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Não é só a OPEP. Há menos barris para mais procura
Os membros da OPEP+ vão retirar crude do mercado. O volume é, para já, insignificante. Mas haverá menos oferta e mais procura por outra via: a OCDE deixará de aceder às suas reservas estratégicas e a UE abrirá mão de 90% do crude russo. O que sustentará os preços.
Há uma semana, os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e os seus parceiros (o chamado grupo OPEP+) anunciaram que vão reduzir em 100 mil barris diários a sua oferta a partir de outubro, na tentativa de estabilizar o mercado depois de o “ouro negro” ter registado a maior queda em dois anos e de as cotações em Londres e Nova Iorque terem recuado para mínimos de janeiro deste ano.
Logo que o anúncio foi feito, os preços reagiram em alta. Depois disso, já estiveram de novo a negociar no vermelho, à conta da valorização do dólar – o petróleo é denominado na nota verde, pelo que, nestes casos, fica menos atrativo para quem negoceia com outras moedas – e dos receios de que a extensão das medidas de confinamento na China devido à covid-19 possam desacelerar a atividade económica global e atingir a procura por combustível.
Ainda assim, tudo aponta para que os preços do crude se mantenham sustentados nos próximos tempos e o UBS é um dos observadores que se mostra otimista perante a evolução das cotações desta matéria-prima. E sobretudo devido a três grandes motivos, sublinha Giovanni Staunovo, analista de “commodities” do banco suíço.
“Reiteramos a nossa visão ‘bullish’ por várias razões: acaba o recurso às reservas estratégicas de petróleo da OCDE – o que irá retirar mais de um milhão de barris por dia à oferta a partir de novembro; vai haver aumento do uso de petróleo para produzir eletricidade devido aos elevados preços do gás natural; e a União Europeia pretende reduzir em quase 90% a sua dependência das importações de crude russo a 5 de dezembro e dos produtos refinados a 5 de fevereiro – o que deverá provocar alguma disrupção, atendendo a que as compras de petróleo a Moscovo por parte da UE ascendiam a 2,8 milhões de barris por dia em julho”, refere o estratega do UBS numa análise a que o Negócios teve acesso.
Apesar de esta redução anunciada pela OPEP+ ser simbólica, os membros do cartel e seus aliados continuam a monitorizar de perto os desenvolvimentos do mercado e rapidamente podem proceder a cortes mais substanciais se os preços caírem abaixo de um patamar indesejável – já que o petróleo é a principal fonte de receita de grande parte destes exportadores.
A próxima reunião da OPEP+ está agendada para 5 de outubro, mas o presidente do grupo – o ministro saudita da Energia – pode a qualquer momento marcar um encontro extraordinário se houver necessidade. “Esta flexibilidade, a par com o potencial de o grupo ajustar a qualquer momento a sua produção, deverá limitar as apostas na queda do petróleo”, considera Staunovo. “Continuamos convictos de que a OPEP+ tem o forte desejo de defender os preços do crude acima dos 90 dólares por barril”, frisa.
O certo é que o cenário dos próximos meses pode mudar a qualquer momento. Com os bancos centrais a subirem os juros diretores para combater a inflação, crescem os receios de que a economia mundial entre em recessão, o que penalizaria os preços do crude. Mas, ao mesmo tempo, o corte de produção de exportadores-chave, como a Arábia Saudita e a Rússia, poderá ajudar a sustentar as cotações.
Moscovo poderá reduzir a oferta também por razões de política interna. Na semana passada, ameaçou suspender as exportações de crude e gás natural aos países compradores que limitem os preços. Um dia depois, a UE anunciou medidas nesse mesmo sentido: estabelecer um preço máximo a pagar pelo gás importado da Rússia. Quanto ao petróleo, no âmbito do sexto pacote de sanções do Conselho Europeu, a partir de 5 de dezembro terminam as importações por via marítima, o que corresponde a quase 90%. Está prevista uma exceção temporária para as importações via oleoduto nos Estados-membros que, devido à sua situação geográfica, dependem do aprovisionamento russo e não têm alternativas viáveis. Além disso, a Bulgária e a Croácia beneficiarão de derrogações temporárias na importação de crude transportado por via marítima.