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Acções da América Latina: uma história de dois mundos

Apesar de ocuparem uma zona extremamente vasta, os mercados accionistas da América Latina são uma história de (sobretudo) dois mundos - Brasil e México. No âmbito do Índice MSCI Latin America, o Brasil contabiliza 70% da capitalização de Mercado com o México a...

08 de Junho de 2010 às 09:27
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Apesar de ocuparem uma zona extremamente vasta, os mercados accionistas da América Latina são uma história de (sobretudo) dois mundos - Brasil e México. No âmbito do Índice MSCI Latin America, o Brasil contabiliza 70% da capitalização de Mercado com o México a representar mais 20% (os restantes membros são o Chile, Colômbia e Peru).

Embora agrupados conjuntamente em termos de nome e zona, os mercados do Brasil e México são influenciados por diferentes forças. O mercado do Brasil é dominado pelas grandes empresas nos sectores da energia e materiais: Petrobras para a energia, e Vale (anteriormente CVRD) nos materiais. Só estas duas empresas totalizam quase 40% do índice brasileiro. Ambas têm beneficiado fortemente do boom nas mercadorias induzido pela China ao longo dos últimos anos.

A procura da China fez subir os preços das mercadorias, beneficiando assim os produtores brasileiros independentemente dos locais para onde exportam, e o Brasil também expandiu as exportações de mercadorias que seguem directamente para a China. As exportações para a China cresceram exponencialmente de cerca de 100 milhões de dólares em 2000 para bem mais de dois mil milhões de dólares nos dias de hoje.

Mas a China é apenas parte da história do futuro da produção de mercadorias do Brasil. O maior potencial para o país permanece vasto, mas difícil de alcançar, e reside nos depósitos de petróleo descobertos na costa do país - contudo, constituirá um esforço de vários anos para os desenterrar.

Além dos sectores da energia e dos materiais, o Brasil beneficia de um sólido e dinâmico sector financeiro. Talvez graças à experiência obtida por inúmeras crises monetárias anteriores, os bancos deste país resistiram a esta crise do crédito de melhor forma que a maioria. As taxas de incumprimento do crédito ao consumo já caíram acentuadamente desde os picos de 2008 e os bancos tinham uma exposição mínima à dívida do subprime estrangeiro. Os resultados bancários também beneficiaram em particular das taxas de juro sobre o imobiliário invulgarmente elevadas, um legado da sua história inflacionária.

As forças que influenciam o índice mexicano são nitidamente diferentes. Desde a criação do Acordo de Comércio Livre da América do Norte (NAFTA) em 1993, o mercado accionista do país tornou-se parcialmente um auxiliar de elevado beta da América. Enquanto que a maioria dos mercados emergentes começou a sua recuperação em Outubro de 2008, o mercado accionista do México continuou a seguir o mercado dos EUA numa direcção descendente, apenas chegando ao pico mínimo a 9 de Março de 2009.

Subsequentemente, ganhou 90% em termos do peso, e ainda mais em termos de dólares (cerca de duas vezes mais o retorno do seu vizinho do norte, graças ao fortalecimento da moeda). O colapso do sector do mercado também é distinto do Brasil e sugere uma orientação de procura mais interna. Em vez de ser dominado pela energia e materiais, são os seus serviços de telecomunicações e bens de consumo básico que se destacam.

Tal como no Brasil, são poucas as grandes empresas que possuem uma ponderação desproporcionada, em particular a América Móvil, que por si só perfaz 31% do índice. Mas o aparente foco interno mascara uma independência indirecta dos Estados Unidos devido a remessas de dinheiro de trabalhadores mexicanos que lá trabalham. Estes são estimados pelo Banco Mundial como ascendendo a 28 mil milhões de dólares em 2008, sendo ultrapassados apenas pelo petróleo como uma fonte para a moeda estrangeira.

Questões num futuro próximo
Em Outubro deste ano vão realizar-se no Brasil as eleições gerais, mas não é provável que a política económica se altere drasticamente - o caminho prudente deverá ser mantido. Os principais riscos para os mercados accionistas são um maior declínio nos preços das mercadorias devido a uma sobre-compressão monetária energética na China, ou alternativamente, devido a uma retoma inesperada da inflação no Brasil que resulta em subidas acentuadas nas taxas de juro. Não consideramos nenhum destes cenários como provável.

O Brasil também está a sofrer daquilo que designamos a doença holandesa, nomeadamente, a apreciação da moeda enquanto os recursos naturais são explorados à custa do sector de fabrico. As exportações do Brasil (mercadorias à parte) não representam uma grande fatia do PIB, e, como tal, esta apreciação não deverá ter um impacto demasiado negativo na economia.

Por contraste, o México conseguiu manter uma taxa de câmbio competitiva, o que é muito mais importante tendo em conta as substanciais exportações do país para os EUA.

Implicações no investimento
A atractividade do mercado brasileiro nos picos da crise, quando os mercados accionistas emergentes atingiram os seus mínimos em Outubro de 2008, era que o mesmo tinha uma economia interna suficientemente grande para suportar o país, apesar do colapso comercial a nível mundial.

Esta capacidade de resistência pode ser observada no desempenho subsequente do índice de pequena capitalização do país, o qual quase triplicou em valor, comparativamente com uma "mera" quase duplicação para o índice principal. Acreditamos que o sector da pequena capitalização continua a oferecer perspectivas de retornos atractivos - não sendo dominado pelos sectores da energia e materiais ao mesmo nível que o índice principal.

O mercado superou o desempenho dos índices regionais do Mercado emergente MSCI (América Latina, EMEA e Ásia) desde que os mercados emergentes atingiram os seus mínimos em Outubro de 2008. Consequentemente, as valorizações para o índice estão bem acima das médias históricas em contraste com a maioria dos mercados emergentes e desenvolvidos. Talvez como resultado, os retornos para este ano caíram aquém dos retornos das outras regiões. Embora, ao longo do último mês, as estimativas de resultados para os próximos 12 meses tenham subido quase 5%, bem acima da subida de 1% para os mercados emergentes como um todo.

Sim, existem preocupações a curto prazo quanto às valorizações, e a longo prazo quanto à necessidade do governo resolver os problemas de corrupção, infra-estruturas inadequadas e educação. Mas acreditamos que o eterno "país do futuro" poderá finalmente começar a ver o seu amanhecer.


Director de vendas do JP Morgan Asset Management








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