo este tempo, tudo tem estado parado.