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Uma carteira cheia de Vícios

Os maus hábitos são imunes ao ambiente nas bolsas, defendemos gestores do único fundo que investe nos pecados da Humanidade.

15 de Setembro de 2010 às 11:41
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Qualquer que seja o sentido da economia e da bolsa, as pessoas continuarão a beber, a fumar, a jogar e a lutar. É esse o princípio que levou a sociedade gestora norte-americana Mutual Advisors a lançar, em Agosto de 2002, o Vice Fund. Este produto, único no mundo, surpreendeu o mercado por contrariar uma tendência global: o investimento socialmente responsável. Os gestores defendem uma posição completamente egoísta: se os investidores querem ganhar dinheiro, então não podem afastar as soluções mais pecaminosas dos seus portefólios.

O Vice Fund, que não pode ser adquirido através de instituições financeiras portuguesas, investe nas acções de companhias envolvidas nos negócios da defesa militar, dos jogos de azar, do tabaco e das bebidas alcoólicas. "Acreditamos que estas indústrias tendem a prosperar independentemente da economia como um todo. De facto, elas têm o potencial para ter um desempenho superior em períodos de incerteza, o que leva muitos a ver os investimentos nas indústrias do 'vício' como uma estratégia sólida durante tempos recessivos", explicam os documentos oficiais da gestora. Desde que o fundo foi lançado, o desempenho anual em dólares foi de 5,72 por cento, bastante mais do que a performance do principal índice accionista norte-americano, o Standard & Poor's 500, que foi de 3,55 por cento. O actual gestor, Jeff Middleswart, está ao leme do fundo desde Fevereiro. Antes, o Vice Fund era gerido por Dan Ahrens, autor do livro "Investing in Vice".

Bordel na bolsa corre mal

O Daily Planet foi cotado em 2003 mas, face às pressões, depressa mudou de negócio.

Desde 1995 que John Trimble, o fundador do Daily Planet, um bordel em Melbourne, na Austrália, dizia que queria ser o primeiro a listar um prostíbulo na bolsa. Embora tenha encontrado muita resistência (incluindo uma passagem pela prisão por evasão fiscal), conseguiu fazê-lo em Maio de 2003. O feito só ocorreu depois de Trimble separar o negócio do imóvel das operações de prostituição, ou seja, na verdade os dividendos dos accionistas tinham origem nas rendas pagas pela empresa que geria o bordel. O negócio do sexo em Melbourne, onde a prostituição é legal, enfrentou um revés quando a autoridade do sector impôs a proibição da venda de bebidas alcoólicas nos bordéis, de modo a garantir a segurança das prostitutas. Enfrentando um futuro menos risonho, John Trimble optou por sair da indústria da prostituição. Assim, o imóvel do bordel Daily Planet foi vendido e a sociedade mudou a designação para Planet Platinum. Todavia, o sexo continua a ser a máquina de vendas: a principal fonte de receitas é o clube de "strip-tease" Showgirls Bar 20, em Melbourne. As mudanças na empresa a que John Trimble preside têm gerado frutos para os accionistas. Desde que foi para a bolsa, a sociedade quase duplicou o seu valor de mercado. A maior parte da valorização ocorreu ao longo do último ano e meio, desde que Trimble anunciou um programa
de recompra de acções.

A Mutual Advisors não está sozinha a defender as firmas que pecam. Depois de vários anos de estudo, Marcin Kacperczyk e Harrison Hong, investigadores da Universidade de Nova Iorque e da Universidade de Princeton, respectivamente, concluíram que os investidores que afastam as firmas não éticas estão a contabilizar um custo financeiro. No artigo publicado no "Journal of Financial Economics" no ano passado, Kacperczyk e Hong defendem que "as acções do vício também têm rendibilidades esperadas mais elevadas que outras acções".

Pecados ricos em dividendos
Há dois problemas principais para quem quer investir nas indústrias do pecado. Um é conseguir dormir à noite depois de comprar acções de negócios pouco éticos. Se conseguir ultrapassar essa questão, tem outra para resolver: até que ponto uma empresa pode ser incluída no conjunto do "vícios"? "Será que se sentirá tão culpado que passará os dias na igreja preocupado por ter ganho uns dólares no investimento na Pfizer, a companhia que produz o Viagra?", pergunta Caroline Waxler, autora do livro "Stocking Up on Sin", que se debruça sobre os investimentos do pecado. Será que faz sentido o Vice Fund incluir na sua carteira, como já o fez no passado, a Microsoft, que produz as consolas de jogos Xbox?

O Negócios foi à procura de grandes empresas dos sectores do vício muito aplaudidas pelos analistas. A maior parte delas pagam dividendos avultados. É o caso do Altria Group, a maior tabaqueira do mundo, cujos dividendos distribuídos nos últimos 12 meses representam uma rendibilidade superior a 6 por cento face às cotações mais recentes. Os analistas também apreciam companhias com negócios militares, como a General Dynamics e a Boeing, e de bebidas alcoólicas, como a Anheuser-Busch InBev e a Diageo. As firmas de jogo ficam afastada das preferências, embora o Vice Fund inclua no seu portefólio sociedades como a Ladbrokes, que gere casas de apostas no Reino Unido.

Se investir nestas companhias, ganhar muito dinheiro e sentir-se culpado, a autora Caroline Waxler tem a solução: pegue nos seus lucros (ou, pelo menos, em parte) e faça uma doação à caridade. Ficará aliviado.

MAUS HÁBITOS RECOMENDADOS

As acções destas empresas de sectores pouco éticos são muito recomendadas pelos analistas da bolsa.

















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