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Mercado global de emprego qualificado atrai o talento português

O mundo laboral está a sofrer uma grande transformação, tanto no setor privado como no público. Uma das principais mudanças é o fim da ideia de emprego para a vida, sobretudo para os mais qualificados. A produtividade também é essencial para que se paguem melhores salários.

04 de Agosto de 2022 às 15:00
Francisco Assis, presidente do Conselho Económico e Social, foi um dos rostos do painel. Pedro Ferreira
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"O presidente do Conselho Económico e Social (CES) é uma das vozes que defende a necessidade de aumentar a produtividade no país para melhorar a condição de vida dos mais jovens. Já a ex-ministra Alexandra Leitão reconhece que até a Administração Pública está a sofrer com a mudança do paradigma de emprego para a vida. Os dois rostos, a par da ex-deputada Margarida Balseiro Lopes, debateram as "perspetivas dos mais jovens em relação ao emprego", num painel que se enquadrou no Encontro Fora da Caixa, uma iniciativa da CGD em parceria com o Negócios, que decorreu na Escola Náutica Infante D. Henrique, em Oeiras

Para a agora deputada socialista Alexandra Leitão, na administração pública "não havia grande perspetiva de carreira mas entrava-se e saia-se reformado". Em parte, afirmou, continua a ser verdade, "mas é menos valorizado pelos jovens", destacou. A consequência prática é uma "menor atratividade da administração pública para os jovens mais qualificados, sobretudo num momento em que é necessário fazer o seu rejuvenescimento".

Em relação às mudanças na forma como os jovens mais qualificados encaram o emprego, Margarida Balseiro Lopes, ex-deputada do PSD e atual vice-presidente do partido, sublinhou a aceleração do trabalho remoto como um dos efeitos da crise pandémica, e a inserção de Portugal no mercado global do emprego qualificado. "É um desafio para as nossas empresas que passam a competir com as multinacionais, que, muitas vezes, estão em condições de pagar melhores salários, que mesmo assim são mais baixos do que se os pagassem no seu país de origem", diz.

Formação ao longo da vida

Já para Francisco Assis, presidente do Conselho Económico e Social, o mercado de trabalho para os mais jovens tem várias realidades conforme as qualificações, as competências e as formações. Além dos jovens que estão a operar no mercado global, existem os jovens podem ser afetados pelos efeitos do crescimento económico de Portugal, e, ainda "os jovens que até são vítimas das grandes transformações porque ficam fora delas".

Nesta linha, Alexandra Leitão falou da importância da formação e da educação ao longo da vida, porque se os jovens são o futuro, há pessoas que não podem ser esquecidas e, por isso, devem ter acesso a formação profissional, e mesmo superior. Em reforço desta necessidade, Margarida Balseiro Lopes referiu que, em termos de qualificações entre os 35 e os 64 anos, "somos o pior país da União Europeia, em que nem sequer metade da população tem o ensino secundário completo". Defendeu que neste esforço de qualificação se deveriam envolver as instituições superiores com formações modulares e incentivos fiscais para as empresas e os formandos.

A questão dos aumentos salariais pairou durante toda o Encontro Fora da Caixa. Assis não deixou de sublinhar que a forma de resolver o problema passa pelo crescimento da economia. "Podemos encontrar soluções paliativas, mas a questão fundamental é que as empresas e o Estado só podem pagar salários mais elevados se tivermos um ritmo de crescimento económico muito superior ao que temos até agora", referiu. E, para que isto aconteça, a variável essencial é "o aumento da produtividade".

Acordo sobre a competitividade e o emprego "Neste momento, pela forma como o Governo tem conduzido o processo e pela forma como os parceiros sociais se têm empenhado também nesta questão, estou convencido que há todas as condições para aprovarmos até setembro ou outubro um amplo acordo social incidente sobre as questões da competitividade e dos rendimentos", declarou Francisco Assis, presidente do Conselho Económico e Social.

O responsável salientou também que, num contexto de inflação elevada, com uma alteração de política monetária, com a subida das taxas de juro e de transformações muito significativas no panorama político na Europa, seria importante este acordo, sobretudo para um país com "as debilidades estruturais como Portugal" e com esta circunstância histórica.