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Nichola James: "Para a DBRS subir o "outlook" é preciso uma descida sustentada da dívida"

Para ponderar uma melhoria da classificação, Nichola James, analista da DBRS, refere que é necessário provas de uma redução sustentada do rácio da dívida pública.

21 de Abril de 2017 às 20:57
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A DBRS manteve o "rating" de Portugal em BBB (baixo), um nível acima de "lixo". A perspectiva também continua estável. Nichola James, que integra a equipa da agência responsável pela classificação de Portugal, considera que no ano passado houve medidas extraordinárias a justificar a queda do défice. Mas, ao Negócios, a analista aponta factores positivos nos últimos seis meses, apesar de alertar para as elevadas taxas de juro.

Apesar da recuperação da economia e do défice abaixo da meta, a DBRS mostrou algumas cautelas em relação a esses desenvolvimentos. O que justifica essa cautela?

Essa cautela para o médio prazo deve-se ao facto de a recuperação mais forte no segundo semestre ter sido cíclica e não foi necessariamente decorrente de factores estruturais. Apesar de isso ser positivo no curto prazo, os esforços estruturais têm de ser intensificados.

E em relação à gestão orçamental?

A nossa perspectiva é que algumas das medidas do ano passado foram temporárias, como as cativações da despesa e o programa para o pagamento de impostos. Mas a diferença para este ano é que pode haver efeitos mais permanentes. Portugal terá provavelmente um crescimento mais forte e isso levará a um ganho natural do lado da receita e é por isso que esperamos que o défice fique abaixo de 2%.

O governo tem defendido que Portugal merece "outlooks" positivos. O que é preciso acontecer para a DBRS melhorar a perspectiva?

Para haver uma subida de "rating" ou um "outlook" positivo, o rácio de dívida tem de estar numa tendência de descida duradoura e sustentável. A nossa expectativa é que, com base nas políticas de que temos conhecimento e das estimativas que usamos, o rácio de dívida desça, mas de forma lenta. O factor crítico é que o rácio de dívida continua muito elevado e é por isso que somos conservadores.

O défice tem apresentado uma trajectória de descida, mas os custos com o sector bancário têm impedido que isso se traduza numa descida do rácio da dívida. Antecipam mais surpresas negativas neste ponto?

Até agora temos sido encorajados pela diminuição das vulnerabilidades no sector bancário. Claro que ainda existe um caminho a percorrer. A nossa estimativa base não prevê mais surpresas. Mas as surpresas são, por definição, surpresas.

A DBRS refere que o facto de haver um governo minoritário causa incerteza sobre a estratégia orçamental de longo prazo. Mas o Governo anunciou o Plano de Estabilidade e de Reformas até 2021. Que avaliação faz às medidas e previsões desse documento?

Não gostamos de comentar medidas específicas. Mas o que posso dizer é que até agora está tudo bem com o governo minoritário. Realçámos a posição minoritária do Governo. Mas esse é o caso para todos os governos com posições minoritárias e com desafios orçamentais no futuro.

O apoio ao Governo dos partidos mais à esquerda surpreendeu-a?

Tem havido uma antecipação no mercado de que as coisas poderiam ter sido piores do que o que foram. A cooperação tem sido razoável.

 

Portugal está mais perto de ter um "outlook" positivo actualmente do que há seis meses?

Neste momento o "outlook" é estável. Os riscos estão equilibrados em ambas as direcções. Nós sublinhamos no relatório o que tem de acontecer para um "outlook" positivo ou uma melhoria do "rating". Tem de haver provas de uma sustentada redução do rácio de dívida. E isso tem de vir via crescimento e via saldo primário. Está com o mesmo equilíbrio em ambas as direcções, como da última vez, porque da última vez também tivemos o "outlook" estável. Mas, claro, a estrutura económica tem sido um pouco mais encorajadora nos meses mais recentes.

Nos últimos seis meses quais os principais desenvolvimentos positivos e negativos em Portugal?

Penso que as métricas orçamentais foram boas porque mostram compromisso com as metas. O segundo ponto encorajador foi o crescimento mais forte que o antecipado no segundo semestre de 2016 devido ao consumo privado, investimento e exportações. O terceiro é a tentativa de lidar com as vulnerabilidades do sistema bancário.

E do lado negativo?

As taxas de juro elevadas são um problema, especialmente se houver um grande período de taxas altas sem crescimento. Mas de momento temos confiança no perfil da maturidade da dívida. Portanto levará tempo a que o impacto da subida das taxas de juro seja sentido. E depois houve factores externos. Apesar de o crescimento global aparentar ser mais promissor e de Portugal beneficiar com isso, há maiores riscos de proteccionismo, o que pode reduzir o comércio e o investimento internacional. A activação do artigo 50.º pelo Reino Unido, por exemplo, pode ter impacto negativo na procura na Europa. Há riscos de impactos económicos relacionados com factores externos e, associado a isso, uma maior volatilidade no mercado. 

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