Notícia
Juros da dívida portuguesa voltam a recuar em 2018 com Portugal a sair do "lixo"
Se a saída do "lixo" decretada por duas agências em 2017 contribuiu para o alívio dos juros da dívida portuguesa nesse ano, no ano que agora termina foi a vez de também a Moody’s atribuir uma classificação de investimento às obrigações lusas.
Os juros associados à dívida pública portuguesa colocada no mercado secundário aliviaram em 2018 pelo segundo ano consecutivo. Ao longo do ano que agora termina, a taxa de juro correspondente aos títulos soberanos de Portugal com prazo a 10 anos recuou 22,1 pontos base.
Depois de ter iniciado 2018 com uma taxa de juro de 1,925%, a "yield" associada às obrigações de dívida a 10 anos fechou o ano nos 1,722%.
A apoiar esta descida esteve continuação dada ao caminho de consolidação das contas públicas portuguesas, num ano em que o Governo definiu como objectivo um défice orçamental de 0,7% do PIB.
O ministro das Finanças Mário Centeno já admitiu inclusivamente que a diferença entre despesa e receitas no final de 2018 possa ser "ligeiramente" menor.
Também a contribuir para este alívio no custo de financiamento da economia portuguesa está o facto de, em Outubro, a agência de notação financeira Moody’s ter retirado a dívida lusa de um grau de investimento especulativo. Com esta decisão, a Moody’s juntou-se à S&P e à Fitch que retiraram Portugal do "lixo" ainda em 2017.
A redução progressiva do défice fazia já sentir-se no ano passado, razão que levou aquelas agências a melhorar a classificação atribuída à República portuguesa e que permitiu que nos 12 meses de 2017 os juros da dívida com maturidade a 10 anos tenham caído acima de 18 pontos base.
No final de Novembro, o primeiro-ministro António Costa anunciou que até ao fim de 2018 o país iria saldar toda a dívida contraída junto do Fundo Monetário Internacional (FMI) aquando do resgate financeiro. Portugal tem vindo a emitir dívida a juros mais baixos do que os negociados com o FMI.
No entanto, apesar da descida da dívida pública em percentagem do PIB, que se justifica pelo crescimento económico, a dívida continuou a crescer em termos absolutos, tendo fixado no final de Outubro num novo máximo de sempre (251,1 mil milhões de euros).
Juros da dívida italiana contrariam tendência na Zona Euro
Na área do euro a tendência generalizada foi de descida dos juros das dívidas públicas, beneficiando do crescimento económico registado na generalidade dos países da moeda única.
A principal excepção foi Itália, cujos juros da dívida se agravaram pelo terceiro ano seguido. Depois de aumentar 22 e 20 pontos base em 2016 e 2017, respectivamente, a "yield" correspondente aos títulos da dívida transalpina cresceram 72,6 pontos base para chegar 2018 nos 2,742% no prazo a 10 anos.
A vitória do anti-sistema Movimento 5 Estrelas nas eleições gerais de Março, a primazia da anti-imigração Liga à direita e a quebra das forças tradicionais do centro-esquerda (PD) e do centro-direita (Força Itália) colocaram a dívida italiana sob pressão. Já em pleno Verão, a formação de uma inédita aliança entre os partidos de Di Maio e Matteo Salvini elevaram essa pressão, fazendo disparar os juros da dívida italiana.
Com a aproximação da entrega, em Bruxelas, das propostas orçamentais dos países-membros do euro, confirmou o antecipado confronto entre o governo eurocéptico de Roma e a Comissão Europeia, o que voltou a reflectir-se no aumento dos juros exigidos pelos investidores para adquirirem dívida transalpina.
Com uma dívida em torno de 131% do PIB – a segunda mais alta na Zona Euro, só atrás da Grécia – e crescentes sinais de abrandamento económico, as tréguas entre Roma e Bruxelas não foram suficientes para garantir a confiança dos mercados na trajectória orçamental de Itália.
Nota ainda para os juros associados à dívida alemã, com a "yield" correspondente às "bunds" a 10 anos a cair 18,5 pontos base em 2018 para fechar o ano em 0,242%. A forte volatilidade registada nos mercados, em particular no bolsista e no petrolífero, acabou por reforçar o perfil de activo de refúgio da dívida germânica.
Por fim, também a taxa de juro da dívida pública francesa a 10 anos fecha o ano com um alívio de 7,5 pontos base, tendo-se mantido com uma "yield" inferior a 1% (0,71%) apesar dos efeitos provocados pelos protestos dos coletes amarelos.