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Com excesso de café, Brasil está sem espaço para armazenar grãos
O Brasil enfrenta um problema inédito no mercado do café: muitos grãos e nenhum lugar para os armazenar.
Os armazéns do maior exportador de café do mundo nunca estiveram tão cheios, e os camiões nas maiores regiões produtoras de café do país aguardam dias para descarregar a carga de uma colheita recorde, numa altura em que a procura global está em queda.
A situação é preocupante em Franca, interior de São Paulo, onde cerca de 90 camiões cheios de café estão parados numa fila do lado de fora de um armazém operado pela Dínamo.
"Há apenas dois dias, eram 40 ou 50 camiões", sublinhava na passada quinta-feira, 16 de setembro, Luiz Alberto Azevedo Levy Jr., diretor da Dínamo, em entrevista por telefone. "Estamos muito próximos da nossa capacidade máxima".
Atrasos
Os camiões podem ter de esperar cerca de três dias para descarregar, mesmo com o armazém a funcionar duas horas extra diariamente e também aos fins de semana. Filas semelhantes afetam a unidade da Dínamo em Machado e outros armazéns nos estados de Minas Gerais e São Paulo.
"Nunca vi esta situação antes", comentou Levy. "Os agricultores venderam a produção e agora querem saber onde entregarão. Para o exportador, é uma situação mais difícil. Eles compraram o café e agora precisam de encontrar espaço para o armazenar".
A crise de armazenamento ocorre depois de os agricultores – incentivados pelos preços mais altos em reais – já terem vendido a maior parte da safra deste ano justamente quando a pandemia fechou restaurantes e redes de cafeterias em todo o mundo, reduzindo o consumo.
A procura por café segue fraca e os armazéns privados parecem estar cheios, mesmo nos Estados Unidos, referiu Nick Gentile, sócio-gerente da NickJen Capital Management, com sede em Nova Iorque. Os stocks globais aumentarão 18% na época agrícola de 2020-21, para o maior nível em seis anos, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA.
"Há um colapso na armazenagem", salientou Regis Ricco Alves, diretor da consultora RR Consultoria Rural. "Não há como armazenar mais café. A demora para descarregar é de seis a sete dias", acrescentou.
As maiores cooperativas do sul de Minas Gerais estão a armazenar grãos em silos-bolsas do lado de fora dos armazéns para atenderem à procura, frisou Alves em entrevista. Os camionistas estão a cobrar o dobro para entregar os grãos devido ao longo tempo de espera, referiu.
As vendas dos agricultores atingiram um recorde este ano, atingindo 60% de uma colheita estimada em 68,1 milhões de sacas, segundo a consultora Safras & Mercado. Cerca de 41 milhões de sacas estão a ser entregues aos compradores, com a maior parte a seguirem para armazéns de trading.
Exportações em queda
Ainda assim, as exportações brasileiras de café caíram desde o início da temporada agrícola, em julho, devido a problemas logísticos, como a disponibilidade limitada de contentores, explicou Carlos Alberto Fernandes Santana, diretor da Empresa Interagrícola, unidade da comercializadora e processadora Ecom Agroindustrial.
A Minasul, cooperativa agrícola de Minas Gerais que também envia café diretamente para torrefadores no exterior, está com problemas para agendar espaço nos navios porta-contentores no Porto de Santos, de onde a maior parte do café brasileiro é embarcada. O grupo deve exportar 20% menos em setembro do que o planeado, segundo o presidente da cooperativa, José Marcos Magalhães.
"Os atrasos já ultrapassam 15 dias e as empresas comercializadoras estão a pedir uma semana a mais para retirar o café dos nossos armazéns", disse em entrevista. "Os novos contratos de venda de café estão suspensos, a menos que o vendedor tenha disponibilidade de armazenar os grãos por 10 a 12 dias".
(Artigo original: Brazil Is Running Out of Space to Store Its Coffee)