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Portugal paga o dobro para emitir a 10 anos mas menos que em março de 2019

O IGCP colocou 1.016 milhões de euros em obrigações a 6 e 10 anos, com os custos de financiamento a agravarem-se.

22 de Abril de 2020 às 10:42
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O IGCP, instituto que gere a dívida pública portuguesa, realizou esta quarta-feira um duplo leilão de dívida a 6 e 10 anos, tendo suportado taxas de juro mais elevadas do que nas emissões comparáveis anteriores, reflexo do impacto da pandemia no mercado de obrigações soberanas.

 

Em dívida com maturidade em 21 de julho de 2026 foram colocados 418 milhões de euros, com uma "yield" de 0,843%, que compara com a taxa de juro de 0,059% suportada na emissão a cinco anos realizada em março.

 

O IGCP colocou ainda 598 milhões de euros em obrigações do Tesouro com maturidade em 15 de fevereiro de 2030. A taxa de juro nesta emissão a 10 anos ficou em 1,194%, acima dos 0,426% do leilão de março.

 
Portugal colocou no total 1.016 milhões de euros, ligeiramente acima do limite de mil milhões de euros que estava previsto.

O agravamento dos custos de financiamento de Portugal, em linha com os outros soberanos, já se tinha feito sentir no leilão de bilhetes do Tesouro do início deste mês, com a taxa de juro a ficar acima de 0% pela primeira vez em três anos.

As medidas de apoio à economia vão obrigar os países a aumentar o endividamento, o que está a levar os investidores a exigir juros mais altos para subscrever dívida, sendo este um movimento transversal que está a agravar as "yields" das obrigações soberanas dos principais países.

 

Para se ter uma ideia do agravamento dos custos de financiamento, em fevereiro, Portugal conseguiu emitir dívida a seis anos com uma taxa negativa (-0,057%) e dois meses depois teve de pagar uma taxa que não ficou muito longe de 1%. Ainda assim, em março do ano passado, Portugal emitiu dívida a seis anos com uma "yield" comparável à de hoje (0,763%) e em fevereiro de 2017 teve de pagar uma taxa bem superior (3,66%).

 

Na linha de obrigações com maturidade a 10 anos a taxa de juro mais do que duplicou no espaço de apenas um mês, mas está em linha com o registado no mercado secundário, onde a "yield" de Portugal já se situava acima de 1%.

 

E apesar do forte aumento, Portugal está a financiar-se a 10 anos a um custo inferior ao registado em março do ano passado, quando emitiu com uma "yield" de 1,298%.

 

Os dados da procura também mostram que o apetite dos investidores por dívida portuguesa se mantém intacto. A procura por dívida a 10 anos superou a oferta em 1,68 vezes, um rácio superior ao registado na emissão de março (1,53). Na emissão de dívida a seis anos a procura foi 2,34 vezes superior à oferta.


"Todas as dívidas soberanas europeias têm visto os seus prémios de risco a subir, com os países da periferia a serem mais penalizados. Apesar de termos suporte total do BCE, acaba por ser normal vermos uma subida das taxas por força da liquidez que cada país vai precisar para dar apoio à economia. O nível de endividamento vai aumentar e muito, ainda esta semana França anunciou ao mercado um aumento significativo do seu plano de financiamento", refere Filipe Silva, Diretor de Investimentos do Banco Carregosa.

"Não sendo atualmente uma preocupação, questionamo-nos como é que a dívida um dia mais tarde será paga. Faltará algo mais por parte das entidades europeias, do que simplesmente comprar dívida e, este será provavelmente o melhor momento para  a União Europeia deixar de ser um projeto e passar efetivamente a ser uma União", acrescenta.

(notícia atualizada com comentário de analista)

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