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Há mais de um mês que investidores veem menos risco na dívida portuguesa que na espanhola

Os juros portugueses estão a subir menos do que os espanhóis, aumentando o spread a favor de Portugal para máximos históricos. A instabilidade política tem sido responsável por esta diferenciação, segundo os analistas.

EPA
12 de Novembro de 2019 às 17:15
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Os juros portugueses estão há mais de um mês a negociar abaixo dos juros espanhóis e o diferencial entre os dois valores atingiu um máximo desde a criação da Zona Euro, altura a partir da qual é possível comparar dado que a moeda passou a ser a mesma.

No mercado secundário, o "spread" entre as taxas de juro de referência a dez anos da dívida portuguesa e da dívida espanhola superou os 8 pontos base na sessão desta terça-feira, 12 de novembro.

Os juros de Espanha estão a subir 1,3 pontos base para os 0,44% ao passo que os juros de Portugal sobem 0,7 pontos base para os 0,358%. O rácio da dívida pública espanhola é ligeiramente inferior a 100% enquanto o rácio da dívida pública portuguesa é superior a 120%.

Estes números podem ser interpretados como uma mudança, ainda que ligeira, na forma como os investidores estão a olhar para Portugal e Espanha. Na medida em que o "spread" entre os juros dos países da Zona Euro mede o "risco" associado a cada um, pode-se concluir - ainda que com cautela - que os investidores veem menos risco na dívida portuguesa do que na espanhola, neste momento.

"É correto afirmar que o atual nível de diferença nas taxas de juro de referência a 10 anos entre Portugal e Espanha, é o valor mais baixo de sempre [do ponto de vista de Espanha] desde a criação da moeda única europeia, sendo ainda de assinalar a persistência deste diferencial de forma continuada nos últimos 30 dias", assinala ao Negócios o diretor de investimento do Banco Best, Carlos Almeida.

Instabilidade política e questões técnicas
O motivo mais apontado pelos analistas é a instabilidade política que se vive em Espanha ao passo que em Portugal, para já, parece haver condições de governabilidade, ainda que sem uma maioria absoluta ou um acordo explícito entre os partidos. 

Já os espanhóis foram às urnas este domingo para a quarta eleição em quatro anos e os resultados apontavam para uma manutenção do impasse político. Os partidos da esquerda, o PSOE e o Unidas Podemos, anunciaram hoje que vão assinar um pré-acordo com vista à formação de um Governo de coligação. No entanto, os dois em conjunto não têm maioria parlamentar pelo que terão de arrecadar mais apoios, o que traz mais incerteza ao processo. 

Os mercados tendem a olhar para a instabilidade política, somada à crise na Catalunha, com reservas, apesar de a economia espanhola ser, no geral, mais resiliente do que a portuguesa. Também no PIB as previsões apontam para uma desaceleração mais forte em Espanha face a Portugal, segundo os últimos números da Comissão Europeia.

Contudo, não é de excluir que haja alguns fatores mais técnicos e de "timing" a influenciar este comportamento dos juros ibéricos. Ou seja, pode não ser a análise de risco a influenciar esta diferenciação entre Portugal e Espanha. Um exemplo disso é a segunda ronda de compra de dívida pública por parte do Banco Central Europeu (BCE) que arrancou a 1 de novembro, que pode ter sido antecipada pelos investidores.

Além disso, os analistas do Barclays referiam há um mês que a "underperformance" das obrigações espanholas justificava-se pela tomada de mais-valias em antecipação das eleições em novembro cujo resultado era incerto.

Como evoluiu o "spread" entre os países vizinhos desde a criação da Zona Euro?
Durante os 20 anos de moeda única, na maior parte do tempo o "spread" foi favorável a Espanha, isto é, os investidores olhavam para Portugal como tendo maior risco. Isso verificou-se principalmente nos anos da crise, entre 2011 e 2014, altura em que o diferencial chegou a ser superior a 1.000 pontos base (mais de 10 pontos percentuais de "spread").

No entanto, já houve momentos em que o diferencial foi favorável a Portugal: aconteceu durante três semanas em novembro de 2009, segundo os dados da Bloomberg, e também durante três meses em 2004 e 2005. 

Porém, nessas duas alturas, o diferencial nunca chegou aos níveis que foram atingidos nas últimas sessões. O máximo que tinha sido atingido anteriormente era de 4,8 pontos base, o que compara com mais de 8 pontos base da sessão de hoje. 

Ainda assim, é preciso interpretar estes dados com cautela dado que estes correspondem à taxa de juro genérica, no mercado secundário, de cada país e não a uma linha específica de obrigações soberanas que é emitida em mercado primário pelos institutos que gerem a dívida pública (o IGCP, no caso de Portugal).

Acresce que em alguns meses de 2005 e de 2006 há uma falha na série histórica da Bloomberg, o que impossibilita a reconstituição de um gráfico continuado, sem falhas, do "spread" entre Portugal e Espanha. Recorrendo aos dados oficiais do Banco de Portugal publicados nesse período, é possível concluir que nessa altura o diferencial era favorável a Espanha.
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