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O rendimento médio gerado por ano por cada português só voltará aos valores de 2008 em 2018. Esta é uma das estimativas avançadas esta semana pelo Fundo Monetário Internacional que evidencia bem a violência da crise dos últimos anos, e o cenário de recuperação lenta que está pela frente.
Nos primeiros sete anos de moeda única, Portugal cresceu pouco e acumulou desequilíbrios. Os seguintes sete passou-os a lutar contra uma das maiores crises financeiras da história – a qual desde 2011 se manifestou de forma particularmente violenta no País, em parte por ser uma economia frágil e endividada, em parte porque o projecto de moeda única padecia de sérias disfuncionalidades, ainda não totalmente tratadas. Os próximos sete, espera-se, serão marcados pela procura de uma prosperidade prometida que teima em não chegar e que com a crise ficou até mais longe.
2014, a viragem?
Nas avaliações do Governo, do Banco de Portugal e da troika, o país bateu no fundo em 2013 e iniciou o processo de recuperação em 2014. As várias instituições divergem quanto à profundidade das alterações estruturais na economia – Banco de Portugal e Governo estão mais confiantes; Comissão Europeia e FMI mais cépticos –, mas todos alinham na ideia de que os desequilíbrios mais graves foram estabilizados e que a pior parte do ajustamento está feita.
Entre os principais indicadores que justificam esta avaliação estão as reduções expressivas dos défices orçamental e externo registadas desde 2011 – este último chegou mesmo a terreno positivo nos dois últimos anos. São também frequentemente elogiados o esforço de racionalização da despesa pública e a flexibilização do mercado de trabalho.
Estes desenvolvimentos estão no entanto longe de ofuscar os elevados níveis de dívida e desemprego acumulados e que pesam de forma perigosa sobre o futuro próximo de Portugal. Nessa medida os desenvolvimentos de 2014 são ainda apenas uma recuperação marginal. Vejamos.
No ano passado, o PIB cresceu 0,9%, depois de ter caído mais de 7% durante a crise. Foram criados 70 mil empregos, depois de terem sido destruídos 700 mil. A redução do peso da dívida pública foi adiado para 2015, a partir do máximo de 130% do PIB atingido este ano. O endividamento privado começou a cair, mas mantém-se um dos mais elevados da Europa – sendo mesmo eleito pelo FMI e pela Comissão Europeia como um dos principais entraves aos crescimento, ao travar o investimento e o novo crédito à economia.
Como continuar a crescer?
Para este ano e o próximo a generalidade das avaliações independentes aponta factores conjunturais particularmente favoráveis que garantirão taxas de crescimento entre 1,5% e 2%: queda do preço do petróleo, desvalorização do euro, juros baixos e aumentos de confiança empurrados pelo programa de compra de dívida do BCE.
Este será tempo precioso para a implementação de políticas que aumentem o potencial de crescimento da economia e que, ao mesmo tempo, pressionem um reequilíbrio da Zona Euro, já defendido pela Comissão Europeia, que garanta mais procura interna no Norte de forma a facilitar o ajustamento no Sul.
Só assim será possível pagar as dívidas acumuladas, reduzir a austeridade sobre famílias e empresas, e criar empregos. Este será o grande desafio do próximo Governo.
Os próximos anos poderão não ser tão espectaculares como os da violenta crise. Mas para os muitos que lutam contra o desemprego, as dívidas, a falta de procura, ou a concorrência internacional serão os mais decisivos numa economia que precisa de aprender a crescer.