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Commerzbank: "Apesar do crescimento no terceiro trimestre, Portugal é candidato a crise"
O banco alemão até refere que houve alguns dados “encorajadores”. Mas mantém Portugal como um dos países do euro candidatos a sofrer uma crise.
O Commerzbank defende que apesar dos dados do crescimento no terceiro trimestre e de a meta do défice ser alcançável, isso não é suficiente para tirar Portugal da ameaça de uma nova crise. "Apesar do forte crescimento económico no terceiro trimestre e da meta para o défice de 2016 ser provavelmente atingida, Portugal continua como um dos candidatos da Zona Euro a uma crise", refere o banco alemão, num relatório assinado por Ralph Solveen e Jörg Krämer.
Os economistas do Commerzbank justificam os seus receios em relação a Portugal. Consideram que apesar dos números do terceiro trimestre, o crescimento deverá ser moderado. Perspectivam que "o resultado salutar do PIB é provavelmente mais um sucesso ‘one-off’ do que o início de um período de forte crescimento". Destacam que o contributo da componente de investimento é "ainda fraco.
Outro factor que leva o Commerzbank a temer uma nova crise em Portugal é o valor do rácio da dívida sobre o PIB, de quase 130%. "É improvável que desça muito no próximo ano", referem os economistas do banco alemão. E apesar de considerarem como provável que Portugal cumpra a meta do défice deste ano, os analistas expressam dúvidas sobre "durante quanto tempo continuará a consolidação orçamental".
O Commerzbank refere que "será difícil para o governo, a partir deste ponto, reduzir o défice para os 1,6% planeados para o próximo ano". No entanto, o banco alemão considera que dada a evolução do PS nas sondagens, "se for confrontado pelos seus parceiros para uma abordagem orçamental mais expansionista, o mais moderado PS pode de facto arriscar o fim dessa aliança, um factor que sem dúvida lhe dá mais poder de negociação".
Adiamento da recapitalização da CGD
Além de mostrar cepcticismo apesar dos últimos indicadores positivos, o Commerzbank também não está convencido sobre a saúde do sector bancário. "Os problemas no sector bancário estão ainda à espera de serem solucionados", refere a nota. O banco alemão expressa preocupações sobre o adiamento do plano de recapitalização da Caixa. E avisa que colocar mil milhões de euros em dívida subordinada junto de privados pode ser um obstáculo nesta operação.
Também o processo do Novo Banco é enumerado pelo Commerzbank. "A privatização do Novo Banco ainda está em curso, e isso pode significar um constrangimento adicionar à situação financeira do governo e dos outros bancos".
Conclusão: obrigações portuguesas continuam em risco
Com as fragilidades observadas pelo Commerzabnk, a conclusão do banco alemão é que "as obrigações governamentais portuguesas poderão ser as que mais sofrem". Além dos factores sobre o nível de endividamento, do crescimento e do sector bancário, os economistas do banco realçam que o BCE está perto de atingir os limites para a compra de obrigações portuguesas. E recordam os episódios que atingiram os títulos nacionais antes das últimas decisões da DBRS, a única agência de "rating" seguida pelo BCE que avalia Portugal em grau de investimento, para provar os "receios do impacto do fim do apoio do BCE às obrigações portuguesas".
Para o próximo ano, consideram que os 16 mil milhões de euros que o Estado pretende colocar em obrigações do Tesouro "é bastante elevado para um emitente com obrigações avaliadas com um ‘rating’ de lixo pelas três (mais) importantes agências". Apesar desse factor, o Estado conseguiu colocar um montante superior em 2016 (17,4 mil milhões de euros).