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Sem redes elétricas não há mobilidade nem descarbonização

Para fazer a eletrificação e a descarbonização da sociedade é necessário assegurar que as infraestruturas energéticas existem e são planeadas de uma forma sustentável e atempada.

27 de Junho de 2024 às 15:00
Susana Marvão, João Pinto, João Diogo Silva, João Afonso, e Fernando Silva no debate “Transformação da Mobilidade no mundo real”. Ricardo Jr
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"Sem redes não temos a transformação digital e a energética, não temos uma transformação quer na mobilidade elétrica quer nos sistemas eletrointensivos, de que a Galp é um dos exemplos, visto que para efeitos da sua descarbonização precisa de bastante energia elétrica e com potências elevadas, e, sobretudo, renovável", afirmou João Afonso, diretor de planeamento da REN no debate "Transformação da Mobilidade no mundo real" que decorreu na 3ª edição do Electric Summit, o Fórum Transição Energética e Mobilidade em Portugal 2024, que é uma iniciativa do Negócios, da Sábado e da CMTV, em parceria com a Galp, a REN e a Siemens, tendo Oeiras Valley como município anfitrião e a EY como knowledge partner. Estas transformações requerem uma infraestrutura energética, nomeadamente, uma infraestrutura elétrica, "um aspeto fundamental e central em toda a discussão sobre a transição energética na mobilidade elétrica".



Na base destes novos modelos de mobilidade e de transição energética estão as infraestruturas de eletricidade e de gás que são geridas pela REN. "Para podermos fazer a eletrificação e a descarbonização da sociedade, o que também inclui os gases renováveis, é necessário assegurar que as infraestruturas, que estão de permeio entre estas atividades, existem e são planeadas de uma forma sustentável e atempada", alertou João Afonso. Acrescentou ainda que é a rede elétrica que permite a integração das energias renováveis e esta pode ser colocada nos pontos onde é necessária, no caso da mobilidade elétrica, nos carregadores.

A eletrificação vai ter um papel preponderante na evolução da economia e da sociedade, mas não nos podemos esquecer de que há outras tecnologias que vão emergir como os biocombustíveis, os combustíveis sintéticos, os gases renováveis. Fernando Silva
Presidente Executivo da Siemens Portugal
"A eletrificação vai ter um papel preponderante na evolução da economia e da sociedade, mas não nos podemos esquecer de que há outras tecnologias que vão emergir como os biocombustíveis, os combustíveis sintéticos, os gases renováveis", afirmou Fernando Silva, presidente executivo da Siemens Portugal. Para Fernando Silva, a eletrificação não se limitará à mobilidade rodoviária, com os automóveis ligeiros, autocarros, camiões, mas abarcará as mobilidades como a marítima-portuária ou aérea, a rede de drones militares e comerciais.

A mobilidade nas cidades

"A mobilidade elétrica é crucial para o futuro, mas este também será feito por uma combinação de energias", concordou João Diogo Silva, administrador da Comissão Executiva da Galp, sublinhando que 50% dos mil milhões de euros, que a empresa investe anualmente, é para soluções de redução da pegada carbónica ou para a produção de energia com base renovável.

João Diogo Silva sublinhou ainda que, "numa transição energética, temos de saber olhar para as diversas cadeias de valor que vão proporcionar esta transição". Por isso, referiu os investimentos, em Sines, no Sustainable Aviation Fuel (SAF) ou combustível sustentável para a aviação, "que vai ser uma solução alternativa para as grandes companhias de aviação mundiais com as quais trabalhamos" ou, ainda, o investimento de 650 milhões de euros para produção de hidrogénio verde, que depois vai alimentar a produção de biocombustíveis.

João Pinto, dean da Católica Porto Business School, centrou-se na visão da mobilidade, que, ao nível das cidades será alicerçada, sobretudo, no transporte público, na mobilidade ligeira e em que a mobilidade como um serviço será fundamental. "Esta passará por plataformas integradoras de várias soluções em que o utilizador, de uma forma mais simples, possa ter acesso a várias soluções, e, no limite, mais sustentáveis".

Referiu ainda que alguns estudos prospetivos recentes apresentam, como tendências, "o crescimento contínuo da micromobilidade, o progresso constante da eletrificação dos veículos, a disponibilidade das novas gerações trocarem o veículo individual por soluções mais ecológicas como o transporte público, a mobilidade suave, o carsharing, carpooling, e, a médio e longo prazo, o investimento contínuo em veículos autónomos".

