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Taxas de juro a 2% e baixo desemprego “serão comportáveis”

O presidente executivo da Caixa acredita que “os preços da energia não vão voltar aos níveis anteriores”. Olhando para o atual enquadramento económico, Paulo Macedo acredita, contudo, que a subida dos juros será acomodada, exceto se os valores crescerem para os 4%.

04 de Agosto de 2022 às 14:00
Paulo Macedo, presidente executivo da CGD, fez a abertura do Encontro Fora da Caixa, em Oeiras. Pedro Ferreira
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"A única certeza é a incerteza. Há algumas coisas que podemos ter como relativamente certas e outras têm mais imprevisibilidade", afirmou Paulo Macedo, presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos, na abertura do Encontro Fora da Caixa com o tema "Os Desafios da Economia e a Importância do Emprego", uma iniciativa da CGD em parceria com o Negócios, que decorreu na Escola Náutica Infante D. Henrique, em Oeiras.

O crescimento da economia portuguesa é um dado importante para incorporar nos cenários futuros, e as previsões apontam para um crescimento de 6,5% para 2022 e um acentuado menor crescimento em 2023, passa-se de "crescimento robusto" para "decréscimo significativo". Mas Paulo Macedo assinalou que há "muitas contingências" a pairar no futuro. E, deu como exemplo, um corte de gás à Alemanha por parte da Rússia "pode desencadear imediatamente uma recessão.

Um dos traços mais salientes do cenário com que a Caixa Geral de Depósitos opera é a guerra na Ucrânia que, "como todos sentem na pele, tem levado a um aumento de preços", disse Paulo Macedo. O gestor lembrou que os preços da energia começaram a subir antes da guerra e, se hoje uma parte do preço se deve à guerra, "outra parte tem a ver com a transição climática". Para Paulo Macedo, "os preços da energia não vão voltar aos níveis anteriores".

Numa viagem ao aparecimento e crescimento da inflação, o CEO da Caixa salientou que depois da energia, vieram os aumentos dos preços dos produtos alimentares e de commodities, o que levou "às maiores inflações da história da Europa". E referiu um segundo conjunto de pressões inflacionistas, com "a maioria das empresas a conseguirem passar os aumentos de preços para os consumidores". O banqueiro perspetivou ainda um terceiro efeito, que será a pressão nos salários. Paulo Macedo entende que é "uma inflação atípica porque é muito mais do lado da oferta do que do lado da procura e portanto, não é tanto uma questão de estar a agir para conter ou restringir a procura".

Inflação e juros

O crescimento da inflação acabou por ter como consequência o aumento dos juro na Zona Euro, que fará sentir nas empresas, nas famílias e no Estado. Mas, como ressalvou Paulo Morgado, o crescimento dos juros está "muitíssimo abaixo da inflação, o que leva a que por exemplo, a que "nós que já tínhamos taxas de juro reais negativas o ano passado, neste momento tenhamos taxas de juro muitíssimo mais negativas".

Na sua opinião, se as taxas de juro ficarem nos 2% e com os níveis baixos de desemprego a situação será comportável, apesar das dificuldades. "A questão é se as taxas de juro sobem para valores acima dos 400 pontos [base]. E reparem que os 200 pontos é muitíssimo inferior aos 400 pontos que tínhamos por exemplo, em 2008 ou em 2010, em que as taxas de juro estiveram muito mais altas", recordou.

A competitividade de Portugal medida pelos vários rankings internacionais foi outra das leituras feitas pelo líder da CGD e que permite avaliar as "forças e fraquezas institucionais, políticas, económicas e sociais". "É uma forma de saber como estamos e para onde devemos ir. Portugal compara bem com outros países nas infraestruturas, saúde e educação e compara mal na questão da carga fiscal, e nas práticas de gestão". Para o gestor, estes dados negativos são um sinal de alerta. "Este conjunto inclui desde de representação de género no management e nos boards, a responsabilidade social, a satisfação do cliente, a credibilidade dos gestores, a agilidade das empresas. Estamos sempre a falar da necessidade de qualificação para nossa força de trabalho, mas há uma enorme falta de qualificação nos nossos quadros, gestores e no topo das empresas", avisou.

O efeito da demografia

A competitividade também depende da demografia, frisou, e o comportamento desta em Portugal implica que se equacione a imigração. Um dos dados que reforça esta perspetiva é o de que a população ativa nunca foi tão elevada, e atingiu-se o limite de empregabilidade das mulheres em termos adicionais. Para Paulo Macedo, "a questão da imigração, hoje em dia, nem sequer devia ser uma questão de debate". "É sim ou sim. É uma inevitabilidade, portanto, o que deve ser ponderado é como, de onde, de que forma, que condições se dão para atrair as pessoas."

Perante um cenário que se perspetiva crítico, Macedo lembrou ainda que a banca e o país passaram bem "pelas fases das moratórias" e que o fim das taxas de juro negativas é uma oportunidade para o setor financeiro.