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Petróleo negoceia em valores negativos pela primeira vez na história

As cotações do "ouro negro" mergulharam neste arranque de semana, com a matéria-prima a ser fortemente pressionada pela falta de espaço de armazenamento. Nos EUA, negociou em valores negativos pela primeira vez na sua história.

20 de Abril de 2020 às 21:22
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O contrato de maio do West Texas Intermediate (WTI), "benchmark" para os Estados Unidos, encerrou na segunda-feira a afundar para -37,63 dólares por barril (depois de ter chegado a fixar-se em 40,32 dólares negativos), algo nunca antes visto – e a cair 56 dólares face ao fecho de sexta-feira.

 

O valor de 9,75 dólares tinha sido a cotação intradiária mais baixa desde que os futuros do petróleo foram lançados em 1983 no mercado nova-iorquino de matérias-primas (NYMEX). Ou seja, desde a Administração Reagan que o crude não estava tão barato.

A derrocada desta segunda-feira no WTI deixa os preços do crude norte-americano 159,4% abaixo do pico de janeiro de 63,27 dólares.

 

O facto de os contratos de maio vencerem esta terça-feira levou ao fecho de muitas posições, com os operadores a preferirem prazos mais longos, o que ajudou a afundar os preços.

 

Por seu lado, o Brent do Mar do Norte, negociado em Londres e referência para as importações portuguesas, perdeu 5,73% para 26,47 dólares por barril.

 

A oferta de crude nos mercados tem sido cada vez mais excedentária face à contínua queda da procura por força da pandemia de covid-19. E, à falta de espaço de armazenamento em terra, muitas empresas estão já a recorrer aos superpetroleiros. O crude que está neste momento guardado no mar atingiu já um novo recorde de 160 milhões de barris (o dobro do nível de há duas semanas).

 

O problema da falta de armazenamento está a afetar sobretudo os produtores norte-americanos. "Com o espaço de armazenamento a encher, o preço do petróleo para entrega imediata afundou", comentou à ProActiveInvestors um analista do Saxo Bank, Ole Hansen.

 

O spread de cerca de 60 dólares entre os contratos de maio e de junho é um claro sinal de que os traders de petróleo físico não têm espaço disponível. O contrato de junho do WTI seguia ao final do dia a cair 9% para 22,70 dólares.
 

O Saxo considera que só uma forte alteração nos fundamentais – como os produtores serem obrigados a parar ou haver uma melhoria significativa do lado da procura – poderá agora travar esta queda dos preços.

 

Em Cushing (Oklahoma) – onde o WTI é armazenado – já só há espaço para 21 milhões de barris e este deverá ficar esgotado já em maio.

 

Uma vez que Cushing funciona como o ponto de fixação do preço do WTI, o aumento das reservas coloca uma pressão negativa nos preços 'spot', o que origina o chamado fenómeno do contango – quando os contratos de futuros têm preços superiores aos de entrega imediata.

Saliente-se que como é em Cushing que é armazenado o petróleo transaccionado no NYMEX, este excedente faz cair os preços locais do crude em relação ao ouro negro que é entregue noutras regiões do mundo.

 

Na semana passada, a Administração Trump disse estar a ponderar pagar aos produtores petrolíferos norte-americanos para deixarem o crude nos poços. Ou seja, quer pagar para que as perfuradoras não trabalhem.

 

Por seu lado, a AIE sublinhou que os EUA registarão uma queda "sem precedentes" na sua produção de petróleo este ano devido aos baixos preços – que dificultam grandemente a vida às empresas do "shale oil" [petróleo extraído das rochas de xisto betuminoso].

 

Além disso, os inventários de crude nos EUA não param de aumentar. As reservas norte-americanas de crude aumentaram em 19,2 milhões de barris há duas semanas, anunciou na passada quarta-feira o Departamento norte-americano da Energia. Foi o maior incremento semanal desde que estes dados começaram a ser compilados, em 1982.

 

Os stocks de crude dos EUA estão agora acima de 500 milhões de barris – pela primeira vez desde junho de 2017, segundo os dados da ClipperData.

 

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