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Tempestade perfeita afundou petróleo esta semana. Mas UBS vê Brent nos 75 dólares no final do ano

A queda dos preços da matéria-prima registada no acumulado das últimas cinco sessões, depois de oito semanas consecutivas em alta, deveu-se à conjugação de vários fatores, sublinha o UBS.

Reuters
20 de Março de 2021 às 17:15
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O aumento das reservas norte-americanas de crude, a fraca procura por parte das refinarias chinesas e a situação na Europa continental, onde a retoma do consumo de combustível está a estagnar devido ao endurecimento das restrições de combate à pandemia, foram fatores que fizeram com que os preços do petróleo registassem na quinta-feira a sua pior sessão desde abril de 2020, diz Giovanni Staunovo, analista de matérias-primas do UBS, num relatório divulgado ontem e a que o Negócios teve acesso.

 

"A queda dos preços esta semana deveu-se não a um fator mas a uma conjugação de fatores", sublinha.

Ontem, depois de cinco sessões consecutivas a negociar no vermelho, o "ouro negro" esteve a recuperar do forte selloff da véspera que levou a quedas de 7%. O West Texas Intermediate (WTI), "benchmark" para os Estados Unidos, para entrega em abril somou 0,95% na última sessão da semana, para 60,57 dólares por barril. Já o contrato de maio do Brent do Mar do Norte, crude negociado em Londres e referência para as importações europeias, avançou 0,85% para 63,82 dólares.

Os fatores em causa

 

Relativamente aos stocks norte-americanos de crude, o Departamento da Energia dos EUA revelou na quarta-feira que estes aumentaram em 2,4 milhões de barris na semana passada. Tratou-se da quarta semana consecutiva de subida dos stocks, um incremento que o UBS atribui à pertubação nas operações de refinação no sul do país, com especial evidência no Texas, decorrente dos fortes nervões de finais do mês passado.

 

Já no que toca ao débil consumo das refinarias chinesas, "estamos convictos de que isso se deve à iminente paragem de muitas refinarias para manutenção e ao foco no recurso aos inventários nacionais – que aumentaram quando os preços estavam mais baixos no ano passado", refere a nota de análise do banco suíço. "Assim que termine o período de manutenção, estimamos que as importações chinesas de crude irão aumentar de novo".

 

Para Giovanni Staunovo, "mais preocupante é a situação na Europa continental, onde a retoma da procura por petróleo está a estagnar, dado que os governos alargaram as restrições à mobilidade".

 

Do lado positivo está o ritmo promissor dos programas de vacinação contra a covid-19 no Reino Unido e nos EUA: "a atividade rodoviária nos dois países e a atividade aérea nos Estados Unidos estão já a melhorar".

 

Com a expectativa de que o processo de vacinação ganhe balanço – especialmente agora que a Agência Europeia do Medicamento veio atestar a segurança e eficácia da vacina da AstraZeneca/Universidade de Oxford" – e com a a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (o chamado grupo OPEP+) a manterem uma abordagem cautelosa (têm renovado sucessivamente o acordo de corte da oferta mundial), o UBS antevê que os stocks petrolíferos comecem a normalizar em meados do ano, o que deverá sustentar os preços.

 

 


Brent nos 75 dólares no final do ano

 

O UBS estima que os preços do Brent do Mar do Norte  atinjam os 75 dólares por barril no último trimestre deste ano, uma revisão em alta face aos 60 dólares que previa em dezembro passado.

 

Por isso mesmo, é reiterada a recomendação do relatório anterior. "Continuamos a aconselhar os investidores com elevada tolerância ao risco no sentido de manterem a aposta no Brent e a assumirem posições longas" neste ativo, sublinha a equipa de análise de "commodities" do banco suíço.

 

A derrocada de abril de 2020

 

20 de abril foi um dia que marcou o mercado petrolífero em 2020. Foi nesta sessão que o petróleo dos EUA negociou em valores negativos pela primeira vez na sua história, fortemente pressionado pela falta de espaço de armazenamento – o que levou os investidores a "despacharem" o ouro negro a qualquer preço para não ficarem a braços com matéria-prima que não tinham onde colocar quando o contrato de futuros encerrasse no dia seguinte.

 

O WTI encerrou essa segunda-feira negra a afundar para -37,63 dólares por barril (depois de ter chegado a fixar-se em 40,32 dólares negativos), algo nunca antes visto – e a cair 56 dólares face ao fecho da sessão anterior.

 

O valor de 9,75 dólares tinha sido a cotação intradiária mais baixa desde que os futuros do petróleo foram lançados em 1983 no mercado nova-iorquino de matérias-primas (NYMEX). Ou seja, desde a Administração Reagan que o crude não estava tão barato.

A derrocada de 20 de abril deixou os preços do crude norte-americano 159,4% abaixo do pico de janeiro de 63,27 dólares. Ou seja, os vendedores aceitaram pagar esse valor por cada barril de 159 litros para se desfazerem dos contratos.

 

O Brent do Mar do Norte teve uma queda menos acentuada nessa sessão de 20 de abril, mas, ainda assim, perdeu 5,73% para 26,47 dólares por barril.

 

O facto de os contratos de maio do WTI vencerem no dia seguinte levou ao fecho de muitas posições, com os operadores a preferirem prazos mais longos, o que ajudou a afundar os preços. Nessa mesma sessão, o WTI para entrega em junho caiu 9% para 22,70 dólares. O spread de cerca de 60 dólares entre os contratos de maio e de junho era um claro sinal de que os traders de petróleo físico não tinham espaço disponível.

  

A oferta de crude nos mercados estava a ser cada vez mais excedentária face à contínua queda da procura por força da pandemia de covid-19 e dos consequentes confinamentos. E, à falta de espaço de armazenamento em terra, muitas empresas começaram a recorrer aos superpetroleiros, com o crude guardado no mar a atingir um recorde de 160 milhões de barris.

 

O que aconteceu, em suma, foi que os traders pagaram para despacharem petróleo físico – já que não o queriam ter em mãos quando o contrato vencesse no dia seguinte, fosse por falta de espaço para o guardar ou por apenas lhes interessar a negociação das cotações.

 

O problema da falta de armazenamento afetou sobretudo os produtores norte-americanos. "Com o espaço de armazenamento a encher, o preço do petróleo para entrega imediata afundou", comentou nessa altura um analista do Saxo Bank, Ole Hansen.

 

Apesar de, no dia seguinte, a 21 de abril, os preços dos futuros do crude norte-americano terem recuperado para a casa dos 4 dólares por barril, as cotadas do setor continuaram a ser muito pressionadas, pois aquelas cotações não permitiam margens operacionais viáveis. Isto em contraste com as empresas donas de superpetroleiros – que continuavam a encher, à conta da falta de espaço em terra para o armazenar.

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