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Portugal à procura da prosperidade

Portugal cresceu pouco nos primeiros sete anos do século XXI, passou os seguintes sete a lutar contra a grande recessão, e começa agora à procura de um caminho que garanta empregos e crescimento para pagar as dívidas acumuladas.

17 de Abril de 2015 às 00:01
Miguel Baltazar/Negócios
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O rendimento médio gerado por ano por cada português só voltará aos valores de 2008 em 2018. Esta é uma das estimativas avançadas esta semana pelo Fundo Monetário Internacional que evidencia bem a violência da crise dos últimos anos, e o cenário de recuperação lenta que está pela frente.


Nos primeiros sete anos de moeda única, Portugal cresceu pouco e acumulou desequilíbrios. Os seguintes sete passou-os a lutar contra uma das maiores crises financeiras da história – a qual desde 2011 se manifestou de forma particularmente violenta no País, em parte por ser uma economia frágil e endividada, em parte porque o projecto de moeda única padecia de sérias disfuncionalidades, ainda não totalmente tratadas. Os próximos sete, espera-se, serão marcados pela procura de uma prosperidade prometida que teima em não chegar e que com a crise ficou até mais longe.

 

2014, a viragem?

 

Nas avaliações do Governo, do Banco de Portugal e da troika, o país bateu no fundo em 2013 e iniciou o processo de recuperação em 2014. As várias instituições divergem quanto à profundidade das alterações estruturais na economia – Banco de Portugal e Governo estão mais confiantes; Comissão Europeia e FMI mais cépticos –, mas todos alinham na ideia de que os desequilíbrios mais graves foram estabilizados e que a pior parte do ajustamento está feita.


Entre os principais indicadores que justificam esta avaliação estão as reduções expressivas dos défices orçamental e externo registadas desde 2011 – este último chegou mesmo a terreno positivo nos dois últimos anos. São também frequentemente elogiados o esforço de racionalização da despesa pública e a flexibilização do mercado de trabalho.  


Estes  desenvolvimentos estão no entanto longe de ofuscar os elevados níveis de dívida e desemprego acumulados e que pesam de forma perigosa sobre o futuro próximo de Portugal. Nessa medida os desenvolvimentos de 2014 são ainda apenas uma recuperação marginal. Vejamos.


No ano passado, o PIB cresceu 0,9%, depois de ter caído mais de 7% durante a crise. Foram criados 70 mil empregos, depois de terem sido destruídos 700 mil. A redução do peso da  dívida pública foi adiado para 2015, a partir do máximo de 130% do PIB atingido este ano. O endividamento privado começou a cair, mas mantém-se um dos mais elevados da Europa – sendo mesmo eleito pelo FMI e pela Comissão Europeia como um dos principais entraves aos crescimento, ao travar o investimento e o novo crédito à economia.

 

Como continuar a crescer?

 

Para este ano e o próximo a generalidade das avaliações independentes aponta factores conjunturais particularmente favoráveis que garantirão taxas de crescimento entre 1,5% e 2%: queda do preço do petróleo, desvalorização do euro, juros baixos e aumentos de confiança empurrados pelo programa de compra de dívida do BCE.

 

Este será tempo precioso para a implementação de políticas que aumentem o potencial de crescimento da economia e que, ao mesmo tempo, pressionem um reequilíbrio da Zona Euro, já defendido pela Comissão Europeia, que garanta mais procura interna no Norte de forma a facilitar o ajustamento no Sul.


Só assim será possível pagar as dívidas acumuladas, reduzir a austeridade sobre famílias e empresas, e criar empregos. Este será o grande desafio do próximo Governo.


Os próximos anos poderão não ser tão espectaculares como os da violenta crise. Mas para os muitos que lutam contra o desemprego, as dívidas, a falta de procura, ou a concorrência internacional serão os mais decisivos numa economia que precisa de aprender a crescer.

 

 
Um trilho estreito para uma economia frágil
1-Crescer sem défices externos
Portugal conseguiu reduzir os elevados défices externos que marcaram a primeira década de participação na moeda única, e registou ligeiros excedentes em 2013 e 2014. Para tal contribuiu um desempenho positivo das exportações, mas também uma queda relevante das importações - puxadas pela recessão, pelo desemprego e pela consequente redução da procura interna. Voltar a crescer sem acumular défices será um dos grandes desafios. 
 
2-Criar empregos
Portugal chegou a 2014 com cerca de 4,5 milhões de empregos. Quase menos 600 mil do que os registados em 2007 e um valor inferior ao que iniciou ao século XXI. Ao mesmo tempo, e mesmo depois da saída estimada de cerca de 300 mil pessoas via emigração, o país permanece com cerca de 700 mil desempregados, dos quais metade estão nessa situação há  mais de dois anos. Criar empregos tem de ser uma das prioridades.
 
3-Cortar o défice sem matar a recuperação
Portugal fechou 2014 com um défice orçamental de 4,5% do PIB (a que corresponde um saldo primário, isto é sem juros, de 0,6% do PIB). As regras acordadas a nível europeu estabelecem ainda a continuação de um esforço de consolidação que, para garantir a redução da dívida pública, implicará saldos primários superiores a 3% do PIB. Atingir este nível de consolidação com baixo crescimento - e sem matar o crescimento - será um desafio permanente. 
 
4-Reduzir as dívidas privada e pública
Portugal permanece uma das economias mais endividadas do mundo, um diagnóstico agravado por se perspectivarem níveis de crescimento e inflação baixos. A dívida pública (na casa dos 130% do PIB) só começará a cair em 2015. Adívida privada (142% do PIB nas empresas e 85% nas famílias) já começou a baixar, mas está muito longe de recuar para níveis saudáveis que permitam a retoma do investimento e do crédito. É um dos maiores entraves à recuperação.
 
5-Melhorar a competitividade
Os cépticos temem não seja possível – pelo menos na dimensão necessária para recuperar os empregos perdidos – aumentar a competividade num contexto de moeda única forte para uma economia frágil numa união monetária com deficiente procura interna. As instituições europeias e os maiores partidos nacionais acreditam ser possível recuperar terreno através de uma mistura de moderação salarial e reformas que melhorem a produtividade das empresas e o funcionamento da economia - com destaque para a justiça, a educação e a administração pública.

 

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