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Juros da dívida portuguesa aproveitam onda europeia e renovam mínimos

Risco da dívida nacional voltou a diminuir para o nível mais baixo em cerca de quatro anos. Sentimento é motivado pela continuada descida das taxas de juro associadas à dívida portuguesa. Nas últimas 16 sessões, 15 foram de queda do juro nacional no prazo a dez anos. Na Europa, o juro espanhol a cinco anos ficou abaixo da taxa norte-americana pela primeira vez desde 2007. A ajuda veio de Mario Draghi.

04 de Abril de 2014 às 09:36
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A tendência de descida das taxas de juro associadas aos títulos de dívida nacional continua em Portugal, acompanhando o comportamento que se verifica nos restantes países como Irlanda, Espanha e Itália.

 

A taxa de juro implícita aos títulos de dívida a dez anos está a cair 3,9 pontos base para os 3,94%, de acordo com as taxas genéricas da Bloomberg. É um novo mínimo desde Dezembro de 2009. Um valor que é alcançado no mercado secundário (onde os investidores trocam dívida entre si) depois de, nas últimas 16 sessões, a queda ter sido uma realidade em 15 dias. A 15 de Março, a taxa estava em 4,6%. Esta sexta-feira, 4 de Abril, a “yield” segue cerca de 0,7 pontos percentuais, ou 70 pontos base, abaixo.

 

É neste prazo a dez anos que se costumam fazer comparações com a taxa de juro implícita à dívida alemã, a economia mais forte da Zona Euro e, portanto, a referência. É a diferença entre essas duas taxas que indica o risco da dívida portuguesa porque dá a ideia de que taxa extraordinária os investidores pedem para comprar títulos nacional em vez dos mais seguros títulos germânicos. Neste caso, o risco caiu hoje para 229 pontos base, ou seja, 2,29 pontos percentuais, estreando-se assim um novo mínimo desde 2010, há quatro anos. Em meados de Março, a taxa seguia acima de 300 pontos base.

 

Quedas em todos os prazos, tendência para continuar

 

As reduções das “yields” portuguesas têm sido uma realidade em todos os prazos e ao longo de vários dias. A taxa de juro a cinco anos está a recuar 5,5 pontos base para 2,75%. Já a dois anos, o recuo é mais ligeiro, de 0,4 pontos base, fixando-se em 1,26%, próxima dos mínimos desde o início do euro.

 

Os analistas que falaram com o Negócios, nesta altura em que se comemoram três anos desde o pedido de ajuda externa, indicam que ainda há margem para quedas mais intensas nestas taxas de rendibilidade exigidas pelos investidores quando querem negociar dívida nacional. Estas quebras das “yields” representam valorizações dos preços das obrigações, ou seja, elas tornam-se mais caras e, ao serem consideradas ligeiramente mais seguras, os investidores tendem a exigir, logo à partida, retornos menos elevados.

 

Um movimento positivo no mercado secundário que poderá ser um bom indicador para o mercado primário, aquele que, efectivamente, representa os custos de financiamento de um Estado (venda directa de dívida aos investidores). Aliás, a agência que gere a dívida pública portuguesa – IGCP – assinalou ontem que pretende realizar, até Junho, dois leilões de obrigações do Tesouro (cujos prazos de vencimento são superiores a 18 meses).

 

Há, contudo, um senão, como constata hoje o Negócios: a queda dos juros da dívida afasta novos investidores para além daqueles que, actualmente, já têm títulos portugueses nas suas mãos. Isto porque, por agora, são investidores de carácter mais especulativo que vão possuindo dívida portuguesa, já que as três principais agências de classificação de risco (“rating”) classificam-na ainda como um investimento especulativo (o chamado “lixo”), o que impede o investimento por parte de investidores mais institucionais. Ou seja, estas descidas são boas para a economia portuguesa (no que diz respeito a capacidade de financiamento) mas que poderá ser negativa se não houver uma inversão das notações financeiras atribuídas pelas grandes agências de “rating”.

 

Mario Draghi dá grande ajuda

 

Apesar da trajectória descendente dos juros nacionais ter ocorrido nos últimos meses, à medida que Portugal ia passando os exames da troika com elogios à execução dos compromissos e aproximando-se do final do programa de ajustamento económico e financeiro (solicitado porque o país não se conseguia financiar nos mercados – os investidores pediam, no mercado primário, juros muito elevados e insustentáveis no longo prazo), a conjuntura europeia foi dando uma ajuda. E grande.

 

A economia comunitária tem dado sinais de recuperação e os investidores parecem já não estar concentrados na dimensão da dívida pública dos países chamados periféricos da Zona Euro. Nesse sentido, têm sido várias as quebras das taxas de juro associadas à dívida dos mercados nacionais anteriormente afectados pela crise da dívida, como Irlanda, Itália, Espanha e também a Grécia.

 

No exemplo da Irlanda, a taxa de juro caiu hoje para o valor mais baixo desde, pelo menos, 1991, segundo dados da Bloomberg. A taxa segue nos 2,96%.

 

Em Itália e Espanha, os recuos são estão a levar as “yields” para níveis de 2005 (3,22% e 3,19%, respectivamente). Aliás, a taxa de juro a cinco anos da dívida espanhola desceu, pela primeira vez, abaixo da taxa pedida no mesmo prazo na dívida norte-americana.

 

O movimento de hoje segue-se ao desempenho já ontem apresentado, na sequência de declarações do presidente do Banco Central Europeu (BCE). Mario Draghi admitiu, depois de manter a taxa de juro de referência em 0,25%, que tinha sido discutida a opção de comprar dívida pública e privada. Estas aquisições, designadas de “quantitative easing” (programa de expansão monetária), estão entre as medidas não convencionais que o BCE se mostrou disponível para utilizar - e que podem sustentar o recuo das "yields" destes países, e respectiva subida do preço, dada a maior procura.  

 

(Notícia actualizada às 10h07 com mais informações)

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