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Luís Marques Mendes: “Não há boas decisões políticas com maus governantes”

Para Luís Marques Mendes o elemento fundamental de um chefe de governo ou de um líder da oposição, é a coragem e “esta, de um modo geral, não abunda em Portugal”.

04 de Agosto de 2022 às 16:30
Pedro Abrunhosa e Marques Mendes numa conversa em que o mote foi “no princípio era...Portucale”. Pedro Ferreira
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Luís Marques Mendes diz não ter nenhuma ambição com o seu comentário dominical na SIC, que faz há 13 anos, primeiro no cabo, SIC Notícias, e, três anos depois, na televisão generalista. "Dá-me trabalho mas sinto também uma vontade de ser útil, e pedagógico, uma componente que os meus comentários às vezes têm", disse numa conversa com Pedro Abrunhosa - que teve como mote "no princípio era... Portucale" - durante do Encontro Fora da Caixa, que decorreu na Escola Náutica Infante D. Henrique, em Oeiras.

Começou a fazer política local com 18 anos, e foi vereador e vice-presidente da Câmara Municipal de Fafe, a terra natal. Depois, a partir de 1985, aos 28 anos, Luís Marques Mendes integrou o primeiro governo de Cavaco e fez 22 anos de política nacional, tornando-se uma figura mediática. Fez uma carreira política com "erros, falhas, mas também coisas eventualmente positivas". Assume que pertence ao conjunto de pessoas que diz que "tem prazer em fazer política, ao contrário de muitas pessoas que parecem que andam grávidos de interesse nacional". Luís Marques Mendes considera que "a política se pode fazer com um lado sério e com um lado lúdico".

Apelo público

Comparando o tempo em esteve na vida pública como governante como o que se passa hoje, Luís Marques Mendes considera que "atualmente há um conjunto de "handicaps", de escrutínio". "As pessoas são muitas vezes maltratadas e, por isso, nem sempre aguentam porque as pessoas podem estar fora a ganhar muito dinheiro e a ter mordomias", refere, mas "o apelo público é uma coisa importante".

O comentador entende que a descredibilização da política nos últimos anos se deu porque se perdeu "qualidade nos decisores políticos e, de eleição para eleição, baixa a qualidade". "Muito dirão que é porque se paga mal aos políticos, mas acho que não é a razão principal, nem de longe nem de perto, embora também se pague mal aos políticos", argumentou.

Luís Marques Mendes adiantou uma razão, que é "muito pouco falada", relacionada com a lei eleitoral para a Assembleia da República. Esta "não fomenta a qualidade nem a excelência". No seu entender, "não há coragem nenhuma dos partidos em Portugal de ser fazer essa reforma essencial em defesa da qualidade e do mérito".

Inspirando-se nas eleições autárquicas, um modelo de escolha em que os eleitores conhecem os diferentes candidatos, Luís Marques Mendes defendeu a criação de círculos uninominais, com um círculo nacional de compensação, que é possível desde a revisão constitucional de 1997 quando António Guterres liderava o PS e Marcelo Rebelo de Sousa, o PSD. Reiterou que o atual sistema eleitoral "fomenta a mediocridade e não a competência".

Política em contraciclo

Se a situação económica e social não estiver bem e houver um empobrecimento das pessoas, é mais um contributo para a descredibilização dos políticos, afirmou. "Se o país estiver na boa direção, com crescimento económico, com melhoria dos salários, das pensões, com a saúde a funcionar bem, as pessoas têm maior confiança e acreditam mais nos políticos." Mas, para "ter boas soluções políticas, é preciso ter bons decisores políticos e isto vale também para as reformas estruturais. Não há boas decisões políticas com maus governantes", sublinhou Luís Marques Mendes.

Na sociedade civil houve grandes mudanças, "melhorias extraordinárias", mas na vida política viveu-se em contraciclo. "É exatamente o contrário de há 40 anos e dos primeiros anos do 25 de abril de 1974 em que os melhores vinham para a política e estamos a perder qualidade, mérito, e não coragem de tratar este assunto com a profundidade que exige", disse Luís Marques Mendes.

Na sua opinião, na elite política ou "alto nível da política", consubstanciada nas lideranças partidários e nos ministros, "de um modo geral as pessoas são cultas, inteligentes, mas a diferença faz-se noutro plano da coragem de agir e das convicções". Para o comentador, o elemento fundamental de um chefe de governo ou de um líder da oposição é a coragem, e "esta, de um modo geral, não abunda em Portugal".