Ou adivinhou ou estava convicto do triunfo final. Antes mesmo de ser anunciado como vencedor do desejado investimento, já o jovem Pedro Pinto inadvertidamente esticara a mão na direção do cheque de formato XL, então ainda na posse de Walter Palma, diretor de investimento da Caixa Capital.
Naquele momento, o projeto da sua empresa, a Fibersail, acabava apenas de ser distinguido como o melhor na categoria Ocean Economy, uma das quatro em competição na 6.ª edição do Demo Day, organizado pela Building Global Innovators (BGI), a 19 de novembro. Mas breves instantes depois, o empresário e antigo campeão de vela voltou a todo o pano ao palco do grande auditório do ISCTE para receber o ambicionado cheque.
"Estes 200 mil euros vão servir para acelerar o desenvolvimento do protótipo", revelou, ao Caixa Empresas, Pedro Pinto, fundador da Fibersail, juntamente com o amigo Hugo Rocha, medalhado olímpico em vela, em Atlanta, no ano de 1999.
O rumo da empresa está para já focado "no transporte marítimo e na vela de alta competição". Passa por usar "tecnologia de fibra ótica com sensores e por um algoritmo que os relaciona, fornecendo informação em tempo real sobre a estrutura de um navio".
A monitorização constante promete "prevenir acidentes e fornecer informação para que a estrutura de uma embarcação seja mais eficiente". A empresa de Pedro Pinto já tem um cliente e "mais algumas vendas na calha para quando o protótipo estiver a funcionar, no início do próximo ano".
Quanto a metas, a Fibersail "provavelmente dentro de um ano estará no mercado de alta competição de vela e, dentro de dois anos, no mercado do transporte marítimo".
No horizonte mais próximo, esta start-up poderá ainda aceder a um investimento adicional de 100 mil euros, a atribuir no próximo ano, no âmbito do Caixa Empreender Award. Já o contributo da BGI não deixou de ser realçado por Walter Palma, lembrando "as empresas no portefólio da Caixa Capital que aí surgiram e estão neste momento lançadas, casos da Veniam e da doDoc".
Sabendo que "as empresas que saem destes programas são muito incipientes, estão numa fase inicial de entrar no mercado", o diretor da Caixa Capital assume que "o apoio financeiro que nós damos, ajuda um bocado a criar o lastro necessário para ultrapassar as primeiras dificuldades".
Mas o panorama das start-ups em Portugal é animador. Serve o exemplo da Uniplaces, criadora de uma plataforma online para alojamento de estudantes universitários, "que fez recentemente a maior operação de financiamento fora de Portugal, no valor de 24 milhões de dólares".
"Claramente, Portugal está no mapa. Quando se fala que a empresa é portuguesa, as pessoas sabem de onde ela é e antigamente ninguém sabia", sustenta Walter Palma, para quem "o empreendedorismo foi um bocado o subproduto positivo da crise financeira". Ou seja, "levou muitos estudantes, muita gente jovem, com muitas capacidades, a não ficar de braços cruzados à espera que alguém lhes desse um emprego ou que o mercado recuperasse".
O otimismo é nota também entre os promotores da BGI. Para o diretor, Gonçalo Amorim, "a realidade é hoje muito diferente do que era há seis anos e a qualidade tem vindo a aumentar bastante".
O grande desafio da BGI "é o de provar que todo este maravilhoso novo mundo é sustentável. Isso depende de haver saídas, os chamados exits, capazes de remunerar todas as outras perdas". O risco existe e no universo das start-ups "sabemos que só duas ou três irão ter grande sucesso e permitir amortizar o capital perdido em todas as que não vão conseguir chegar ao mercado, de forma a remunerar o acionista".
A Building Global Innovators é uma aceleradora de empresas desenvolvida entre o ISCTE-IUL (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa) e o MIT Portugal, em parceria com o Massachusetts Institute of Technology (MIT). Este ano, 15 projetos foram apresentados neste Demo Day nas quatro categorias existentes – nomeadamente, Medical Devices & Health IT, Smart Cities & Industrial Technologies; Enterprise IT & Smart Data; Ocean Economy, onde a Fibersail foi identificada como a mais promissora.