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Bancos perdem milhões em empréstimos sobre matérias-primas que não existem

Apesar da magia da tecnologia de ponta nos mercados financeiros modernos, existe um recanto o mundo das "commodities" que ainda depende quase completamente do papel impresso – o que o torna um alvo fácil para os criminosos.

Reuters
08 de Julho de 2017 às 14:00
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Compradores e vendedores de metais de base, como o cobre, o alumínio e o níquel, utilizam documentos conhecidos como recibos de depósito para provar que todos os quilos envolvidos numa transação realmente existem e quem é dono deles. Os recibos, provenientes de uma longa lista de emissores que muitas vezes os selam com hologramas e códigos secretos, transformaram-se no pilar dos empréstimos bancários com garantia do metal.

 

Mas, como a maioria dos papéis, os recibos de depósito podem ser falsificados, e há indícios de que mais credores estão a ser roubados por criminosos que exploram as fraquezas no âmbito daquilo a que as empresas de "commodities" chamam de financiamento de transacções. Pela segunda vez desde 2014, alguns bancos estão a registar perdas de milhões de dólares após serem enganados ao fazer empréstimos com garantia de bens que não existiam.

 

"É um problema generalizado", diz John Barlow, sócio da Holman Fenwick Willan que assessora seguradoras de bancos relativamente a riscos como o financiamento de transacções. "Existe um risco inerente ao realizarem-se transacções comerciais dessa forma e os bancos têm que escolher entre aceitar esse risco ou reestruturar completamente a forma como o sector opera", declarou Barlow em entrevista por telefone a partir do Dubai.

 

Os riscos

 

Os empréstimos com garantia de que as "commodities" estão armazenadas num depósito, nalgum lugar, são um negócio quotidiano para os bancos envolvidos no financiamento de transacções, um sector no valor de quatro biliões de dólares que abrange de tudo, desde as matérias-primas e a logística até ao transporte marítimo.

 

Produtores e traders usam as transacções como forma rápida de obter dinheiro, comprometendo temporariamente os seus stocks. Mas, considerando o inventário global exposto, a ocorrência de fraudes neste contexto continua a ser relativamente rara.

 

No entanto, com os recibos de depósito é outra história, sendo estes um alvo predilecto de quem comete fraude sobre "commodities". O credor francês Natixis e o Australia & New Zealand Banking Group, com sede em Melbourne, Austrália, deparam-se actualmente com perdas sobre empréstimos depois de terem descoberto documentos falsos utilizados para certificar o níquel armazenado em depósitos asiáticos da Access World, uma subsidiária da Glencore.

 

Estas transacções envolveram 305 milhões de dólares para o ANZ e 32 milhões de dólares para o Natixis, segundo a documentação apresentada este ano em tribunal. Quando o ANZ quis vender o níquel, descobriu que 83 dos 84 recibos de depósito eram falsos.

 

As fraudes

 

Não é a primeira vez que há bancos ludibridados no âmbito de uma vasta fraude financeira nas matérias-primas. Em 2014, o Standard Chartered, o Citigroup e o Standard Bank Group divulgaram quase 648 milhões de dólares em fraudes com cobre, alumínio e alumina armazenados no porto chinês de Qingdao que tinham sido usados para aumentar o financiamento muitas vezes.

 

Desde então, os bancos e os armazéns de depósitos tomaram medidas para limitar as falsificações, mas o uso de documentação em papel faz com que o negócio continue a ter um risco inerente, sublinha Barlow.

 

"O risco sempre está presente e com o tempo o sector adaptou-se, adoptando procedimentos para controlar a fraude", explicou por e-mail Craig Glendinning, vice-presidente sénior da Marsh. "Contudo, agora estamos a assistir a um forte aumento da frequência e da gravidade das fraudes com documentos".

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