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Negócios Iniciativas | Um campeão de exportações metálico

Na última década, os valores das exportações mais do que duplicaram, atingindo, em 2023, um novo recorde ao superar os 24 mil milhões de euro.

12 de Dezembro de 2024 às 15:45
Bruno Colaço
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O setor destaca-se pela sua flexibilidade, inovação e pela crescente aposta na digitalização e na sustentabilidade.

.   Metalurgia e Metalomecânica  

O setor de metalurgia e metalomecânica consolidou-se como o maior exportador de bens da economia portuguesa, atingindo, em 2023, um novo recorde de 24.017 milhões de euros, um aumento de 4,3% face a 2022. Com uma forte presença nas regiões Norte e Centro, "a maioria das empresas são pequenas e médias (PME), mas há também grandes empresas com elevada capacidade tecnológica e exportadora. O setor destaca-se pela sua flexibilidade, inovação e pela crescente aposta na digitalização e na sustentabilidade", sublinha Nuno Santo, presidente da ANEME (Associação Nacional das Empresas Metalúrgicas e Eletromecânicas).

A União Europeia continua a ser o principal destino das exportações do setor, representando 68,5% do total. Espanha, França, Alemanha, Reino Unido (excluindo a Irlanda do Norte) e Itália assumem posições de destaque entre os mercados comunitários. Fora do espaço europeu, os Estados Unidos destacam-se como um mercado relevante para o setor.
As vantagens e os desafios

Nuno Santo destaca como principais vantagens competitivas do setor a produção de bens com elevados padrões de qualidade, a forte integração de tecnologias avançadas, a agilidade na resposta às novas exigências dos mercados e clientes, e a mão de obra qualificada. A localização geográfica de Portugal também facilita o acesso a mercados transatlânticos. No entanto, a ausência de uma rede ferroviária de mercadorias adequada limita significativamente a integração na cadeia logística de distribuição para a Europa. Paralelamente, as empresas enfrentam a concorrência de mercados que operam fora dos rigorosos requisitos de produção e comercialização do espaço europeu.

Entre os principais desafios do setor, Nuno Santo destaca a transição energética, a descarbonização e o cumprimento de metas ambientais, bem como a volatilidade dos custos de energia e matérias-primas, que afetam a competitividade. A escassez de mão de obra, especialmente em áreas técnicas e tecnológicas, a concorrência global com países de custos mais baixos e as dificuldades na transformação digital, essenciais para acompanhar as exigências da Indústria 4.0, são outras preocupações relevantes.

"Este setor enfrenta, como tantos outros, uma ausência de interlocutor dedicado nos sucessivos governos em Portugal. Está amplamente demonstrado que a indústria tem sido, na maioria das vezes, a força motriz para salvar a economia nacional. A criação de um Ministério da Indústria, que defenda e promova os interesses deste setor estratégico, é fundamental", conclui Nuno Santo.


Vítor Neves: "A indústria de defesa europeia é uma oportunidade"
Portugal afirma-se como fornecedor de excelência para setores consolidados, como o automóvel e aeronáutico, e está preparado para explorar novas oportunidades.

Vítor Neves presidente da AIMMAP

Para Vítor Neves, presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP), o ano de 2025 não será fácil. "Não se antevê uma solução a curto prazo para os cenários de conflito que se vivem, e com a nova governação Trump, o mundo deverá tornar-se cada vez mais dividido entre os EUA e a China", afirmou.

Quais são as principais vantagens competitivas das empresas do setor da metalurgia e metalomecânica em Portugal?
As empresas do setor metalúrgico e metalomecânico em Portugal têm demonstrado, ao longo dos últimos anos, uma enorme capacidade de crescimento. A qualidade, competência e o elevado nível de incorporação tecnológica que o setor apresenta são hoje amplamente reconhecidos e valorizados nos mercados mais exigentes.

Este reconhecimento internacional reflete o esforço contínuo do setor em alinhar-se com os padrões mais rigorosos, especialmente no que se refere aos processos de transição digital e ambiental, economia circular e sustentabilidade social. A indústria metalúrgica portuguesa é especializada na produção de produtos e serviços de elevado valor acrescentado, como peças técnicas de alta complexidade, tratamentos de superfície sofisticados, entre outros. A flexibilidade da oferta é um dos maiores trunfos do setor, tanto em termos de soluções inovadoras quanto no cumprimento de prazos e volumes exigentes.

Quais são os principais desafios para o setor?
O setor enfrenta diversos desafios, tanto em termos de contexto internacional como de questões internas. No plano internacional, os cenários de guerra na Ucrânia e em Gaza, a crise na Alemanha e a política restritiva dos Estados Unidos, entre outros, impõem desafios significativos. Estes fatores têm forçado o setor a reinventar-se, ajustando as cadeias de abastecimento, explorando novos mercados e adaptando-se a mudanças nas necessidades dos setores clientes.

Além disso, a escassez de mão de obra qualificada é um dos principais constrangimentos enfrentados pelas empresas, dificultando o crescimento. Contudo, o maior desafio, cujas soluções estão fora do alcance das empresas, prende-se com a burocracia, tanto nacional como europeia, que afeta diretamente a competitividade. A complexidade dos regulamentos europeus e a pesada máquina do Estado têm prejudicado as condições de competitividade, especialmente no que se refere à internacionalização, onde as empresas portuguesas estão a desperdiçar um envelope financeiro significativo devido a normas pouco claras, desajustadas da realidade e inconsistentes.

Quais as perspetivas em termos de oportunidades para 2025?
A indústria metalúrgica e metalomecânica está bem posicionada para aproveitar várias oportunidades em 2025. Um dos destaques é o crescente papel da indústria da defesa na estratégia política e industrial da União Europeia. Este setor está a receber grandes investimentos, abrangendo uma vasta gama de atividades, desde componentes para material militar, embarcações e veículos militares, até tratamentos de superfície altamente especializados.

O setor está, assim, na "pole position" para se tornar um fornecedor qualificado e totalmente habilitado, não só para setores onde já tem uma forte presença, como automóvel, aeronáutico e energético, mas também para novas áreas em expansão, como a indústria da defesa.

Em relação ao recente resultado das eleições americanas, os Estados Unidos continuam a ser um mercado de exportação relevante para as empresas portuguesas do setor metalúrgico, que fornecem produtos e serviços de elevado valor acrescentado, com forte inovação e incorporação tecnológica. Embora as medidas protecionistas possam ter um impacto negativo, algumas empresas americanas não abdicarão dos fornecedores portugueses, estando dispostas a pagar as taxas impostas. Adicionalmente, o Acordo UE-Mercosur tem um grande potencial para ser uma vantagem estratégica para Portugal, especialmente num contexto geopolítico cada vez mais polarizado entre os EUA e a China. A proximidade cultural e histórica com o continente sul-americano, em particular com o Brasil, coloca Portugal numa posição privilegiada para aproveitar as oportunidades decorrentes desse acordo.
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