Notícia
O poder dos destilados intermédios. Gasóleo dispara mais de 80% na Europa
O gasóleo europeu escala mais de 80%, ao passo que nos EUA os contratos de combustível para aviação e os contratos de gasóleo entregues no porto de Nova Iorque ganham mais de 100%.
O "ouro negro" tem valorizado fortemente em 2022 e, no acumulado deste ano, os preços spot sobem em torno de 34%. No entanto, as verdadeiras vedetas no mercado do complexo do petróleo têm sido os produtos petrolíferos, com a gasolina nos EUA a somar mais de 50% e o gasóleo de aquecimento a disparar acima de 70%.
Já o gasóleo europeu escala mais de 80%, ao passo que nos EUA os contratos de combustível para aviação e os contratos de gasóleo entregues no porto de Nova Iorque ganham mais de 100%, sublinha o UBS num relatório a que o Negócios teve acesso. O porto de Nova Iorque é o local de negociação – "pelo que, quando os futuros expiram, é aí que se vai buscar o diesel", explica ao Negócios Giovanni Staunovo, analista de matérias-primas do banco suíço e um dos autores do relatório.
Os destilados intermédios – assim chamados porque são produtos obtidos durante a destilação do crude nas refinarias – destacam-se nesta lista de produtos petrolíferos. Entre eles, incluem-se produtos como o diesel, gasóleo de aquecimento, diesel ferroviário, combustível para aviação e gasóleo marítimo.
"Os destilados intermédios são os lubrificantes da economia mundial, já que a sua procura é fortemente orientada para os ciclos económicos. Eles são sobretudo usados no transporte de encomendas – incluindo camiões, barcos, locomotivas e aviões –, na atividade indutrial, agricultura, atividade mineira, e extração de petróleo e gás. E a subida dos preços deverá ter impacto nos consumidores e continuar a contribuir para as pressões inflacionistas", destaca a análise do UBS.
As elevadas cotações destes produtos também deverão influenciar os preços dos alimentos, uma vez que os destilados são usados igualmente na agricultura e pescas (tratores, embarcações), refere o banco, salientando que a procura por destilados tende a ser menos elástica perante os preços do que a gasolina – isto é, os preços altos tendem a pesar menos na procura.
E porquê? Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), "o gasóleo é mais comummente um fator de produção e usado para o transporte de bens, ao passo que a gasolina é grandemente consumida pelas famílias – que podem mais facilmente limitar a sua mobilidade rodoviária quando os preços estão a subir".
O que está a levar a esta forte subida dos preços é sobretudo o facto de a oferta não estar a ser capaz de atender à crescente procura, o que também fez com que os inventários caíssem para mínimos de vários anos.
"Com o mundo ainda a recuperar da pandemia, e com o aumento da procura por viagens, a procura por destilados intermédios deverá continuar a aumentar. As famílias e empresas não compram crude, mas sim produtos petrolíferos processados nas refinarias – que estão a debater-se para conseguirem atender à maior produta por esses mesmos produtos petrolíferos", frisa o relatório do UBS.
Entre muitos outros fatores, "a subida dos preços do gás natural, um elemento chave no processo de refinação, não está a ajudar". Outro fator que não está a ajudar é a guerra da Rússia na Ucrânia. "As sanções já decretadas contra Moscovo e o potencial embargo europeu às importações de petróleo russo poderão deixar o mercado dos destilados ainda mais apertado", consideram os analistas do banco suíço.
Neste cenário, o UBS continua a recomendar aos investidores com elevada tolerância ao risco para investirem nos contratos do Brent do Mar do Norte, crude de referência para as importações europeias.