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João Duque referiu que, apesar de nem todas as pessoas serem dominadas pela inteligência artificial, a maioria terá a sua vida condicionada por ela, como já acontece hoje.
"Dizíamos há cerca de dois anos que a inteligência artificial seria mais inteligente do que o ser humano nos próximos 10 anos. Neste momento, essa previsão já se reduziu para cinco anos. Digamos que é possível que isso aconteça. Sendo assim, coloca-se um problema à humanidade: não há, na história do desenvolvimento do mundo e da vida animal, um caso em que um ser menos inteligente tenha dominado um ser mais inteligente", afirmou João Duque, presidente do ISEG, na sua apresentação intitulada "Impacto da IA no Setor Financeiro", durante o 7.º Grande Encontro da Banca do Futuro, organizado pelo Negócios.
Caso tal cenário se concretize no futuro, João Duque defende que seremos "guiados, conduzidos pela inteligência artificial de uma forma mais ou menos controlada, democrática, ou seja, mais ou menos generalizada a todos". Acrescentou ainda: "Admitindo mesmo que nem todos sejam dominados pela inteligência artificial, a maioria terá a vida condicionada por ela, como já acontece hoje".
Bloquear ou conviver
Na sua visão prospetiva, João Duque considera que "potencialmente, poderemos até ser muito limitados, na maior parte das instituições financeiras, a realizar muitas das tarefas que hoje executamos com maior liberdade". Acrescentou que "as próprias instituições poderão impor restrições, tornando impossível para muitas pessoas aceder a determinado nível de decisões, porque estas passam a ser feitas automaticamente e de forma muitíssimo mais segura".
Presidente do ISEG
Neste novo mundo, em que a tecnologia acelerou o seu domínio, será possível, por exemplo, avaliar a capacidade de compromisso num crédito através da leitura dos olhos.
João Duque alertou ainda para o problema do erro, que considera "uma questão absolutamente assustadora, porque estamos a começar a admitir que tudo o que sai da Inteligência Artificial está certo". Assinalou: "Podemos deixar de ter conhecimento para validar. Se começar a confiar num sistema que pode estar errado - talvez até de propósito para parecer humano -, aceitarei um erro de uma máquina? Porque aceito o erro de uma pessoa, mas será que consigo aceitar o erro de uma máquina?"
Destruição de emprego
Segundo João Duque, a literatura económica considera que a Inteligência Artificial destruirá empregos, o que poderá gerar "um excesso de pessoas inativas, um exército de indivíduos que levará ao problema do rendimento básico universal. Um rendimento básico universal elimina a poupança, porque esta deixa de fazer sentido: o rendimento seria suposto ser adequado ao consumo das pessoas e não destinado à poupança. Sem poupança individual, não haveria depósitos, pelo menos da forma tradicional, nem aplicações nos mercados de capitais, o que transformaria a intermediação financeira".
Perante esta visão mais apocalíptica para o futuro da banca, João Duque contrapôs as ideias de autores que defendem uma modificação no perfil dos empregados no setor bancário, algo que já está a acontecer. Segundo ele, o perfil passa a ser "mais tecnológico, técnico, de back office, porque é aí que se faz a gestão do risco, em vez de funcionários mais focados em tarefas rotineiras, como o atendimento". Acrescentou ainda: "Vamos ter uma aceleração nas tarefas que delegamos às máquinas, suportada cada vez mais por sistemas, mas será uma transição gradual".
"O setor bancário será cada vez menos povoado por pessoas e mais por sistemas. Nesse sentido, será cada vez mais seguro, mas também mais assustador devido à possibilidade de catástrofes, sobretudo pela ausência de pessoas conscientes, tecnicamente competentes e conhecedoras", concluiu João Duque.