A mobilidade elétrica resolve problemas associados à mobilidade tradicional, porque gera benefícios sociais e ambientais, como a redução de gases com efeito de estufa, ou menor ruído. João Pinto
Dean da Católica Porto Business School
João Pinto salientou ainda que é importante que as empresas e os consumidores tenham várias alternativas disponíveis, porque só dessa forma, e numa lógica de diversificação de risco, "é possível com soluções de combustíveis de baixa emissão, eletricidade e hidrogénio. Esta combinação de soluções é o que permite mitigar o risco de termos oscilações fortes nos mercados internacionais de petróleo, de modo que isso não afete tanto a nossa economia, o que é muito relevante também do ponto de vista económico".

O papel estratégico dos carregadores

"A mobilidade elétrica resolve problemas associados à mobilidade tradicional, porque gera benefícios sociais e ambientais, como a redução de gases com efeito de estufa, ou menor ruído", disse João Pinto, dean da Católica Porto Business School, que salientou que, normalmente, a solução que se massifica, no longo prazo, será sempre aquela que tem mais benefícios económicos, o que explica "muito do sucesso da mobilidade elétrica, porque tem benefícios económicos", afirmou João Pinto.

Sabemos claramente qual é a direção. Nesta altura somos líderes na rede de carregamento público com cerca de 5.000 carregadores em rede pública, sabemos que esta representa cerca de 15% dos carregamentos, a maioria, 85%, é feita em rede privada. Mas a rede pública é uma segurança para a viagem. João Diogo Silva
Administrador da Comissão Executiva da Galp
De facto, apesar do abrandamento da taxa de crescimento das vendas, "a quantidade de veículos elétricos vendidos no primeiro trimestre deste ano equivale à totalidade dos veículos vendidos elétricos em 2020", considerou João Diogo da Silva, administrador da Comissão Executiva da Galp. "Na Galp sabemos claramente qual é a direção. Nesta altura somos líderes na rede de carregamento público com cerca de 5.000 carregadores em rede pública, sabemos que esta representa cerca de 15% dos carregamentos, a maioria, 85%, é feita em rede privada. Mas a rede pública é uma segurança para a viagem", acrescentou o administrador da Galp.

Na perspetiva do consumidor, há desafios que precisam de ser superados, como a autonomia das baterias, infraestruturas de carregamento, sobretudo a sua capilaridade e a sua capacidade. Neste aspeto há evoluções tecnológicas, como a solução patenteada pela REN, a Speed-E, um carregador ultrarrápido que faz o carregamento elétrico a partir da rede de transporte de alta tensão, e abastece 20 ou 30 carregadores no mesmo sítio.

Projeções de carregadores na Europa

De acordo com as projeções da Comissão Europeia, terão de ser instalados na Europa, até 2030, 3,5 milhões de pontos de carregamento, dos quais cerca de 15% serão pontos de carregamento rápidos, o que daria uma média de instalação de dez mil carregadores por semana. A Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis admite a necessidade da instalação de 8,8 milhões, que seriam 20 mil carregadores por semana.

Estes números levam Fernando Silva, presidente executivo da Siemens Portugal, a concluir que "estamos a falar de desafios na cadeia de fornecimento, de mão de obra especializada, para fazer esta transição, que de facto tem de ser acelerada". Para Fernando Silva, "ou decidimos hoje acelerar, ou não atingimos o objetivo. Esta perceção de urgência tem de existir, e de uma forma integrada com fornecedores, tecnólogos, operadores de redes elétricas".

João Diogo da Silva elogiou o sistema Mobi-E, "que funciona e permite que os clientes possam transitar em Portugal, porque infelizmente para além da fronteira não há tanta facilidade", por isso, foi referida a necessidade de roaming para o carregamento de veículos elétricos na União Europeia.

Os procedimentos de licenciamento, desde a fase de estudos de impacto ambiental até à avaliação de impacto ambiental, são processos longos, muito participados, discutidos e até controversos, mas são o ponto-chave para a criação das infraestruturas necessárias para o país, em particular, para a mobilidade elétrica. João Afonso
Diretor de Planeamento da REN
"Os licenciamentos das infraestruturas elétricas demoram bastante tempo. Os procedimentos de licenciamento, desde a fase de estudos de impacto ambiental até à avaliação de impacto ambiental, são processos longos, muito participados, discutidos e até controversos, mas são o ponto-chave para a criação das infraestruturas necessárias para o país, em particular, para a mobilidade elétrica", disse João Afonso, acrescentando que "a maior parte do tempo que nós consumimos tem que ver com procedimentos de avaliação de impacto ambiental". Como comentou Fernando Silva, "por trás de um carregador, está a rede elétrica".

"Para acelerar a transição, a revisão da velocidade de execução de um licenciamento é incontornável", referiu João Diogo da Silva, justificando de seguida essa posição. "Precisamos de 18 meses para licenciar um carregador. Temos casos de carregadores que envelheceram antes de serem inaugurados, e não somos o pior caso na Europa porque no nosso vizinho podem levar o dobro do tempo para conseguir ligar um carregador."
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