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Francisco Cary: “A subida dos juros será um fator adicional de pressão sobre a situação financeira das famílias”

Existem muitas contingências na economia e há o risco de, no próximo ano, a economia portuguesa entrar em recessão. O alerta é de Francisco Cary, administrador executivo com a área de Empresas da Caixa Geral de Depósitos. O gestor sublinha ainda que a economia e o sistema financeiro português estão mais preparados para atenuar os seus efeitos.

04 de Agosto de 2022 às 14:30
Francisco Cary, administrador da CGD Pedro Ferreira
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Onde estão os maiores riscos para a economia das empresas e das pessoas? Na inflação, nos juros, na retração da economia?
No imediato a inflação é o fator dominante até porque é uma realidade que já afeta o dia a dia das famílias e empresas. A fatura da energia no setor empresarial disparou, especialmente para indústrias mais dependentes do gás. Os preços de muitas outras matérias-primas utilizadas nos mais variados setores de atividade também têm apresentado grandes subidas e volatilidade, ainda que muitos deles já com evidências de correção. Muitos desses aumentos de preços expressivos de custos na produção estão ser repassados para os consumidores, o que, juntamente com o aumento de preços dos combustíveis e de muitos alimentos que formam o seu cabaz de consumo corrente, contribui para a redução do rendimento disponível. A subida dos juros, que por agora em concreto ainda tem um efeito modesto, será um fator adicional de pressão sobre esse rendimento disponível e sobre a situação financeira das famílias.

A economia portuguesa, vai acabar por se ressentir - e os últimos dados já indicam abrandamento - mas do ponto de vista de crescimento agregado ainda não este ano. Os dados reais observados e as projeções que têm vindo a ser feitas vão no sentido de um forte crescimento do PIB para o total do ano de 2022, beneficiando diretamente do efeito de recuperação da pandemia e em especial no setor turístico. Mas certamente haverá um crescimento mais reduzido em 2023, ainda com muitas contingências e alguns riscos de podermos efetivamente ter uma recessão. Por exemplo, e caso a Rússia corte o fornecimento de gás à Alemanha no outono-inverno, é inevitável a recessão na Alemanha que necessariamente se alastrará ao resto da Europa e também a Portugal.

Ainda assim, e em Portugal, acredito que o baixo nível de desemprego e o aumento das poupanças acumuladas pelas famílias e empresas durante o período de pandemia, aliado à posição de forte capitalização e liquidez do sistema financeiro a operar no País, contribuirão para atenuar os efeitos negativos sobre a economia.

Tem receio que a economia derrape, as empresas sintam dificuldades e aumente o crédito malparado ou considera que o sistema financeiro e o país estão preparados para apoiar as empresas e as pessoas num novo choque quase sistémico?
A perspetiva é efetivamente, pelas razões apontadas, de um abrandamento da economia, mas num cenário base, não o suficiente para que nos leve a assistir a significativos aumentos de desemprego e aumento de falências e, consequentemente, de grandes subidas de incumprimento por parte das famílias e empresas.

O setor financeiro português, como um todo, está fortalecido: tem mais do dobro do nível médio de capitalização do início da crise anterior e tem hoje, comparativamente, uma reduzida dependência do financiamento externo. E tal como no período de pandemia, tem condições e capacidade de ser parte da solução e não do problema. E a Caixa especificamente, como banco português com mais de 140 anos de história, está com o capital e com a liquidez necessárias para cumprir o seu papel, trabalhando com as famílias e empresas, agora afetadas por uma conjuntura mais adversa, para proativamente ajudar a encontrar os caminhos e soluções para mitigar e superar um período mais desafiante.

Este contexto teve impacto no Plano de Estratégico 2021-2024? Tiveram de fazer alterações?
Depois de concluído com pleno sucesso o plano de reestruturação e de recapitalização de 2017-2020, a Caixa ficou mais forte, permitindo-lhe reforçar a sua missão no apoio às empresas e famílias, ao mesmo tempo que gradualmente devolve aos contribuintes portugueses e demais investidores o capital e empréstimos que foram necessários para viabilizar esse processo. E isso foi e está a ser conseguido, continuando a ser o maior banco do sistema financeiro nacional, com posições de liderança em diferentes produtos e segmentos de mercado.

O atual Plano Estratégico para 2024, definido no ano passado, foi construído sobre uma base sólida que permite que mesmo perante o atual cenário mantenhamos todas as metas a que nos propusemos. Naturalmente que com os necessárias adaptações no rumo requeridas pelas alterações de contexto. Estamos bem cientes de qual o trabalho a ser feito para cumprir com os objetivos definidos e confiante que vamos ser, mais uma vez, bem sucedidos nesta importante tarefa.

Que balanço faz da iniciativa Encontros Fora da Caixa e que retrato de Portugal lhe permitiu fazer?
Os Encontros Fora da Caixa surgiram em 2017 como um espaço que quis, e continua a querer, promover o debate de ideias sobre os mais variados temas, económicos e sociais que afetam o País e as diferentes regiões.

A particularidade destes encontros, e acredito que seja também a chave do sucesso desta iniciativa continuada, é a de que temos sempre um palco numa região diferente. Percorremos o País, continente e ilhas, promovendo o debate e a ouvir o que personalidades de relevo de cada uma das regiões tem a dizer, procurando com isso ter um retrato fiel das diferentes realidades que temos em Portugal.

Estas várias "voltas a Portugal" revelam a importância que a Caixa dá ao seu papel de maior banco português, permitindo-nos estar no terreno com todos aqueles que têm na Caixa o seu banco, que trabalham ou querem trabalhar com a Caixa para desenvolverem os seus negócios e atividades, que vêm na Caixa um parceiro fundamental para que possam crescer e, assim, gerar valor, para as suas empresas e para a economia local e nacional.