- Partilhar artigo
- ...
"O BCP está preparado para viver com níveis de taxas de juro negativas, temos modelo de negócio, mas somos comparados com outros bancos da Zona Euro, da União Bancária e o que queremos ter é as mesmas condições", afirmou Miguel Maya, presidente da comissão executiva do Millenniumbcp.
"Não percebo porque é que em Portugal - e não estou a falar de particulares nem das PME, obviamente - não podemos cobrar taxas de juro aos clientes. Não estamos a falar de maneira nenhuma de passar os juros negativos para os depositantes, que já estão a ser penalizadíssimos pelas baixas taxas de juro da poupança. O que estamos a falar é que há grandes operadores, institucionais, que andavam afastados de Portugal porque os bancos portugueses não tinham rating e agora depositam nos bancos portugueses, nomeadamente no BCP, porque nos seus países de origem se depositarem pagam e quando vêm a Portugal depositam e não pagam. Como o BCP já é investment-grade, tem centenas de milhões de euros depositados por clientes que não são de relação e não tenho capacidade para poder cobrar taxas de juro e isto tem a ver com regulação nacional", clarificou Miguel Maya.
Por causa da política monetária do BCE, o excesso de liquidez das instituições financeiras, que fica depositado na conta do banco central, é penalizado com uma taxa negativa que pode ir até -0,5%. Quem paga a fatura são os bancos, porque, ao contrário de outros países, em Portugal é proibido aplicar taxas negativas nos depósitos.
"O sistema devia ser idêntico a toda a Europa. Deve-se seguir o mesmo modelo em toda a Europa se a política monetária é idêntica em toda a Europa", disse António Ramalho, presidente da comissão executiva do Novo Banco.
Paulo Macedo, presidente da comissão executiva da CGD, lembrou que está fora de questão "cobrar qualquer comissão a clientes do retalho e a empresas" por causa da taxa de juro negativa do BCE até porque o dinheiro circula. "Agora, quando estamos a falar de instituições financeiras, porque é que um depósito de uma instituição financeira ou porque é que o depósito de uma multinacional, que apenas põe o dinheiro onde tem maior remuneração, não pode se pode cobrar?", questionou Paulo Macedo. "Devia haver uma legislação idêntica, uma vez que a parte dos particulares está protegida", referiu.
Os bancos colocaram em cima da mesa a possibilidade de cobrar taxas de juro negativas a grandes clientes.
As questões regulatórias percorreram o debate entre os três líderes bancários. "Gostava de uma regulação que proteja o consumidor, e que vai ser cada vez mais exigente, e igual para todos os operadores. Quando se fala de level playing field, tem de se saber que o BCP paga 50 milhões de euros por ano para pagar o Fundo de Resolução, e nenhum dos operadores, que está a entrar no mercado, paga", afirmou Miguel Maya, que deu mais um exemplo de "arbitragem regulatória", como lhe chamou António Ramalho.
"Há novos operadores que abrem uma conta em dois minutos, mas temos de perguntar à sociedade se quer mais medidas contra a lavagem de dinheiro (AML), porque o Millennium também consegue abrir uma conta num minuto e meio", disse Miguel Maya.